Ícone do site Jornal A Gazeta do Acre

Xapuri pode ser exemplo de sustentabilidade em recursos hídricos

Xapuri wwfAs ações do programa Água Brasil no igarapé Santa Rosa, que banha a cidade onde viveu Chico Mendes, foram formalizadas na manhã desta quarta-feira (30), com a assinatura de acordo para ações conjuntas na microbacia. Além de representantes do programa Água Brasil, firmaram o documento o Governo do Estado do Acre e a Prefeitura Municipal de Xapuri.

O programa Água Brasil, concebido pelo Banco do Brasil, é desenvolvido em parceria com a Fundação Banco do Brasil, Agência Nacional de Águas e o WWF-Brasil.
O Santa Rosa, afluente do rio Acre, é considerado prioritário pelo Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado, que está em fase de finalização de elaboração, com o apoio do WWF-Brasil, e deve ser lançado durante a Rio+20.

A bacia do Igarapé Santa Rosa tem 623 hectares, onde vivem cerca de 528 famílias, desde a zona rural, onde é cercada de propriedades rurais, até a zona urbana, passando por dentro da cidade até desaguar no rio Acre. A principal atividade produtiva na zona rural é a criação extensiva de gado. Na zona urbana, a bacia abriga produção em hortas e pomares, além da criação de pequenos animais.

Do total de 623 hectares do Santa Rosa, 592 (95%) estão desmatados, ocupados por pastagens. E dos 84 hectares originalmente ocupados com matas ciliares, 78 hectares (93%) foram desmatados. Os principais problemas do igarapé são as erosões, o assoreamento do leito do rio, o lançamento de esgoto doméstico e de lixo em suas águas.

O produtor rural Nevisson Tavares é testemunha das alterações que prejudicaram o rio. Segundo ele, até 15 anos atrás, o rio era muito diferente. “Havia lugares onde as pessoas se banhavam, principalmente nos finais de semana. O rio era mais fundo e tinha mais água. A partir de 1998, com os desmatamentos feitos para abrigar criação de gado, ele começou a mudar”, conta.

Mudança – O prefeito de Xapuri, Bira Vasconcelos, aproveitou o evento para anunciar que está em fase final de aprovação projeto de financiamento para a implementação de rede de esgoto e estação de tratamento para 100% da cidade de Xapuri. “Não vamos jogar esgoto no rio Acre”, disse. “Com todos os parceiros e com o povo, vamos mudar Xapuri”, comemorou.

Xapuri e todos os municípios banhados pelo rio Acre jogam esgoto doméstico em suas águas, que abastecem a população de Rio Branco.

O presidente da Fundação Banco do Brasil, Jorge Streit, considera simbólica a atuação do Água Brasil em Xapuri. “Para a Fundação Banco do Brasil, a perspectiva de reaplicar Tecnologias Sociais na microbacia do Igarapé Santa Rosa representa a possibilidade de reforçarmos ações voltadas à sustentabilidade numa região que é o símbolo da causa ambiental no país, principalmente depois das lutas de Chico Mendes”, disse.

O superintendente do Banco do Brasil no Acre, Marcos Bachiega, disse que o programa Água Brasil é uma maneira do banco apoiar e financiar empreendimentos sustentáveis que possam ser replicados. “As práticas apresentadas aqui podem ser aproveitadas em toda a Amazônia”, disse.

De acordo com o coordenador do programa Água Brasil no WWF-Brasil, Samuel Barreto, o rio Acre “tem sofrido muito os extremos de excesso e de falta de água”. Segundo ele, promover boas práticas no igarapé Santa Rosa é algo que pode servir como referência para disseminação em toda a bacia. “Principalmente porque Xapuri é emblemática para o Estado e para o Brasil, porque é a terra de Chico Mendes”, disse.

A coordenadora do Departamento de Recursos Hídricos e Qualidade Ambiental da Secretaria de Meio Ambiente do Acre, Marli Ferreira da Silva, disse que o programa contempla não só a restauração florestal da bacia, “mas também a gestão integrada e o fortalecimento da produção sustentável”. “Acredito que será exemplo não só para o Acre, mas para a Amazônia, que tem carência de projetos ousados como esse”, acrescentou.  

Arco do Desmatamento – A sede de Xapuri, a 188 Km de Rio Branco, está situada às margens do Rio Acre e em sua confluência com o Rio Xapuri. O município faz fronteira com a Bolívia. A região faz parte do chamado “Arco do Desmatamento”, uma área que apresenta os maiores índices de desflorestamento da Amazônia brasileira.

O acesso viário é feito pela rodovia federal BR-317, conhecida como “Estrada do Pacífico”. De acordo com diagnóstico socioambiental da bacia do Santa Rosa, realizado por Flávio Quental para o programa Água Brasil, esta rodovia é considerada uma das mais estratégicas do país, “pois, através dela, o sudoeste da Amazônia estará ligado ao Oceano Pacífico,  viabilizando o acesso aos mercados norteamericano e asiático, ávido por produtos como madeira e carne bovina”, diz o documento. (Assessoria WWF Brasil)

Sair da versão mobile