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Presidente da Acisa adota tese de evasão de renda e se arrisca ao protecionismo

O presidente da Associação Comercial, Industrial de Serviço e Agrícola do Acre, Jurilande Aragão, traz uma tese ousada para o debate econômico regional. Sendo coerente com o discurso de posse em março deste ano, quando prometeu trabalhar por “proteger o empresariado”, Aragão quer criar um mecanismo para diminuir a evasão de divisas no Acre.

Grandes lojas de departamentos são apontadas como fator de evasão de divisas por consultoria de Minas Gerais

Para isso, tenta convencer colegas empresários a custearem um estudo proposto por uma consultoria de Minas Gerais que aponta alguns caminhos. “Nós precisamos mudar essa realidade que está aqui”, reclama. “O dinheiro que vem para cá não fica aqui vai sempre embora”.

O presidente Aragão exemplifica para facilitar o entendimento. “Pagamentos de financiamentos, pagamentos em lotéricas, empresas não acreanas que se instalam aqui levam o dinheiro daqui”, assegura.

Quando alertado de que esse não seria um raciocínio protecionista e que o Acre precisa de mais empresas eficientes, o presidente rasga um discreto sorriso. “Eu não sou contra a vinda de empresas. Só estou querendo criar uma forma de fazer com que esse dinheiro circule mais tempo aqui”, defende-se. “O dinheiro sempre volta para Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro”.

Por enquanto, Jurilande Aragão está pregando no deserto. Ainda não encontrou adeptos que reforcem a tese. Já deixou uma cópia para ser apreciada pelo governador do Acre, Tião Viana, mas ainda não houve retorno.
O estudo classifica como “sorvedouro de renda do cidadão” serviços bancários, grandes cadeias de lojas, comércio eletrônico, vendas por catálogos, lotéricas, serviços de telefonia, energia elétrica, combustíveis, gás de cozinha, escolas de ensino à distância.

O intrigante é que no escopo do projeto apresentado pela consultoria mineira, no entanto, estão apresentadas algumas proposições que já foram ou são executadaspelo Governo do Acre ou pela Prefeitura de Rio Branco, as duas maiores estruturas do poder público local.

Destaque para o estímulo à comercialização dos produtos regionais com o programa Compras Governamentais; apoio à formação empreendedora; melhoria na oferta de crédito; uso de moedas so-ciais; ações de inclusão econômica como inserções em programas sociais, comércio justo ou economia solidária.

Capital x Capital

Jurilande Aragão defende a criação de um mecanismo que obrigue dinheiro a circular mais tempo no Estado

Os teóricos da Economia com linha de pensamento marxista rezam pelo credo ainda sólido de que “capital atrai capital”. É um fluxo natural das divisas. Na lógica do mercado, portanto, está excluída a expressão “capital solidário” ou qualquer coisa do gênero.

De fato, o que faz do Acre um Estado pouco atrativo não é mais a geografia (a longo prazo, a Estrada do Pacífico sugere um novo cenário). Alguns fatores podem ser destacados sobre o que dificulta a circulação e geração de riqueza.

São eles: inexistência de uma cultura empreendedora; infraestrutura rodoviária e aeroportuária deficiente, caótica ou inexistente; baixa qualificação da mão de obra; baixa escolaridade da população; baixa poupança; baixo capital instalado das empresas e consequente incapacidade de investimento.

A intenção do presidente da Acisa/Acre tem justificativa. Resta saber qual o tom da retórica que será usada para tentar expor o tema para não afugentar as poucas empresas “estrangeiras” instaladas aqui.


Design arrojado é presença obrigatória na mais prestigiada feira de móveis do mundo

 

Governador Tião Viana chefia missão acreana com empresários e agentes públicos

Missão acreana participa do Salão do Móvel de Milão

ITAAN ARRUDA

Uma missão composta por 25 agentes públicos e empresários do setor moveleiro acreano participa do Salão Internacional do Móvel de Milão. Trata-se do mais importante e mais prestigiado evento da atualidade para quem trabalha com mobiliário.

O grupo será chefiado pelo governador do Acre, Tião Via-na. A feira tem início no dia 17 e termina no dia 22 de abril. Mas, o grupo acreano embarca no dia 12 com retorno previsto para o dia 27.
O objetivo da viagem é apresentar as técnicas mais sofisticadas do mobiliário em madeira e tentar replicar na produção de móveis local. O grupo de empresários foi articulado e organizado pela Federação das Indústrias do Acre.

E o Acre vai ter um espaço na feira com apresentação do que é produzido aqui utilizando madeiras nobres e sementes que agregam valor no refinado mercado europeu.

Por enquanto, as informações sobre o assunto são tratadas com certa reserva por parte do governo. Não se sabe quantas peças farão parte do stand acreano.


 OPINIÃO

Embrapa: 35 anos de pesquisa e inovação no Acre

“Agora o desafio é promover o avanço da Ciência e viabilizar inovações tecnológicas para mitigação dos impactos ambientais das atividades agropecuárias e florestais”

Nos últimos 35 anos  ocorreram mudanças radicais na percepção da sociedade em relação aos processos de desenvolvimento econômico, bem-estar social, uso e conservação dos recursos naturais na Amazônia. Na década de 1970, essa região era vista como um vazio demográfico que oferecia riscos à segurança nacional e limitação ao crescimento do país. O Governo Federal investiu em políticas para ocupação e integração da Amazônia ao restante do território brasileiro. Nessa época, o Acre era apontado como o estado com a maior proporção de terras de alta fertilidade e aptidão para a agricultura do Brasil, atraindo grande número de investidores das regiões Sul e Sudeste.

Hoje, a sociedade tem entre suas principais preocupações a busca por alternativas sustentáveis que garantam trabalho, renda e qualidade de vida para as populações. Essas mudanças de percepção resultaram em nova visão em relação à Amazônia. Na primeira década do século 21, os recursos naturais e a vasta diversidade cultural da Amazônia representam ativos capazes de oportunizar ao Brasil um modelo de desenvolvimento que permita conciliar benefícios econômicos, sociais e a provisão de serviços ambientais para a sociedade do presente e do futuro.

A Embrapa Acre também passou por profundas transformações. Implantada em 1976 como Unidade de Pesquisa de Âmbito Estadual de Rio Branco (Uepae de Rio Branco), sua trajetória fez do compromisso com o desenvolvimento sustentável do estado o principal pilar para a sua atuação. O Acre se caracterizava pela produção de base extrativista (borracha e castanha-do-brasil) e importação de quase tudo que consumia. Cerca de 60% da carne bovina era trazida da Bolívia e de outras regiões do país, o que encarecia o produto e restringia o seu acesso pelas populações de menor renda.

Entre 1972 e 1974, foi registrado declínio da produção brasileira de borracha, de 22 mil para 18 mil toneladas. Para atender a demanda do mercado interno, seria necessário o plantio de 200 mil hectares de seringais de cultivo. Em 1976, os noticiários locais divulgavam a decisão do governo do Acre de plantar 1 milhão de hectares de café. 

Nesse contexto, a Embrapa nasce com a missão de desenvolver tecnologias para implantação de sistemas de produção agrícola e pecuá-rios, em áreas recém-desmatadas, visando aumentar a produção de alimentos e abastecer o mercado local. No início, as pesquisas tinham como enfoque principal o desenvolvimento de tecnologias para as culturas do arroz, feijão, mandioca, milho, seringueira, café e atividades pecuárias (bovinos de corte e leite, caprino, ovino e bubalino).

Em um ambiente de planejamento centralizado na esfera federal, surgem os primeiros projetos de pesquisa com a cultura da seringueira, articulados com o Programa de Incentivo à Produção de Borracha Vegetal (Probor II), e com café, coordenados pelo Instituto Brasileiro do Café (IBC), para definição de coeficientes técnicos necessários ao financiamento dos plantios no estado, pelo Governo Federal.

Com a redemocratização do país e descentralização do processo de gestão pública para estados e municípios, a partir de 1990, a Embrapa precisou realinhar o seu modelo de pesquisa. A transformação da Uepae de Rio Branco em Centro de Pesquisa Agroflorestal do Acre trouxe novos desafios: o desenvolvimento de soluções tecnológicas para a produção sustentável e a geração de benefícios econômicos e sociais por meio do manejo dos recursos naturais do bioma Amazônia, tanto em áreas de floresta como em locais desmatados.

Para assegurar um processo simultâneo de desenvolvimento e validação das tecnologias, a Embrapa priorizou ações em parceria com instituições públicas, privadas e não governamentais (nacionais e internacionais). Outra estratégia que tem contribuído para o êxito das suas ações é a pesquisa participativa com os diferentes grupos de produtores rurais (colonos, extrativistas, ribeirinhos, médios e grandes empreendedores).

Em 35 anos de existência, a Embrapa Acre contabiliza inúmeras vitórias na caminhada rumo ao desenvolvimento tecnológico do estado. Entre os principais impactos da adoção das tecnologias desenvolvidas pela Empresa nessas mais de três décadas destaca-se o aumento de 134% na taxa de lotação das pastagens, de 0,76 UA (unidade animal) por hectare, em 1976, para 1,78 UA, em 2006. Essas tecnologias evitaram o desmatamento de 1,4 milhão de hectares de floresta para o estabelecimento de pastagens. Isso foi possível, graças ao desenvolvimento e disseminação de cultivares de gramíneas e leguminosas forrageiras adaptadas às condições ambientais e à adoção de práticas de recuperação, melhoramento e manejo das pastagens, recomendadas pela pesquisa. Em 2010, o uso da leguminosa amendoim forrageiro em 134 mil hectares de pastagens consorciadas gerou benefícios econômicos de 48,7 milhões de reais.

O Modelo Digital de Exploração Florestal (Modeflora) já foi aplicado em 57 mil hectares de floresta, resultando em benefícios econômicos anuais de 6,9 milhões de reais para o setor florestal. No contexto extrativista, a adoção das Boas Práticas de manejo melhorou a qualidade e agregou valor à castanha-do-brasil, beneficiando milhares de famílias. Na agricultura, a disseminação de cultivares de banana resistentes à sigatoka-negra, além de cultivares de abacaxi, laranja, limão e mandioca, adaptadas às condições ambientais locais, contribuem para garantir segurança alimentar e renda aos produtores familiares do Acre.

As tecnologias da Embrapa ajudaram a mudar a realidade do estado, que saiu da condição de importador para exportador de carnes e outros produtos, embora ainda dependa da importação de uma vasta lista de produtos agropecuários e florestais. Dados da Secretaria de Estado da Fazenda revelam que em 2010 a carteira de exportações acreana registrou a saída de mercadorias no valor de 540 milhões de reais. O segmento pecuário exportou 87 mil toneladas de carne bovina, 1,6 milhão de litros de leite in natura (embora importe grande quantidade de leite longa vida e derivados), mais de 51 mil animais vivos, 13 mil toneladas de couro, 278 toneladas de frango abatido e 40 mil litros de biodiesel. A agricultura exportou mais de 7,5 mil toneladas de farinha de mandioca e 150 toneladas de banana. O setor florestal registrou a venda para o mercado externo de 800 toneladas de açaí, 450 toneladas de borracha, 25,5 milhões de preservativos e mais de 550 metros cúbicos de laminados e pisos de madeira.

No século 21, um novo capítulo se inicia na trajetória da Embrapa Acre. Agora o desafio é promover o avanço da Ciência e viabilizar inovações tecnológicas para mitigação dos impactos ambientais das atividades agropecuárias e florestais e a adaptação dos sistemas de produção às mudanças climáticas, como forma de garantir a sustentabilidade ambiental e a existência desta e de futuras gerações.

Engenheiro-agrônomo, doutor em Forragicultura,pesquisador e chefe-geral da Embrapa Acre.

judson@cpafac.embrapa.br


Instituições se juntam para minimizar efeitos da alagação

 ITAAN ARRUDA

Associação Comercial, Industrial de Serviço e Agrícola do Estado do Acre, Sebrae, Banco do Brasil têm encontrado dificuldades de convencer o empresariado local a aderir ao BNDES PER.

Trata-se do Programa BNDES Emergencial de Reconstrução de Municípios Afetados por Desastres Naturais. O programa tem dotação orçamentária de R$ 800 milhões e atende às micro, pequenas, médias empresas e agricultores atingidos por desastres naturais desde janeiro do ano passado.

“Poucos empresários apresentaram projetos”, lamenta o presidente da Associação Comercial, Industrial de Serviço e Agrícola do Estado do Acre, Jurilande Aragão. “O governador Tião Viana fez articulações pessoalmente no BNDES para que se aumentasse a circulação de dinheiro nessa época difícil e, não se sabe bem o porque, isso não tem sido atrativo”.

O BNDES PER mantém uma linha de financiamento com as taxas de juros mais generosas praticadas no mercado: 5,5% ao ano. Não há taxa semelhante sendo oferecida por bancos. “Precisamos aproveitar esse momento”, alerta Aragão.

O Sebrae disponibilizou uma equipe técnica para formular projetos específicos para o empresário que quiser aderir ao BNDES PER.

Com dois anos de carência, o financiamento máximo possível é de R$ 500 mil. No Acre, o programa vai atender às empresas das cidades de Rio Branco e Brasileia.

Pouco mais de cem empresários procuraram adesão ao programa. É um número baixo. Não é obrigatório que o empresário tenha sido atingido pela alagação. A lógica do BNDES é fazer com que o dinheiro circule na região.


 Agência de turismo oferece opções para valorizar história local

VICTOR AUGUSTO

Marques: experiência com turismo agora no setor privado

Impulsionadas pelos investimentos do Governo do Estado no Turismo Regional, por meio dos trabalhos desenvolvidos pela Secretaria Estadual de Turismo, as agências de turismo e viagens da Capital vêm aperfeiçoando roteiros, com objetivo de fomentar a integração entre estados da Amazônia Legal e entre Brasil e Peru. Entre elas, destaca-se a EME Amazônia Turismo, pelo vasto leque de oportunidades e ofertas que oferece para quem gosta da adrenalina ou um simples, agradável e inesquecível passeio pelas águas do Rio Acre.

A EME atua nos segmentos de Ecoturismo, Turismo de Aventura e Etnoturismo Vivencial e desenvolve e comercializa produtos receptivos no Acre e na rota turística internacional Amazônia Andes Pacífico, envolvendo estados da região Norte e dos vizinhos Bolívia e Peru.
Com uma nova roupagem, a agência já atua no mercado há dez anos. O sócio proprietário é o ex-secretário estadual de turismo Cassiano Marques.

“Nossa empresa surgiu com o objetivo de possibilitar que as pessoas conheçam o próprio local onde moram, as regiões vizinhas e, claro, que os turistas possam conhecer melhor o Acre. Oferecemos um oceano de possibilidades, nos mais diferentes segmentos e estilos do público”, destacou Cassiano.

Marques convidou alguns jornalistas e outros divulgadores para um passeio no Rio Acre, para mostrar um pouco dos seus produtos. Pessoas que já moram no Acre há tempos ficaram fascinadas com a acessibilidade e impressionadas pelo fato de já viverem no Estado e não conhecerem a própria terra onde moram.

“Já vivo no Acre há mais de vinte anos e nunca tinha feito um passeio pelo Rio Acre, o que costumava fazer em Porto Velho quando criança. A EME me mostrou que é possível realizar as coisas mais simples e a valores bem acessíveis” afirmou a jornalista, Golby Pullig.

Quem deseja conhecer a cidade e a história do Estado pode contar com um citytour. Quer relaxar após um dia de muita correria no trabalho? Pode desfrutar do Rio Branco By Night.

“Estamos trazendo para o Acre também um produto muito comum para fora, como o balonismo. Essa prática já é muito procurada pelo público local”, afirmou Cassiano.

Quem quiser conhecer um pouco mais sobre os pacotes e produtos da EME pode ir até a sede da agência, no Novo Mercado Velho, Centro de Rio Branco, ou agendar um encontro pelo telefone 3224- 8430. Mais informações também no site www.eme amazonia.com.br.


 Zé Pintado: “aqui, eu só produzo leite. E tem dado certo, uai”

ITAAN ARRUDA

A equipe do Acre Economia foi conhecer o trabalho de uma família de produtores que demonstra ser possível dar escala com sustentabilidade. Mas, alguns gargalos precisam ser resolvidos urgentemente: criar uma política de preços; instalar laticínios que exijam demanda; investir na melhoria genética do plantel e no manejodo pasto. Missões ainda não executadas nem pela política pública e nem pelo setor privado.

Zé Pintado: compra de matrizes para melhorar rebanho e possibilidade de venda do sêmen para produtores da região

Em Acrelândia, no quilômetro 7 do ramal Redenção II, trabalha a família de José Pereira da Silva, mais conhecido como Zé Pintado. Estranhamente, esse capixaba de 54 anos tem uma fala típica do interior de Minas Gerais. O sotaque é bem carregado, o que confere certa harmonia ao que ele se dedicou a fazer nos últimos 19 anos. “Aqui, eu só produzo leite”, orgulha-se. “E tem dado certo, uai”.

Zé Pintado tem tido lucro com a produção de leite. Vive na propriedade de 252 hectares com a esposa, três filhos, noras e três netos. A produção diária,que varia de 470 a 600 litros, chegou a surpreender. “Já teve dia de fazer 800 litros aqui”, assegurou.

Mas, a lucratividade deste produtor não é garantida no Acre. Com apoio do próprio Governo do Estado, Zé Pintado faz parte de um grupo de produtores que comercializa leite com a Italac, indústria de beneficiamento de leite de Rondônia.

“Eu não sou entusiasta desse formato de comercialização, mas foi uma saída encontrada para garantir renda a vários produtores, já que ainda não existe aqui no Acre um grande laticínio que absorva essa produção”, pontuou o secretário de Estado de Agropecuária, Mauro Ribeiro.

O Governo do Acre busca atrair uma empresa grande do setor, mas ainda não conquistou a confiança do empresariado. O Grupo Sheffa, de São Paulo, já desistiu. Um dos só-cios da rondoniense Tradição prometeu avaliar. A holding peruana Gloria também ainda não se definiu. “No dia em que aqui no Acre tiver um laticínio que compre nossa produção, é claro que eu vou priorizar vender pra cá”, prometeu Zé Pintado.

Por que Zé Pintado é exceção?

José Pereira da Silva, o Zé Pintado, tem espírito empreendedor. Isso fica claro logo no início da conversa. Enquanto a família executa a extração do leite, ele administra a fazenda como uma empresa. Tudo é contabilizado.

Outro fator importante: a busca de assistência técnica. Embrapa, Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e Secretaria de Estado de Agropecuária (Seap) são parceiros constantes.

“Já falei com a Embrapa para me orientar este ano que eu vou querer ampliar de 11 para 30 piquetes porque eu preciso melhorar o rodízio do meu gado”, afirmou. “Tem gente que reclama que tem pouca terra para produzir. Não precisa ter muita terra. O que a gente precisa é ter mais controle”.

Quando perguntado do porque não investir em gado de corte, Zé Pintado, a resposta é imediata. “Se eu tivesse gado branco, meus filhos teriam que ir buscar trabalho na cidade”, diz. “Com o leite, não. Fica tudo aqui”.

Superação: produção diária varia de 470 a 600 litros

Faeac define comercialização do leite como “ciclo vicioso”

Veronez: políticas de apoio como garantia de preço e escoamento da produção são deficientes

A produção de leite no Acre vive uma síndrome de esquizofrenia. Pode ser resumida assim: o governo e os produtores juram que têm condições de atender à demanda de um grande laticínio e os empresários fingem que acreditam, mas não põem a mão no bolso. O plantel com baixa qualidade genética e o pasto sem manejo adequado completam o cenário responsável pela produção incipiente de 86 mil litros diários na região mais populosa do Estado, a do Vale do Acre.

“O controle sanitário inadequado e extensão rural de baixa qualidade e abrangência são fatores que limitam a expansão da atividade”, define o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Acre, AssueroVeronez.

“De outro lado, as políticas de apoio como garantia de preço e escoamento da produção são também deficientes. Como consequência, temos baixa produção que acaba por inviabilizar a atração de investimentos, especialmente na construção de um grande laticínio. Não tendo laticínio para absorver grande produção, também não se investe em rebanho, tecnologias. Esse é um ciclo vicioso que se mantém ao longo do tempo”, completa Veronez.

Os números comprovam a análise de Veronez. Com apenas 11 laticínios de porte pequeno, o Acre não dispõem de capital instalado para mudar o cenário. Ou se instala urgentemente uma indústria de maior porte aqui ou a expectativa é de estagnação com tendência negativa.

Os agentes de governo e secretários de Estado rechaçam qualquer comparação com Rondônia. Mas, só para que o leitor tenha uma dimensão dos diferentes cenários, vale a pena ver o quadro apresentado com dados do IBGE(ver quadro).

É bom atentar para a quarta linha (Produtividade). Percebe-se que, mesmo a incipiente produção acreana tem uma produtividade (litros por vaca) equiparada à gigante produção rondoniense.

Rondônia: mercado saturado

Os dados apresentados pelo IBGE também expõem outra sutileza: a saturação do mercado rondoniense. “Essa tabela mostra claramente que o Acre está muito mais interessante para uma indústria do que Rondônia”, explica o chefe-geral da Embrapa Judson Valentim. “Aqui tem um mercado pronto para ser explorado e com boa demanda”.

Gargalos tecnológicos*
1) Deficiência quantitativa e qualitativa do suprimento alimentar do rebanho;
2) Manejo sanitário e nutricional deficiente;
3) Deficiência da infraestrutura da propriedade;
4) Genética inadequada

*Análise da Embrapa

Embrapa: tecnologia diminui custo do leite e aumenta a rentabilidade

Os dados da Embrapa deixam pouca margem para dúvida. A pecuária leiteira diminui os custos de produção quando agrega tecnologia ao processo de benefi-ciamento. “Produzir da maneira tradicional torna praticamente inviável a comercialização do leite”, afirma o chefe-geral da Embrapa, Judson Valentim.

Embrapa: 35 anos de pesquisa e inovação no Acre
Categories: Acre Economia
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