Ícone do site Jornal A Gazeta do Acre

Cresce o número de mulheres recrutadas pelo tráfico de drogas

Mulheres drogaO número de mulheres recrutadas para o transporte da droga (‘mulas’ ou ‘aviões’) e até mesmo líderes de ‘bocas de fumo’ multiplicou-se por cinco nos últimos anos. Mais de 80% das presidiárias do Estado são condenadas ou presas por tráfico de drogas. São mulheres entre 18 a 30 anos, que se envolveram no tráfico de drogas por causa de uma paixão com o traficante, ou tão e simplesmente na tentativa de ganhar  dinheiro ‘fácil’.

Um dos motivos para o ‘recrutamento’ de mulheres nas drogas é que os traficantes acreditam que as jovens de boa aparência contam com maior condescendência da polícia durante as abordagens de fiscalização, especialmente nas BRs que ligam municípios acreanos com cidades bolivianas ou peruanas.
Pelo serviço de ‘mulas’, as mulheres no Acre recebem entre R$ 1 a 3 mil. No 2º caso, se a droga for transportada para outro Estado. Pelo crime, considerado hediondo, são condenadas a penas que variam de 3 a 15 anos de prisão.

Mulheres que usam o corpo a serviço do tráfico
Na maioria dos casos, as mulheres do tráfico são jovens, mas há também as que têm mais idade. Elas também assumem o papel de traficantes, muitas vezes, para livrar os maridos, filhos e até netos, da cadeia. A forma mais comum de apreensão de drogas em poder delas ocorre através das ‘mulas’ que escondem a cocaína dentro das partes íntimas, presas ao corpo, ingestão de cápsulas de cocaína e até mesmo em uma barriga falsa de grávida.

De acordo com levantamento realizado pelas polícias em todo Brasil, a técnica de ingestão de drogas via oral, para o transporte de cápsulas de cocaína no estômago, está sendo substituída pela implantação da ‘mercadoria’ sob a pele da ‘mula’. Nestes casos (que vale mais pro tráfico internacional), elas alugam seus corpos para esconder a pasta base de cocaína. São contratadas pra se submeterem a cirurgias incisivas, principalmente nas coxas e nos seios, nas quais se inserem grandes quantidades da ‘cavaleiro negro’, a mais pura das cocaínas.

O tráfico de cocaína para o consumo interno é mais ‘barata’ para o traficante. Eles usam meios como a sedução, o ‘poder’ na periferia, para recrutar jovens que arriscam a liberdade para transportar cocaína da Bolívia para Rio Branco, escondidas dentro de sapatos, presa ao corpo, dentro de malas, no corpo, daí por diante.

“Oportunidade de renda” ou amor bandido
Em outros casos, a negociação é comercial, ou também chamada de ‘oportunidade de renda extra’. Nela, a mulher sabe o quanto vai ganhar e os riscos que corre.
Ao serem pegas pela polícia, num Estado longe de onde ela nasceu ou até mesmo do país de origem, elas são condenadas pela Lei e por suas inconsequências. Elas ficam isoladas, pois a maioria é oriunda de família carente e não dispõe de recursos para arcar com as despesas de um advogado.

Mesmo diante de todos os pormenores que deixam as cadeias mais obscuras, algumas delas reincidem no crime, ‘formam’ família e, se deixam a cadeia como ‘condenadas’, voltam como ‘visitantes’ de namorados ou amantes.

Duas mulheres e um mesmo destino
Uma jovem de 24 anos, moradora da periferia de Rio Branco, olhos claros, corpo perfeito, tinha um sonho comum de mulher. Ela queria casar, ter filhos e uma vida de conforto, que nem de longe lembrasse a infância de miséria e violência. Foi na porta da escola onde cursava o ensino médio que a jovem ‘Carmem’ (nome fictício), conheceu o homem que acreditou ser o ‘príncipe encantado’. Ele tinha 32 anos, era bonito, forte e chamava a atenção das meninas da escola. Demostrou afeição por ‘Carmem’ e logo veio o convite para uma festa em uma boate da cidade, frequentada por pessoas da classe média alta. “Conheci pessoas importantes, ganhei presentes caros e viajei de avião a uma cidade do litoral do Nordeste. Em resumo, vivi um sonho” conta ela.

Durante 4 meses e meio, ela viveu em um ‘mundo de ricos’, onde até teve a oportunidade de aprender dirigir até um carro importado.

Até o dia em que o namorado ‘rico’ fez o tal esperado pedido de casamento, mas alegou que a festa seria na casa dos pais dele, em Fortaleza. A jovem aceitou, pois na vida dela só existia ele e a realização do maior de seus sonhos, o casamento.

O namorado (ela não cita o nome), alegou que não podia viajar na mesma data que ela por motivo de trabalho. Carmem iria na frente e o casal se encontraria em São Paulo e de lá seguiriam para Fortaleza. Carmem não sabia a profissão dele. Apenas aproveitava o dinheiro do grande amor de sua vida, sem se importar de onde vinha tanto dinheiro, que custeava roupas caras, e até o pagamento da cirurgia de um parente.

A viagem de ‘Carmem’ acabou no Aeroporto de Brasília, quando agentes da Polícia Federal descobriram mais de 5 Kg de cocaína escondidos em um forro falso da mala da jovem.

Sem nunca ter visto um documento do namorado, ela só contou o que sabia. A mala foi um dos presentes que ganhou dele. Carmem não sabia dizer nem o nome completo, nem a profissão e nem mesmo onde ele morava de verdade.

Um amor que virou historia policial
Presa, condenada a mais de 10 anos por tráfico de drogas, a jovem Carmem foi parar no presídio feminino de uma Capital brasileira, e nunca mais ouviu falar do amor de sua vida. “A polícia queria saber para quem eu estava levando a cocaína, mas eu nem sabia que estava transportando droga. Os federais queriam saber quanto eu ganharia pelo transporte, e a única coisa que eu pude explicar é que estava viajando para casar com o grande amor da minha vida. Foi quando me dei conta que eu estava vivendo uma história policial, onde eu era a bandida e não uma história de amor, com príncipe encantado” revelou a mulher. Depois de 2 anos e 6 meses, Carmem conseguiu a transferência para cumprir o restante da pena em Rio Branco, perto da família.

Já a história de ‘Andréia’ (também nome fictício), tem o mesmo final, mas com enredo diferente. A jovem de apenas 19 anos confessa que ficou com o namorado (também não revela o nome), mas sabia que ele era traficante.

“Eu já era usuária de drogas. Sabia que ele era casado, mas queria apenas ter cocaína para cheirar sem pagar. Juntei o útil ao agradável e acabei aqui” simplifica Andréia.

Se detalhar muita coisa, a jovem só revela que não considera ter vivido um amor bandido, pois sabia que o namorado era traficante, mas ela queria mesmo era ‘curtir’ e se deu mal.

“Foi simples. Ele deixou a mulher para ficar comigo e eu já estava completamente apaixonada. Viajamos, conheci cidades, hotéis maravilhosos, mas um dia a casa caiu. A única coisa que recebi dele foi um recado que se eu abrisse a boca, minha família pagaria o preço. Foi assim. Se isso é amor bandido, então vivi um amor bandido” resumo.

Sair da versão mobile