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Um tributo ao Acre

É evidente que qualquer palavra sobre a história do Acre, ou de outro Estado, deve abarcar todas as instituições, os movimentos sociais, as batalhas revolucionárias, os avanços tecnológicos, à antropologia, as ciên-cias em geral e os desenvolvimentos culturais e governamentais. Mas a história de um Estado é também a experiência passada do seu povo. É o esforço de reviver o passado e seus eventos importantes. Pois, o presente é a soma total e viva do passado. Essa, dizem, é tarefa quase exclusiva dos historiadores e sociólogos. São eles que vivificam o que já passou; dão a real dimensão e interpretação da história dum povo, principalmente porque a história de um povo é mais do que meros fatos. Além disso, o próprio historiador pertence a um determinado grupo que conserva as próprias tradições de memórias e de valores. Historiadores competentes e responsáveis estão enquadrados naquele aforismo: “Ninguém escreve história num lugar acima de todos os lugares”.

A memória é o principal instrumento na descrição das questões que envolvem a história de um povo. Neste quesito, o Acre não é uma exceção. A memória, até mesmo, do cidadão comum corrobora para melhor entender a sociologia dum povo. Lembro  p. ex., que eu ainda menino aos 12 anos de idade, estudante do Grupo Escolar Saldanha Marinho, no centro da cidade de Manaus, descia quase diariamente à Av. Eduardo Ribeiro para tomar um sorvete. A máquina, obsoleta, que produzia o glacial em forma espiral, era administrada por um jovem acreano de mais ou menos uns 19 anos. Enquanto degustávamos o sorvete, já que eram muitos os estudantes que curtiam a esquina da Saldanha Marinho com Eduardo Ribeiro, principalmente porque ali bem perto estava o Cine Odeon. Enquanto sorvíamos o gelado, dizia eu, a molecada em tom de brincadeira evocava o “bairrismo” tão decantado por Érico Veríssimo: “Amo mais a minha terra do que a terra do vizinho.” As comparações eram as mais extravagantes possíveis, principalmente em relação ao Estado do Pará, que os amazonenses tinham verdadeira bronca. Contudo, quando a checa-gem era em relação ao Acre, o jovem acreano que atendia pelo nome de José, retirava da carteira porta-cédula uma foto em preto e branco do Palácio Rio Branco, dizendo ser este mais bonito do que o Palácio Rio Negro, à época um dos orgulhos dos manauaras. A propósito outro dia arrisquei visitar o bem cuidado Palácio Rio Branco. Não foi possível por não ser dia de visitas. Fico devendo esta ao José, o sorveteiro da minha meninice.

O Acre, apesar dos pesares, está vinculado à sua herança sociocul-tural. Isto quer dizer que, mesmo sendo o articulista aqui planta nova na região, pode compreender perfeitamente, com base nesta dinâmica e organização, que determinam uma sociedade, as linhas gerais dos antecedentes culturais desta terra. Sei, entretanto que o fato significativo de viver aqui um pouco mais de uma década e ter domicílio eleitoral não me credenciam a falar dos fenômenos sociais deste Estado. Não tenho raízes e nenhum envolvimento com o material interpretativo que me dê uma verdadeira compreensão da história do Acre. Entendo, por outro lado, que para interpretar a historia de um povo é preciso envolvimento e participação. É preciso sentir o cheiro do povo. Ainda assim, presto o meu tributo ao Acre, alusivo aos seus 50 anos de elevação à categoria de Estado!   

Reconheço as dificuldades obvias porque passam, não só o Acre, mas todos os estados brasileiros. Eis, porque não me deterei nos aspectos paisagísticos das cidades acreanas; tampouco mencionarei sua história, uma vez que me falta Know-How para tanto; mas sobre a luta, os anseios e a esperança dessa gente, porque é igualmente o anseio de todos nós, podemos dizer algumas sucintas obviedades.

Hoje é difícil falar da sociologia das cidades, pois que vivemos, em constantes mutações, talvez pela força da globalização mundial. O que se constrói pela manhã é substituído à tarde pelo “novo” e assim vai. Na presente sociedade, chamada de pós-moderna não tem nada pronto, nada perdura e tudo sofre mudanças bruscas. Vivemos o caos, ou desordem social diferentemente dos bons dias de antigamente, quando parecíamos ter poucos problemas sérios e a vida era confortável, serena e previsível, diria, o acreano saudosista.

Ainda assim, creio firmemente que os cidadãos que investem suas vidas em terra acreana, inseridos num contexto sociopolítico e cultural, sem ranços partidá-rios, estão comprometidos com o desenvolvimento desta terra. Enquanto meditam nas lutas passadas, algumas terríveis e cruéis apostam com todas as forças no trabalho honesto; contam com a ação dos governos constituídos, não como geradores de empregos, pois quem gera emprego é a iniciativa privada; aos governos compete fornecer os meios financeiros legais, sem burocracia jurássica; apontar caminhos sustentáveis para o progresso e bem-estar dos seus governados.

Estou convicto de um fato: A esperança do cidadão de Rio Branco e de qualquer outro município do Estado do Acre é a de que sejam criadas políticas públicas mais humanas, com a descentralização de renda. Isto é, equidade e oportunidades para todos, sem ressalva. Espera-se, que os governos não deixem morrer as esperanças, que permeiam o peito de cada cidadão acreano, de melhores dias. Além disso, é curtir os festejos, como antigamente, da alegria do aniversário do Estado do Acre.  

E-mail: assisprof@yahoo.com.br

Categories: Francisco Assis
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