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Qual perfil deve ter um reitor de Universidade?

Reitor é aquele que domina a retórica, “aquele que tem a palavra”. São significados para o termo “rector”, que denomina o cargo de reitor de uma universidade. É uma posição de alta expressão cultural e social, pois representa a universidade, órgão máximo da educação de um Estado. O reitor não tem termos de comparação com mandatos políticos. Ele deve ser político, mas não de forma ideológica.
Por essas e outras questões o cargo é o mais ambicionado pelos professores universitários que, às vezes, esquecem que o seu trabalho é intelectual e não administrativo. O cargo de reitor é objeto de lutas acirradas e terríveis entre alguns grupos universitários, menos por conta de projetos e mais por conta do prestígio e vantagens que o eleito possa trazer para si e para o grupo que o apoia. Que tal olhar o perfil dessas elites que estão postas na Ufac para o cargo de reitor?

Esse é um aspecto interessante que se deve analisar. Uma universidade não é um lugar de debates político-partidários, cartas anônimas, falácias, manobras, jogos pessoais ou de grupos, promessas impossíveis, mas espaço para a discussão acadêmica em prol da melhoria qualitativa do ensino, pesquisa, extensão. É nas academias que se formam pessoas para o mercado de trabalho. É nas academias que se produzem saber, ciência, conhecimentos.

Por definição, as universidades não são instituições de massa, mas aristocracias do saber. São responsáveis não só pela formação dos mais diversos profissionais, mas também pela produção de ciência. Em tempos marcados por vertiginosa evolução tecnológica, pode-se constatar a importância dessa produção. E essa constatação mostra o peso de instituições como as universidades. É claro que a referência vai para universidades dignas desse nome e não para aquelas vendilhões de diplomas.

Logicamente, inseridas em democracias, as universidades devem conviver com práticas democráticas e partilhar da evolução institucional. Deve-se considerar, porém, suas características próprias. Não podem e não devem ser geridas a partir de processos eleitorais que conduzam a administrações alheias a seus reais interesses. Assim como não se imagina um juiz que desconheça o Direito, não se pode imaginar um reitor descomprometido com os grandes objetivos do ensino e da pesquisa, preso a um grupo político. Não há sentido, portanto, em uma eleição, que se coloquem no mesmo plano pessoas que não têm características semelhantes. Pessoas que olham a universidade como espaço partidário para obtenção de vantagens pessoais, acomodar bem os amigos, perseguir aqueles a quem julga adversários e tratar a Academia como um partido político.

Num processo eleitoral na Ufac é possível ver de tudo um pouco. Pessoas que querem o poder pelo poder. Ataques a pessoas dignas que têm história na Universidade. Pessoas que ali estão de passagem, até que lhes apareça algo melhor. Pessoas que só momentaneamente estão envolvidas no processo eleitoral para conseguir cargos. Por isso, é desaconselhável colocar essas pessoas no mesmo plano dos que realmente se comprometem com o processo de produção de conhecimento, com a grandeza da Academia, com o saber e a produção científica. Por isso, é inconcebível um reitor ou um vice-reitor sem esse perfil de pesquisador altamente qualificado.

É fundamental à sociedade e a comunidade universitária não perder de vista que o reitor é a autoridade máxima na hierarquia acadêmica. O reitor é responsável por administrar toda universidade e seus campi, desde as finanças, contratações de professores, técnicos administrativos e dezenas de outros serviços.  Não deve ser reitor de uns poucos.

Nesta época de ano eleitoral, eleição prevista para o mês de agosto de 2012, aqui no Acre, é oportuno levantar quais, afinal, são as qualificações e funções de um reitor e o que o trabalho lhe exige. Afinal, “reitor” não é uma profissão propriamente, mas um degrau em que o professor pode atingir dentro da estrutura universitária.  Por isso, o bom reitor deve ter capacidade de agregação. Qualquer dirigente deve, fundamentalmente, ser uma liderança acadêmica.  É imprescindível ao reitor: saber ouvir, estabelecer metas coletivas e factíveis, clareza dessas metas, conhecimento da universidade para a qual vai prestar serviços, ter espírito ético e solidário, transmitir  credibilidade, ter boa conduta profissional, ética e moral, possuir capacidade de montar equipes que levem adiante o trabalho coletivo e ter sempre em mente que está servindo ao conjunto e não a um grupo específico. A Universidade pertence a todos.

Por isso, insiste-se que o candidato a reitor deve ter o seguinte perfil: acadêmico por excelência, capacidade de negociação e gestão, conhecimento da vida universitária, bom relacionamento interno e externo, ação participativa e democrática e, principalmente, liderança. Sem falar que o reitor não deve envolver partidarismo no seu trabalho, e sim seguir políticas da própria universidade, de forma a beneficiá-la sempre. É a política a favor da universidade, e não o contrário. O reitor não deve deixar a força e a importância do cargo se sobrepor à conduta de que o exerce. Recomenda-se ter a seguinte consciência: “eu estou reitor”, e não “eu sou reitor”.

Então, o bom reitor deve, principalmente, ser uma figura agregadora, descentralizadora, que distribua o poder com as unidades acadêmicas e jamais se considere “alguma divindade”. Ele é um professor como outro qualquer, que coordena a instituição, mas não é o único responsável por ela. Deve permitir a participação de todos, discutir caminhos, buscar apoios e parcerias e, claro, ter poder de decisão. Não deve ser manobrado por alguém ou por um grupo. O cotidiano de um reitor é uma aventura permanente no processo de evolução da universidade. Essa aventura deve sempre ter em mente a excelência. Pois o reitor deve ser o catalisador dos diferentes interesses acadêmicos na construção de um projeto comunitário que faça a universidade chegar sempre a patamares mais altos. É isso que esperamos ver nas candidaturas da Ufac. Ter um gestor com um perfil acadêmico por excelência. Pessoa compromissada com a comunidade universitária e regional, elevando a Ufac ao padrão de excelência que tanto se deseja para uma região privilegiada como o Acre.

DICAS DE GRAMÁTICA
DESMISTIFICAR e DESMITIFICAR SÃO A MESMA COISA?
Não! Cada palavra tem o seu significado próprio, vejam:
– Desmistificar uma pessoa é desmascará-la, mostrar que não é uma santinha e que não merece confiança.
– Desmitificar alguém, por exemplo, é apenas revelar que essa pessoa é comum, e não um mito.

Luísa Galvão Lessa – É Pós- Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da Academia Acreana de Letras. colunaletras@yahoo.com.br

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