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Campanha eleitoral fora do tempo

O ato de campanha eleitoral antecipada, travestido de jogo da solidariedade, articulado pelo senador Petecão, é uma demonstração de falta de vergonha de uns poucos políticos que ajudam a macular a imagem da política brasileira perante a opinião pública. O evento, realizado na quinta-feira, que contou com a presença de Romário, ex-atacante da seleção brasileira, Popó, ex-boxeador e outros não tinha a intenção de ajudar a população da Capital, duramente atingida pelo maior desastre natural de sua história.  Na verdade, esses poucos deputados vieram ao Acre reforçar a campanha do Petecão, Bocalom e sua turma.

Se a intenção desse grupo era buscar apoio à população da Capital, deveriam ter feito esse evento em Brasília, no estádio Mané Garrincha. Lá, a população do Distrito Federal teria a oportunidade de dar uma demonstração de solidariedade ao Acre, pagando um ingresso de R$ 10,00 ou levando 1 kg de alimento. Aí sim, esses recursos e alimentos poderiam reforçar o apoio à população acreana. Agora, cobrar do povo de Rio Branco, onde mais de 60% foi atingido direta ou indiretamente pela cheia do Rio Acre, não é ajuda, pois, debilita ainda mais os já quase exauridos recursos dessa população.

Mas se por alguma razão de ordem prática o jogo não pudesse ser feito em Brasília, o senador e os deputados que acompanharam as celebridades do esporte ao Acre poderiam fazer de outra forma. Era só juntar o volume de recursos que eles gastaram para vir ao Acre e mandar para a Defesa Civil Estadual, Municipal ou a uma das diversas igrejas que tem trabalhado no apoio às vítimas da enchente. Essa atitude poderia alocar mais recursos do que o ato promocional feito em Rio Branco. Isso se evidencia quando se faz os seguintes cálculos:

Os 20 parlamentares federais para vir ao Acre deixaram de trabalhar no Congresso Nacional por 2 dias, quarta e quinta-feira, e considerando que cada dia de trabalho de um parlamentar custa ao contribuinte brasileiro cerca de R$ 1.100,00, isso daria R$ 44 mil ; mais R$ 30 mil com passagens aéreas e considerando ainda que cada um dos nobres deputados podem ter gastado modestos R$ 500,00 com hospedagem e alimentação daria mais R$ 10 mil, totalizando exatos R$ 84 mil, muito mais do que o evento de autopromoção deve ter arrecadado. Era só ter feito uma cotinha em Brasília.

O fato é que o objetivo do evento não era ser solidário com o povo acreano coisíssima nenhuma. A verdadeira intenção era fazer um evento político para promover a oposição à Frente Popular do Acre e ao PT, à custa do sofrimento do povo acreano.  Esse ato nada mais foi do que um evento político promocional.

Lamentavelmente, essa desfaçatez contou com a cumplicidade de personalidades ilustres do esporte brasileiro, por ingenuidade, desinformação ou oportunismo. Acredito que o baixinho Romário e seus companheiros de futebol, se soubessem das reais intenções de Petecão, talvez não tivessem vindo ao Acre, pelo menos nessa ocasião. Já o ex-pugilista, Popó, que recebeu graciosamente um mandato parlamentar do povo baiano, permitindo-o superar o trauma de ter passado fome até os 23 anos, pelas declarações desrespeitosas que fez ao governador Tião Viana, estava consciente de que se tratava de um ato de campanha extemporânea para o grupo da oposição.

São ações como essa que desgastam a imagem da política, uma nobre atividade humana de construção da cidadania e da liberdade. Mas de um Petecão, que se elegeu tendo como única proposta a afirmação de que estava tudo bem e de que ele estava na moda, não poderíamos esperar outra atitude.

* Oly Duarte é bacharel em ciências políticas, acadêmico de direito da Uninorte e assessor de imprensa da Prefeitura de Rio Branco. bsbduarte@gmail.com

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