“Tentei tirar o máximo de mercadoria possível da loja e levei para uma casa que tenho em Epitaciolância”, admitiu. Resultado: por meio de denúncia anônima, a Polícia Federal e a Receita executaram a Operação Cometa e apreenderam quase R$ 2 milhões em mercadorias.
Calcula-se que Jorge e o irmão, Ricardo, investiram cerca de US$ 2 milhões no empreendimento, fora os gastos com obras de infraestrutura do prédio – que incluída até um elevador panorâmico.
A GAZETA – Por que a Justiça boliviana resolveu tomar essa postura em relação a sua empresa?
Jorge Luiz Frare: Eu e meu irmão mantínhamos uma socie-dade com um boliviano porque a legislação da Bolívia obriga que tenha uma pessoa natural de lá para formalizar uma empresa. Mais tarde, descobrimos que havia falsificação de documento e lavagem de dinheiro, identificada pela adua-na. Pedimos uma auditoria para investigar. Nessa fiscalização, descobrimos que o nosso sócio falsificava nota para roubar a gente.
A GAZETA – Quanto foi desviado?
Jorge Luiz Frare: A auditoria apontou que ele roubou de nós 1 milhão e 200 mil dólares. Entramos no Ministério Público lá e o denunciamos com notas e tudo o que conseguimos reunir. Ele foi preso. A polícia o prendeu e apreendeu a mercadoria que lhe pertencia para ressarcir a nós e o governo que havia sido roubado também.
A GAZETA – Mas, que relação…
Jorge Luiz Frare: O Ministério Público de lá não é igual o daqui. Lá, eles não são concursados. É indicação política. A procuradora geral de Justiça, Maria Deli, foi comprada pelo meu ex-sócio boliviano. Essa mulher começou a me perseguir. Saiu por denúncias de corrupção. Só que as relações dela com o ministro Juan Rámon Quintana construíram uma rede de relações para vir contra mim.
A GAZETA – Quando aconteceu esse aviso?
Jorge Luiz Frare: Há 1 mês. A partir daí, o Ministério Público de lá inocentou o meu ex-sócio, dizendo que não havia nada contra ele. Os mesmos juízes que o prenderam falam agora que ele é inocente. Contestei. Pedi as provas que eu havia apresentado para incriminar o meu ex-sócio. Todas as provas desapareceram. E o pior: eles nos obrigaram a deixar as provas originais lá. As provas desapareceram e eu virei culpado. O cara virou inocente e entrou com uma ação contra mim e meu irmão dizendo que fizemos uma denúncia falsa. O juiz entendeu que temos de pagar 1 milhão de dólares e pediu a minha prisão e a do meu irmão. Hoje, eu e meu irmão estamos foragidos da Bolívia.
A GAZETA – E as autoridades brasileiras? O senhor recorreu a elas?
Jorge Luiz Frare: Recorremos ao pes-soal do governo, da Polícia Federal. Fomos indicados ao ministro Eduardo Paes Saboia [ministro da embaixada do Brasil em La Paz]. Ele designou uma advogada da embaixada para nos ajudar. Ela esteve na penitenciária de Cobija, onde me falaram que havia um preso lá pago para me matar. Ela foi lá e confirmou. Havia um preso, brasileiro, conhecido como ‘Careca’, e estava pago para me matar. Eles querem me prender para me matar e matar ao meu irmão, Ricardo. O juiz me deu 3 dias para tirar a mercadoria da loja.
A GAZETA – Qual é o prejuízo?
Jorge Luiz Frare: Os investimentos que fizemos na infraestrutura do prédio, incluindo o elevador panorâmico, foram de R$ 500 mil. Em mercadoria, foram mais de US$ 2 milhões.
A GAZETA – E essa mercadoria?
Jorge Luiz Frare: No desespero, eu trouxe para Epitaciolândia. Do lado de lá, as autoridades estão todas contra mim. Como eu já tinha consciência de que a Polícia Federal sabia da minha situação, imaginei que não haveria problema. No sábado, houve denúncia da mercadoria. Houve a Operação Cometa. O resto que ficou na Bolívia, o dono do prédio está tirando tudo.
A GAZETA – O teu caso é um caso isolado?
Jorge Luiz Frare: Na verdade, todos os brasileiros têm problema de insegurança. Vou ser tachado de contrabandista. Instituições brasileiras, ao invés de me proteger, estão me prejudicando.