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“Brasil Carinhoso!”

Neste segundo domingo de maio denominado de “dia das mães” a senhora presidente Dilma Rousseff falou à gente brasileira, entre outras coisas, sobre o “Brasil Carinhoso”. Trata-se de um programa que pretende reduzir a pobreza extrema em até 40%. Tirar da miséria as famílias que possuam crianças de até seis anos e renda inferior a R$ 70,00.

Com todo o respeito que a medida possa merecer, não consigo ver neste programa nada além do que um novo rótulo, uma nova embalagem, num mesmo conteúdo: “Fome Zero”. Até o destino do programa, em potencial, é o mesmo: o semiárido nordestino com seus milhões de pessoas, notadamente agora com essa terrível estiagem, vivendo em completa penúria.

A medida não é, nem de longe, saneadora da miséria. No entanto, é um remédio paliativo com o objetivo de escapar ou driblar a pobreza, uma vez que como pode uma família que  pertença às fileiras da pobreza ordinária, não tendo o bastante para os confortos triviais, possa ao menos desfrutar duma vida simples e feliz com ganhos de apenas R$ 70,00?  Nesse caso, a ajuda simboliza uma gota d’água num vasto deserto. Serve para animar um povo  que vive num contexto de privação material e exclusão social.

 Não vou, nesta opinião simplória, cair na vala comum de repetir aquele velho jargão: “os ricos continuam mais ricos e os pobres mais miseráveis”. Ou dizer que o subdesenvolvimento de algumas famílias pobres, não passa do desenvolvimento de outras famílias ricas, assim como o subdesenvolvimento de países pobre, notadamente do Terceiro Mundo, é nada além do que subproduto de países desenvolvidos e, por dilatação, ricos. Afinal, essas são teses “furtadista”, isto é, oriundas do pensamento  econômico de Celso Furtado, nos idos anos 50.

Sabe-se, todavia, que há uma tremenda desigualdade regional. É público e notório que o problema do Brasil são as disparidades regionais. Somos campeões em desigualdades regionais. Por exemplo: estive, no passado mês de abril, em Sinop, cidade do Norte do Mato Grosso que se fosse um país, teria um IDH igual à Holanda, a renda percapita da Romênia, o PIB da Turquia e uma economia similar a da Finlândia. Mas, não é Sinop, nesta região que possui excelente padrão de vida; Lucas do Rio Verde, com 40 mil habitantes, é outro exemplo de vida prospera.

Sem querer contrariar a Sinha-sique, que escreve aqui ao lado, não  podemos deixar de pensar e comparar Sinop, uma exceção da realidade brasileira, é verdade, com as cidades do Acre que, a partir de Rio Branco, estão em estado deplorável sob todos os aspectos.

Sei também, a exemplo de qualquer menino estudante do ensino médio, que o subdesenvolvimento (a pobreza) já não é visto como sendo o resultado único e exclusivo do atraso econômico, cultural, social e político. Sabemos, também, que o desenvolvimento de nosso país, somente será levado a efeito através de uma política austera, que por ser rígida, não passa pela subserviência, mas, rompe com estruturas injustas e corruptas. Nesse item, por tudo que atualmente temos visto, especialmente no campo da transparência da coisa pública, parece que estamos a caminho. Assim, das teses embasadas em fatos históricos, sobra à ilação de que enquanto houver desigualdades, principalmente no mercado de trabalho, será mais difícil para homens e mulheres escapar da pobreza.

Essa desigualdade tem a cumplicidade de muitos governantes estaduais e municipais. Governantes que só nos enxerga como idiotas úteis, notadamente em épocas de eleição. Governantes, cuja maioria, não consegue, sequer, cumprir metas de saneamento básico. Um grande exemplo de descaso, nestas plagas, por parte dos nossos governantes é p.ex. o terminal rodoviário de Porto Velho. Eu teria vergonha de me dizer prefeito de uma cidade com uma “rodoviária” em estado tão sofrível. Outra coisa: Não menos sofríveis são as condições dos ônibus, duma famosa empresa de transporte coletivos interestadual, que faz o trajeto Porto Velho a Rio Branco e vice-versa. Por melhor que me esforce, não encontro adjetivos para dizer com clareza a situação da maioria desses ônibus. Só vivendo na pele para crer!

Ao atravessar o Rio Madeira na madrugada do dia 25 de abril, naquela velha balsa, cogitei sobre os motivos ou “forças ocultas” que impediram Jorge Viana e Ivo Cassol, os dois políticos mais influentes dos Estados de Rondônia e Acre, de fazer como governadores, em 8 anos de mandato, a ponte sobre o citado rio. Visto que, tudo neste país, depende de vontade política. Agora, numa linguagem popular, mais poderosos, pois que senadores da República, ambos tem nova oportunidade de  concretizar a construção da ponte.

Outra coisa, que merece ser dita: estamos longe do desenvolvimento, que os filhos dessa nação necessitam e merecem. O Brasil, pelas suas mazelas internas, não tem à flor da pele, aparência de potencia economia mundial, coisa nenhuma; os estudiosos em ciência econômica sabem que estamos dando os primeiros passos rumo à emancipação da pobreza incondicional. Em 2050, diz o IBGE, o nosso contingente populacional poderá alcançar os 259 milhões de habitantes. Até lá teremos de pensar nossos irmãos em situação de miséria, com soluções que não se resumam em planos assistenciais.

* E-mail: assisprof@yahoo. com.br

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