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No Amazonas, índios caceteiros matam três adultos e raptam duas crianças

Três indígenas da etnia kanamari, sendo dois homens e uma mulher, foram mortos a golpes de bordunas pelos korubo, também conhecidos como “índios caceteiros”, que raptaram duas crianças da mesma etnia na Terra Indígena Vale do Javari, na região do município de Atalaia do Norte, a mais de 1.500 quilômetros de Manaus (AM).

O massacre, conforme relatou com exclusividade ao Blog da Amazônia uma fonte da Fundação Nacional do Índio (Funai), ocorreu entre a quarta-feira e a quinta da semana passada, no Rio Coruene, afluente do Rio Itaquaí, que, por sua vez, é afluente do Rio Javari, a sudoeste do Estado do Amazonas, que abrange a fronteira do Brasil com o Peru.

– Apenas uma mulher kanamari escapou desse massacre, porque teve tempo de se lançar no rio, mesmo assim ainda levou uma cacetada voadora antes de cair na água. Os korubo manejam muito bem suas bordunas. São capazes de arremessá-las com precisão contra qualquer alvo – relatou a fonte da Funai.
O massacre foi confirmado nesta quarta-feira (18) pelo sertanista Carlos Travassos, coordenador de Índios Isolados e Recente Contato (CGIIRC) da Funai, em Brasília.
– Recebemos o mesmo relato, transmitido via radiofonia, e estamos agindo com bastante cautela. Estamos esperando pelo relatório do pessoal da Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari – disse Travassos.

Um antropólogo e um sertanista consultados pelo Blog da Amazônia alertaram que a morte de três adultos e o rapto de duas crianças podem levar os kanamari, povo há muito tempo contatado e que manuseia armas de fogo, a se organizarem para retaliar os korubo.

É a primeira vez que se relata que os korubo tenham matado indígenas na região. Quando se deslocam, os kanamari passam pela área onde vivem os os korubo. Os kanamari vinham estabelecendo contatos com os korubo, o que incluia a oferta de presentes.

– Numa situação como essa, os índios não fazem planejamento estratégico nem contratam gestor de crise. Eles decidem se vingar, cada um pega um bocado de farinha, se embrenham na mata e partem para vingar os parentes – comentou o sertanista.

Os korubo habitam a região de confluência dos rios Ituí e Itaquaí, no vale do Javari. Mais de 200 pessoas dessa população ainda vive isolada, movimentando-se entre os rios Ituí, Coari e Branco.

Em 1996, após várias tentativas, o sertanista Sydney Possuelo Funai contatou um pequeno grupo de índios Korubo, que começaram a realizar visitas sucessivas às aldeias dos índios matis e aos acampamentos Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari. Uma expedição anterior, realizada 10 anos antes, fora massacrada pelos korubo.

O encontro de funcionários da Funai com os “índios caceteiros” ocorreu sem incidentes nos primeiros dias, mas um membro da expedição foi morto a golpes de borduna pelos korubo, na beira do rio Itaquaí.

Além dos korubo e de outros grupos isolados, na Terra Indígena Vale do Javari existem sete etnias – kanamari, kulina pano, kulina arawá, marubo, matis, matsés (mayoruna) e um pequeno grupo chamado tsohom djapá – que estabelecem diferentes relações de contato com a sociedade nacional.

De acordo com a publicação “Povos Índígenas no Brasil”, da ONG Instituto Sociambiental, a região formada pela Terra Indígena Javari e pelas áreas banhadas pelos rios Manu e Purus, no Peru, é o lugar onde há o maior número de índios isolados do mundo.

No Brasil, há 82 referências de grupos indígenas não-contatados, das quais 32 foram confirmadas. No lado do Peru, existem quatro reservas territoriais reconhecidas e três propostas aguardando o reconhecimento por parte do Estado peruano.

A Funai atua na proteção e identificação de índios isolados por meio da sua CGIIRC e de 12 Frentes de Proteção Etnoambiental, localizadas nos estados do Mato Grosso (2), Maranhão (1), Pará (2), Amazonas (3), Acre (1), Rondônia (2), e Roraima (1). (Ariquemes On Line)

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