X

A Economia do Acre, segundo o Palácio Rio Branco

A palavra é um instrumento usado sem muito refino pelo governador Tião Viana. Mas, isso, longe de ser um problema, é um trunfo. A comunicação é simples. Direta. Não há quem não entenda. O raciocínio, recheado de números, reforça o que já vem sendo executado pelas políticas públicas nos últimos 13 anos.

Em uma hora de conversa, o governador não se negou a falar sobre nenhum tema. Os assuntos mais espinhosos do momento foram objetos de análise: viagem a Milão, problemas na cadeia produtiva do leite, concentração de renda, revisão da cobrança de ICMS na tarifa de energia elétrica.

“Irresponsáveis”; “medíocres”; “descompromissados com o interesse público” são algumas expressões utilizadas por Tião Viana a quem se desalinha com o projeto de industrialização executado em sua gestão. Leia os principais trechos da entrevista.

ACRE ECONOMIA – Em 2010, o Supremo Tribunal Federal definiu que a forma como estava sendo feito o repasse do Fundo de Participação dos Estados era inconstitucional. Calcula-se que as regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste abocanhem cerca de 85% do FPE, o que, naturalmente, causa um problema de ordem política com as regiões de economia mais forte. O STF estabeleceu prazo de três anos para que uma nova forma de repasse fosse criada. O Pacto Federativo como está, de fato, reduz a capacidade de investimento dos Estados?
TIÃO VIANA – Se não houver uma mobilização dos estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, as consequên-cias serão trágicas para esses estados porque eles têm dependências do Fundo de Participação. O risco é real e nós temos que agir. As bancadas dos estados no Senado Federal, vinculados à necessidade de cumprir o que determina o Supremo Tribunal, têm forças sufi-cientes para aprovar a matéria. Eu vejo um movimento muito atípico. São Paulo quer estar inserido à recuperação do seu acesso aos repasses; Rio de Janeiro es-tá discutindo a matéria; O Paraná discute; o Pará discute, se achando preterido. As regras em relação ao Acre hoje são boas. Nós precisamos, no mínimo, preservá-las. O Acre tem hoje uma dependência de quase 70 por cento ainda de repasse constitucional como base de manutenção das suas atividades ordinárias.

ACRE ECONOMIA – A forma como é feita o repasse hoje garante estabilidade para o Estado investir?
TIÃO VIANA – Não. Investimento, não. Dá para manter as despesas ordinárias. Você tem uma tragédia da vida federativa desde os anos 60. A entrada da ditadura teve uma palavra de ordem: a geopolítica do Estado Nacional seria centrada na União. Ou seja, os recursos da Federação estariam centrados na União. E eles não foram devolvidos. A Reforma Tributária vinculou todos os recursos para a União. Os estados perderam, pelo menos, 15% dos repasses constitucionais que têm. Os municípios perderam pelo menos 19%. A reforma tributária não tem ocorrido de uma maneira justa a romper com o princípio centralizador de recursos da ditadura. E não se vê sensibilidade da União, desde a redemocratização do país, para devolver o dinheiro. O FPE é um apêndice que dá conta para manter as despesas ordinárias. Manter investimentos, não. Com isso, os Estados Nacionais fracos transferiram suas receitas para pagamento da dívida e comprometeram suas capacidades de captação de recursos com a dívida pública. Agora, da transição do governo do presidente Lula para a presidente Dilma é que estamos vendo um novo direcionamento e um novo sentido da receita nacional para investimentos e para a redução da dívida pública como redução da taxa de juros. Cada ponto percentual reduzido da taxa de juros, você tem uma reserva de cinco bilhões de reais para investimentos e a redução da dívida pública cai cinco pontos.

ACRE ECONOMIA – Um tema recorrente e que sempre é bom repetir a reflexão sobre ele diz respeito à capacidade de endividamento do Estado do Acre. Como o senhor se defende para assegurar que o Acre terá condições de honrar com os contratos?
TIÃO VIANA – Eu acho que essas pessoas que afirmam que o Acre não terá condições de honrar com os contratos deveriam voltar para o primeiro ano da alfabetização do Ensino Fundamental para poder entender um pouco de política pública, de investimento e de financiamento do setor público. O Acre hoje, dentro dos governos da Frente Popular, deve menos do que devia antes da Frente Popular assumir. Nós temos um comprometimento de dois bilhões de reais dentro da capacidade de cinco bilhões de reais de recursos, e nós estamos com 10% da Receita do Estado vinculados ao endividamento. Então, estamos muito bem. Ruim está São Paulo. Ruim está o Rio Grande do Sul. Ruim está o Estado de Minas Gerais. A análise tem que ser justa e correta. Não podemos é achar que em um mundo globalizado, quem tem capacidade de adquirir crédito para fazer investimentos vinculados à produção, à geração de emprego, de renda, ao crescimento dos indicadores econômicos vai fazer como nos anos 40: colocar o dinheiro dentro do colchão. Aí é loucura. Seria insanidade, irracionalidade e irresponsabilidade. O nosso problema é que nós temos mais 3 bilhões como reserva para captação de crédito, mas nós temos uma internalização anual da ordem de meio bilhão só, pelas regras do programa de ajuste fiscal do Governo Federal. Porque o Governo Federal pactua, em nome de todo o conjunto da dívida pública. Então, o Acre paga hoje o pato pela dívida de São Paulo. O Acre paga o pato pela dívida do Rio Grande do Sul. Ele não pode captar mais e investir mais, gerar mais empregos, gerar mais desenvolvimento por causa do endividamento desses estados. Aí, pessoas míopes ficam com o olhar atrasado de meados do século XX imaginando que o dinheiro que a reserva de recursos é um item de inteligência do Estado.

ACRE ECONOMIA – Essa defesa não dificulta o diálogo com os sindicatos na hora de negar aumento de salário?
TIÃO VIANA – Nós pagamos hoje para os servidores os melhores salários da região Norte. Pagamos para os professores do Acre mais do que paga o Estado de São Paulo. Mais do que paga o Estado de Minas. Mais do que paga o Estado do Rio Grande do Sul. Agora, se você disser que é um patamar de solução e de excelência dos servidores públicos para aquilo que é um sonho deles… Não, certamente, não é. Mas, aí você não pode falir o Estado em nome de 42 mil servidores. Temos que ter equilíbrio.

ACRE ECONOMIA – Paradoxalmente, a política pública que garantiu esse servidor ser ‘bem pago’ concentrou renda. Hoje, o Acre tem renda mais concentrada do que Rondônia, por exemplo. O que deu errado?
TIÃO VIANA – É porque houve uma transferência de aumento para os servidores públicos além dos estados da região Norte. Quando você olha o Estado de Rondônia, é uma tragédia a consideração que é dada aos servidores públicos. Mas, eu sou da compreensão histórica, que diz: quem assegura desenvolvimento é o servidor público. É a função pública do Estado. Eu tenho profunda divergência de quem diz que tem que enfraquecer o poder público como fez o PSDB, como fez o DEM, como fizeram os partidos conservadores de direita. Rondônia, hoje, tem mais de 8 mil pessoas com um mandados de prisão expedidos porque não tem onde por. Todo dia, saem para usar crack 15 mil pessoas.

ACRE ECONOMIA – Os dados do último PIB divulgados oficialmente apontam que a agropecuária responde por 14,7%, a indústria 5,8% e serviços 4,8%. O que lhe incomoda nessas porcentagens? O que o senhor pretende mudar?
TIÃO VIANA – Isso me incomoda, sim. Porque você vê que a atividade agropecuária em si ela é fundamental, mas ela não dá conta de atender à demanda de emprego e renda. Hoje, o maior gerador de empregos no Acre é o comércio. Depois, a atividade rural, mas a qualidade do emprego é muito precária. Precisamos melhorar muito. Nós precisamos constituir a classe média rural. E é isso que estamos fazendo. Há anos, apregoava-se como se fosse uma utopia para o movimento sindical rural um Pacto Agrário que previa investimentos da ordem de cem milhões de reais. Hoje, só a Secretaria de Agropecuária do Acre, que tinha um orçamento anual de um milhão de reais está tendo mais de 60 milhões. No entanto, sabemos que isso não gera o quantitativo de empregos que precisamos gerar no campo. Embora fortaleça a economia rural do Acre.

ACRE ECONOMIA – Por falar em pecuária, já não é chegada a hora de se trabalhar a marca ‘Carne do Acre’? Se temos a melhor carne do Brasil como se apregoa, por que não se diferencia isso para o mercado?  Falta escala de produção?
TIÃO VIANA – A atividade pecuária merece muito respeito. Teve um princípio equivocado, mas hoje, nos entendemos muito bem. A pecuária gera mais de 70 mil empregos no Acre. Agora, nós precisamos vincular a atividade pecuária à tecnologia e já tem produtores ensaiando os primeiros passos para o semi-confinamento. Nós temos capacidade de triplicar o rebanho bovino do estado com incorporação de tecnologia e assegurar o selo verde para a produção pecuária no Acre. Agora, sem desflorestar, sem queimar…

ACRE ECONOMIAMas, os produtores exigem mais áreas…
TIÃO VIANA – Não, eles não têm exigido mais áreas. Estão muito tranquilos, muito serenos. Sabem que não podem desmatar. Ouvi isso de muitos pecuaristas. Aqui, a gente sabe que não pode desmatar. Sabe que não é pra queimar. Quem está queimando hoje é basicamente o pequeno. O grande queima muito pouco porque está supervisionado por satélite. O pequeno queima porque tem que sobreviver e não tem tecnologia que substitua o fogo. Nós temos mais de dois milhões de hectares abertos no Acre. Podemos usar muito bem e com intensidade para a pecuária, para a criação de ovinos, suíno, criação de aves, desenvolvimento de agricultura, florestas plantadas, sem contradições. Estamos entre os três estados que menos desmata na Amazônia.

Ainda sobre pecuária. Um problema crônico é a nossa cadeia produtiva do leite. Não está resolvida essa situação. O que falta?

Essa situação me incomoda mesmo. Hoje, nós já teríamos condições de estar gerando cinco mil empregos só na bacia leiteira dentro do Acre. Temos uma capacidade de retirada de 80 mil litros diários e não estamos tirando nem 35 mil. Por que? Porque não temos um setor organizado e integrado. Falta laticínio de grande porte. Falta integração com sistema viário e faltam matrizes com melhor genética. Nós estamos fazendo 5 mil quilômetros de estradas vicinais, com atenção especial para áreas onde se produz leite e tenha agricultura e tentando atrair intensamente empresas com perfil econômico e tecnologia adequados.

ACRE ECONOMIA – O que as empresas alegam para não se instalar aqui?

TIÃO VIANA -Elas alegam que o acesso às áreas de produção ainda é muito precário. Eu, inclusive, estou trazendo três mil matrizes com perfil genético elevado para começar a gerar mais proximidade entre as áreas de produção de leite e de laticínio. Espero que até o fim deste ano tenhamos resolvido o problema da bacia leiteira no Acre.

ACRE ECONOMIA – Até o fim do seu mandato o senhor consegue resolver esse problema?
TIÃO VIANA -Com certeza, nós vamos resolver. Ou resolvemos pelo setor privado ou o Governo vai enfrentar o desafio de maior porte.

ACRE ECONOMIA – Podemos ter uma nova Cila, então?
TIÃO VIANA – Não. Eu não vou é deixar fracassar um setor que pode gerar cinco mil empregos no campo. Se eu tiver que dar um passo e mostrar que a atividade é segura e o setor privado captar… podemos fazer um arranjo dessa natureza.

ACRE ECONOMIA – Piscicultura. O empreendimento na BR, o Complexo de Piscicultura, está com o cronograma em dia?
TIÃO VIANA – A obra está indo muito bem. É o melhor projeto de piscicultura já montado no país. E quem diz é o Ministério da Pesca e especialistas do setor. Nós estamos envolvendo 16 mil famílias e nós tínhamos como meta a implantação este ano das unidades de produção. Está no nosso prazo, a unidade de produção de alevinos estará pronta até o mês de outubro. Nós estamos fechando agora a tomada de preços para o contrato da empresa que vai construir a fábrica de ração. E a nossa previsão é que tenhamos até março do ano que vem a fábrica de ração e uma parte do frigorífico já funcionando. Queria que fosse em julho agora. Não consegui no tempo que eu queria. Mas, respeito o secretário Edvaldo e a equipe técnica dele que estão se esforçando para conseguir tudo mais rápido.

Nós colocamos (sic) a unidade do Bujari [Indústria de Embutidos de Peixe] e estamos construindo outras quatro semelhantes, com capacidade de beneficiar até 120 toneladas de pescado por mês.

ACRE ECONOMIA – Para uma pessoa que não está acostumada ao dia a dia do comércio é difícil compreender a prioridade dada ao mercado externo no desenho do Complexo de Piscicultura. Por que priorizar o mercado externo quando é comum o consumidor acreano ainda comprar peixe de Boca do Acre?
TIÃO VIANA – Nós temos que vender para o mercado interno, sim. Mas, o mercado tem uma dinâmica complexa. Um quilo de piau em Cruzeiro do Sul custa dez reais. Aqui ele custa menos. Há produtores que estão vendendo para o Peru toda semana. Quando você olha, tem peruanos vindo de Puerto Maldonado para o município do Bujari pegar peixe. Quando você olha, já existe peixe sendo vendido para a merenda escolar. Quando você observa, estamos comprando peixe de Boca do Acre e do Rio Madeira. Quando surgir o Complexo de Piscicultura, vamos ter regras para atender o mercado interno e nós vamos ter outras para atender o mercado externo também. É assim que funciona. Ainda há frango vindo de Goiânia quando o frigorífico de Brasiléia está vendendo para cidades de Rondônia e do Amazonas. Funciona assim.

ACRE ECONOMIA – A sua lembrança a respeito da Acre Aves em Brasiléia me despertou para outra coisa difícil para o consumidor entender: por que o preço do frango beneficiado aqui ao lado não é muito mais barato do que o produto de fora?
TIÃO VIANA – Isso mudou. O secretário Edvaldo fez um trabalho de romper com o protecionismo de Goiás. Por exemplo, Goiás tinha pauta zero e entrava com benefícios fiscais aqui. Aí, ele quebrava o produto nosso. O Complexo Agroindustrial de Aves já produz mais de cinco mil quilos por mês de embutidos e já abate mais de 12 mil aves por dia. Queremos chegar a 30 mil. A previsão é que a Acre Aves, em junho, quando associar a cadeia produtiva do suíno, consuma 30 mil sacas de milho por mês. A Guerra fiscal silen-ciosa prejudicava a política de consumo.

ACRE ECONOMIA – Setor marceneiro. Por que o poder público só tornou viável a execução do Programa de Apoio ao Setor Marceneiro e Moveleiro agora? Por que não foi realizado antes?
TIÃO VIANA – Havia uma obrigação, correta, de seguir as normas ambientais de fiscalização. Ibama, Instituto Chico Mendes da Biodiversidade trabalhavam mais numa ação policial do que uma ação de orientação, de cooperação, de pactuação…

ACRE ECONOMIA – Erraram no tom?
TIÃO VIANA – Com certeza, o tom foi errado. E isso inibiu o setor. O licenciamento era difícil. A fiscalização era rigorosa e a ação punitiva era policial. Então, isso gerava uma crise. O que o secretário Edvaldo Magalhães fez? Aproveitando toda evolução normativa e do amadurecimento político das instituições, chamou cada moveleiro, ouviu e abriu frentes de mediação do comércio; também viabilizou a matéria-prima; brigou pela redução do custo da matéria-prima, a área ambiental gerou licenciamento correto e ágil e o resultado é que temos oportunidade de abrir um grande mercado nacional e internacional com esses pequenos moveleiros. Temos que romper com o tradicionalismo e achar as regras de um grande patrimônio de reserva natural, associada à tecnologia, aliada a um ordenamento da legislação para facilitar e não para prender.

ACRE ECONOMIA – Ainda sobre a madeira. O senhor sabe da repercussão que a viagem para Milão teve por aqui. Que defesa o senhor faz dessa viagem para justificar a ida de um grupo tão expressivo?
TIÃO VIANA – Olha, eu me sinto profundamente orgulhoso da missão para a Itália, com quase sessenta pes-soas. Foi um presente à história do Acre. E quem for governar dando ouvidos à mediocridade vai ficar abaixo das linhas básicas de inteligência e de responsabilidade com as gerações futuras. Então, a mediocridade de dizer que aquela viagem foi um erro fica com quem fala. Não comigo. Não me afeta absolutamente nada. Uma viagem ética, com todos os procedimentos éticos adotados e uma viagem que trouxe benefícios. Os pequenos moveleiros foram os únicos que tiveram ajuda integral. A Federação da Indústria custeou uma parte para os seus empresários. Os empresários custearam outras. Eu e minha esposa que fomos não usamos nem passagem aérea do Governo do Estado. Os medío-cres que chafurdem na mediocridade. É papel deles. Eu não vou ficar influenciado por isso.

ACRE ECONOMIA – ZPE. Que novidades há a respeito do projeto?
TIÃO VIANA – Agora, é consolidar indústrias e empresas que estão com planos de negócios para que se instalem. A ZPE muda a história econômica do Acre. Quando o governo brasileiro adotou o fim da farra das importações para a região de Santa Catarina e Espírito Santo [episódio conhecido como a Guerra dos Portos], nós estamos dizendo para as empresas ‘venham para cá que aqui as importações estão asseguradas com benefícios e as exportações também’.

ACRE ECONOMIA – Governador, existe alguma possibilidade de rever a cobrança do ICMS sobre a tarifa de energia elétrica?
TIÃO VIANA – Esse debate tem traços de partidarização, de política pequena. Outro dia, tinha jornalista elogiando o senador Aécio Neves porque ele disse que tinha que reduzir o ICMS da energia. Só que o mesmo jornalista não teve coragem de dizer ‘mas por que é que Minas tem o ICMS da energia mais caro do Brasil?”. Rio de Janeiro é o segundo. Paraná é o terceiro. O Acre isenta 50 mil famílias do ICMS da energia. Estamos muito tranquilos em relação a isso. Essa é uma disputa irresponsável de algumas pes-soas. Se nós aumentarmos a receita econômica do Acre, temos condições de avançar no debate. Quando classifiquei como ‘irresponsável’ me referi às pessoas que estão dirigindo o movimento. As pessoas que reivindicam o ICMS são justas porque reduzir impostos é uma reivindicação justa. Agora, quem quer induzir por partidarização está sendo irresponsável. Esse jogo não é o jogo de quem quer ser honesto nem intelectualmente e nem honesto com o interesse público.

ACRE ECONOMIA – O senhor é um entusiasta das redes sociais. Já aderiu à campanha “Veta, Dilma”?
TIÃO VIANA – Nós devemos seguir o posicionamento do senador Jorge Viana. Ele foi o relator do Código Florestal no Senado, fez um bom trabalho no conteúdo e na forma. O posi-cionamento dele é o nosso: ele está a favor do veto.


 

BNDES Per fica abaixo da meta de R$ 100 milhões

ITAAN ARRUDA

O BNDES Per, Programa Emergencial de Reconstrução de Municípios Afetados por Desastres Naturais, está longe de atingir a meta de R$ 100 milhões divulgada pela Associação Comercial, Industrial de Serviços e Agrícola do Acre.

O último balanço feito pelo maior agente financeiro do Acre, o Banco do Brasil, aponta que foram feitas 359 operações com volume de financiamento de R$ 58,36 milhões. “Esse volume superou as nossas expectativas”, afirmou o superintendente do Banco do Brasil, Marcos Bachiega. O BB acredita que até o dia 18 de maio pode alcançar algo em torno de R$ 70 milhões.

De todas as operações formalizadas no Banco do Brasil, 36 já tiveram recursos liberados, com volume de R$ 3,7 milhões. Ainda faltam 323 operações com volume de R$ 54,66 milhões.

“O processo é muito burocratizado”, reclama a radialista e empresária Eliane Sinhasique. “Eles estão exigindo de fiador a documentação de cônjuge”. Sinhasique pretendia ter acesso ao financiamento para ampliar os investimentos na produtora que possui em Rio Branco.

O proprietário da MX Desing, Maxtane Dias, é outro empresário que tem encontrado dificuldades para ter o processo aprovado. “Quem vai querer ser fiador de quem perdeu tudo por causa das enchentes”, pergunta o empresário.

Dias não teve problemas com a enchente do início do ano, mas lamenta o volume de exigências por parte dos bancos. “As coisas deveriam ser mais facilitadas para quem quer produzir”. A MX Desing emprega diretamente nove pessoas.

“É preciso termos calma em relação à conduta dos bancos”, pondera o presidente da Associação Comercial, Industrial de Serviços e Agrícola do Acre, Jurilande Aragão. “Em nenhum lugar do mundo são liberados financiamentos em bancos que não sejam exigidas algumas garantias”.

Os recursos do BNDES são acompanhados de perto pela Controladoria Geral da União. Da apresentação de projetos até a formalização do Pedido de Liberação, as instituições bancárias são vigiadas para evitar possibilidade de desvios.

“A burocracia tem, mas cada caso é um caso”, minimiza o superintendente do Banco do Brasil no Acre, Marcos Bachiega. “Para empréstimos até cem mil reais, o banco já tem um fundo garantidor”.
Falta “cultura contábil”- A reclamação foi tamanha da falta de acesso ao financiamento que os empresários provocaram uma reunião na última quarta-feira na sede da Acisa. Alguns especialistas ouvidos pelo Acre Economia argumentam que o que falta para o empresariado local, de fato, é a criação de uma “cultura contábil”.

“Os empresários não acompanham de perto a vida contábil do empreendimento e, quando precisam, para a liberação de um empréstimo, por exemplo, sentem a falta de organização”, afirmou um especialista. “É mais fácil culpar os bancos pela burocracia”.

A Acisa/AC chamou representantes do Sindicato dos Contabilistas e o Conselho dos Contabilistas do Acre para tentar agilizar a documentação que faltava para alguns empreendedores.

Angelim renova decreto de estado de emergência
No último dia 25 de abril, o prefeito de Rio Branco, Raimundo Angelim, renovou o decreto que formaliza o Estado de Emergência da Capital. O ato administrativo melhora o cenário tanto para os bancos quanto para os empresários.
Caso a missão do BNDES aceite a ampliação do prazo, tecnicamente, a cidade de Rio Branco ainda está “em estado de emergência”, o que justifica a existência do programa do banco oficial na maior cidade do Acre.

Missão do BNDES chega segunda para avaliar prazo
Grupo de executivos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social deve chegar nesta segunda para estudar a possibilidade de ampliar o prazo para encerramento das operações. O prazo inicial era 18 de maio, mas a Acisa/Acre pressiona pela extensão da data.

“Se o BNDES estender o prazo, é possível chegarmos a mais de cem milhões no volume de financiamento”, esperançou-se o presidente da Associação Comercial, Industrial de Serviços e Agrícola do Acre, Jurilande Aragão.

Estratégia de empresários pode diminuir impacto do programa
Formalmente, ninguém assume. Mas, em conversas reservadas é possível identificar que alguns empresários montaram a seguinte estratégia: recebem o dinheiro do programa do BNDES Per e aplicam em outros produtos dos bancos.

A taxa de juros do BNDES Per é tão baixa (5,5% ao ano) que é possível ser rentável até se for aplicado na poupança. O problema dessa estratégia é um só: o esforço do governo em aquecer a economia regional por meio dos financiamentos não permite ter o impacto necessário. Nesses casos, o dinheiro tem que circular e não pode ficar guardado para que o efeito da calamidade pública seja superado.


 

Política desafia e protege o capital intelectual

ITAAN ARRUDA
A passagem do senador Jorge Viana pela Embrapa na manhã da última sexta-feira faz parte de um movimento político que busca desafiar a comunidade científica e, ao mesmo tempo, proteger um patrimônio raro: o capital intelectual.

E nenhum lugar melhor do que a Embrapa para isso. É possível que ali esteja concentrada a maior quantidade de doutores e pós-doutores do Acre que atuam nas mais diversas frentes de pesquisa.
A lógica da visita do senador Jorge Viana guarda relação muito próxima com a função sócio-econômica dos cientistas em refinar a aplicação da pesquisa nos diversos modelos de desenvolvimento. Com uma diferença destacada por Jorge Viana.

“O Brasil vive um momento muito especial nas vésperas da Rio+20. E se o Brasil está virando uma potência, essa potência deve ser sustentável. E eu entendo que a Embrapa é um dos grandes patrimônios que nós temos”, pontuou o senador.

Para a construção de uma nova relação entre Ciência e Cultura, é preciso saber se os gargalos estão na esfera política ou tecnológica. A identificação dessas dificuldades só é possível nessas conversas entre lideranças políticas e a comunidade científica.

Jorge Viana e sua assessoria tentaram fazer uma “imersão” em alguns projetos executados pelo centro de pesquisa agropecuária. Conheceram em detalhes, novos aspectos da pecuária regional, piscicultura, manejo, horticultura.

Além dos 30 pesquisadores da Embrapa presentes no auditório, participou da conversa com o senador, via Skype, a chefe de pesquisa da Embrapa no Acre, Lucia Wadt. Ela estava na Flórida, Estados Unidos.

Outros dois parlamentares federais do Acre têm se destacado nessa aproximação com a Embrapa. Nomes sempre destacados são os do deputado federal Sibá Machado (PT) e do deputado federal Henrique Afonso (PV).

Outro nome lembrado é o do ex-deputado federal Fernando Melo, quando ainda estava no PT, e focou o mandato no desenvolvimento de pesquisas voltado para a cadeia produtiva da macaxeira.
“Gostaria que outras pes-soas tivessem essa preocupação”, confessou o pesquisador-chefe da Embrapa, Judson Valentim. O Centro de Difusão de Tecnologia é consequência dessa aproximação entre lideranças políticas e os cientistas.

Consequência da ação parlamentar enquanto era suplente de Marina Silva no Senado, Sibá Machado propôs a criação de uma instância que aproximasse a Embrapa das prefeituras.

Hoje, o Centro de Difusão de Tecnologia possui trabalhos em diversas áreas da produção agropecuária com 21 das 22 prefeituras do Acre. “Só não conseguimos aproximação com a prefeitura de Tarauacá”, especifica Valentim. “Chegamos a botar os equipamentos lá, tentamos falar com o prefeito, mas, não conseguimos”.

Para substituir a ausência do poder público municipal, a Embrapa fez, em Tarauacá, parceria com a Secretaria de Estado de Agropecuária para atender os produtores da região.

Categories: Acre Economia
A Gazeta do Acre: