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Governo boliviano dá ultimato para a saída de acreanos na fronteira

Os militares bolivianos deram um ultimato para a saída de ‘brasivianos’ na fronteira com o Acre, no dia 25 de maio. A informação era dada pelos soldados ao chegar nas comunidades extrativistas na região de Capixaba. A operação dos militares veio acompanhada de uma série de ações truculentas por parte do exército da Bolívia, que pegou de surpresa autoridades brasileiras.
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O Governo do Acre não trabalha com a data informada pelos militares aos seringueiros. Por acordos diplomáticos, já tinha sido combinado que o prazo limite para a saída das famílias era 31 de dezembro deste ano. Essa é a referência dos governos acreano e brasileiro.

Além disso, pelas relações diplomáticas realizadas, qualquer ação militar que envolva os exércitos dos 2 países deve ser comunicada. Nem o Exército brasileiro, nem o Itamaraty e nem o Governo do Acre foram informados da ‘operação’.

Abate de animais, confisco de castanhas extraídas e até queima de casas de farinha mudaram a rotina dos seringueiros e agricultores acreanos que vivem irregularmente do outro lado da fronteira.

O Governo do Acre agiu rápido. Tão logo foi informado do problema, acionou o Itamaraty, o gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República e o Exército. Pelo twitter, o governador Tião Via-na confirmou a situação. “Atitudes graves do exército da Bolívia na cidade de Capixaba, com armas e hostilidade”.

Ainda não se sabe ao certo o que motivou a mudança da postura do governo boliviano em relação à retirada das famílias acreanas da região. “A decisão soberana da Bolívia deve ser respeitada, mas isso deve ser feito seguindo crité-rios de respeito mútuo”, reivindicou o secretário de Justiça e Direitos Humanos do Governo do Acre, Nílson Mourão, que esteve na região dos conflitos no início da tarde de ontem.

O trabalho de retirada dos ‘brasivianos’ da Bolívia já tem sido feito desde o ano passado. O Incra acompanha o processo e calcula que cerca de 500 famílias devem voltar para o Brasil. Cerca de 150 já foram reassentadas na região do Vale do Acre.

Há relatos de que militares bolivianos chegaram a abastecer os veículos em postos de combustível de Capixaba, cidade acreana na fronteira com a Bolívia. Soldados brasileiros já se instalaram em regiões estratégicas para evitar nova entrada de militares da Bolívia.

O ministro da Embaixada do Brasil em La Paz, Eduardo Paes Saboya, voltou ainda ontem para a capital boliviana com o compromisso de relatar a situação ao Itamaraty e para as autoridades da Bolívia. Um relatório deve ser feito pela embaixada em La Paz, exigindo explicações sobre o que motivou a operação militar sem aviso prévio e com a tamanha truculência.

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Família tem casa de farinha queimada por exército boliviano
Na região do Rio Chapamano e do Rio Xiramano, o extrativista Fernando Rodrigues Calado e a esposa Delzineide de Assis da Silva viveram momentos de tensão. A casa de farinha onde beneficiavam a mandioca foi queimada pelos soldados bolivianos.

“Queriam me responsabilizar pelo incêndio, mas como eu vou queimar algo que é meu?”, pergunta o jovem extrativista de 24 anos, 12 deles morando no Seringal Fortaleza, na Bolívia.

“Sabemos que estamos em terras alheias, mas há uma forma decente de tirar as famílias daqui”, indignou-se Francisco Calado, irmão de Fernando. Junto com mais 10 famílias, os irmão armazenaram parte da extração de castanha para vender.

São cerca de 18 toneladas do produto. “Eles vão pegar tudo”, reclama Fernando Calado. As 100 cabeças de gado da família também pode ser confiscadas. Os irmãos vão tentar retirar o gado hoje e amanhã. “Eles nos deram um prazo de 15 dias e disseram que se a gente não saísse, tirariam à bala”.

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