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Venda de carros no Acre cresce mais de 15% em maio

Os quatro últimos dias de maio salvaram o comércio de carros no Acre. Nesse curto período, foram emplacados 164 automóveis no Estado. De acordo com a Federação do Comércio, isso contribuiu para o setor fechasse o mês com vendas de 601 unidades e um aumento de 15,4% em relação a abril. O resultado coloca o Acre com 3,3 pontos percentuais a frente do aumento nacional calculado em 12,1%.
Leandro Domingos: otimismo, 601 carros foram vendidos em maio no Estado, 15,4% a mais que o mês de abril
O cenário é consequência das medidas adotadas pelo Governo Federal de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Para os empresários do Acre, a decisão do governo veio em boa hora.

Foi um dos piores fins de trimestres dos últimos anos. Em abril, a queda nas vendas chegou a registrar 19,6% em relação a março. Em todo país, a queda no período foi calculada em 13,8%.

Agora, toda atenção é focada no mês de junho. “Será importante para demonstrar o efetivo resultado da suspensão do IPI”, alertou o presidente da Federação do Comércio do Acre, Leandro Domingos.

Os empresários estão com expectativas altas. A redução do IPI já foi responsável pelo aumento das vendas em todo o país. Se contabilizados, além dos automóveis, os caminhões alcançam 288 mil unidades.

Mas, o setor está com cenário menos aquecido do que o ano passado. No acumulado do ano, de janeiro a maio de 2012, houve queda de 4,8%, comparado ao mesmo período do ano passado.

“Os clientes que deixarem para comprar de última hora não vão conseguir o modelo que desejam, já que as montadoras estão demorando em torno de 40 dias para entrega dos pedidos”, avisa o presidente da Federação do Comércio do Acre, Leandro Domingos. “Se o cliente efetivar o pedido e a fábrica não conseguir atender antes do término do prazo de suspensão do IPI, o cliente não gozará do benefício”.


 

Feira de Recuperação e Negócios anima comerciantes do Alto Acre

Rutemberg Crispim, Assessoria da Sedens
Um evento que vai ficar marcado na história, com a abertura de novas oportunidades para centenas de famílias. Assim pode ser definida a Feira de Recuperação e Negó-cios do Alto Acre, realizada pelo Governo do Estado, que contou com a participação de expositores de Brasiléia, Epitaciolândia, Xapuri e Assis Brasil. O evento que termina neste domingo, 10, mudou a rotina da população da região.
Secretário Edvaldo Magalhães foi conferir trabalho dos expositores do Alto Acre
Para se ter uma ideia dos benefícios, somente através da Secretaria de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis (Sedens), o Governo do Estado anunciou o investimento de R$ 10,8 milhões na implantação e reforma de parques industriais, com construção de galpões, de toda infraestrutura necessária e a compra de equipamentos, em Brasiléia (mais de R$ 5 milhões), Xapuri (mais de R$ 2,1 milhões) e Epitaciolândia (mais de 3,6 milhões).

O governador Tião Viana e o secretário da Sedens, Edvaldo Magalhães, também anunciaram um investimento de R$ 9 milhões na suinocultura em todo Estado. Do total, R$ 7 milhões serão investidos nas obras de construção e compra de equipamentos de um frigorífico, construção de unidades produtivas e parceria na empresa Dom Porquito, tudo em Brasiléia.

Também foi assinado um convênio com a Associação dos Moradores da Reserva Chico Mendes, no valor de R$ 240 mil para apoiar a elaboração de Planos de Manejo, possibilitando assim, que dezenas de famílias possam comercia-lizar madeira legalmente.

“O governador Tião Viana é um homem sensível às necessidades do nosso povo. Essa feira marca o início de um novo tempo para essa região que foi tão castigada com a cheia”, afirmou Magalhães.
No total, 16 indústrias, incluindo as cooperativas de marceneiros e 31 comerciantes do varejo, além de outros expositores da região do Alto Acre, participam da feira, que já nas duas primeiras noites superou a expectativa dos organizadores.


Ifac aumenta presença no interior do Estado

 

ITAAN ARRUDA
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre (Ifac) intensifica presença no interior do Estado. Tarauacá e Xapuri vão receber ainda este ano investimentos para estruturação de espaços físicos e abertura de concursos públicos.
Comitiva acreana formada por 93 integrantes foi destaque no Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica
A unidade de Tarauacá vai ser ampliada e terá capacidade para atender 1,2 mil alunos. E, para Xapuri, já foi aberto edital para contratação de 63 servidores públicos federais.

Existe um projeto do Governo do Acre, elaborado ainda na gestão do ex-governador Binho Marques, de transformar a região de Xapuri em uma espécie de centro difusão de pesquisa em várias áreas do conhecimento. Na atual gestão de Tião Viana, a sequência de ações do poder público na formação técnica continua.

O Centro de Biotecnologia criado no Ifac de Xapuri foi planejado para atender a uma demanda reprimida na produção de fármacos, aproveitando a biodiversidade presente na área da Reserva Extrativista Chico Mendes.
Não estão descartadas, inclusive, parcerias com instituições de ensino e pesquisa internacionais, articuladas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O fato é que por meio da execução dos trabalhos do instituto, uma nova forma de diálogo no campo científico se concretiza.

Com apenas um ano e dois meses de existência no Estado, o Ifac saiu de 400 alunos em dezembro de 2010 para 2.139 alunos em 2012. E, segundo Dados do Relatório Comparativo 2010/2012, pode chegar a mais de 6 mil nos próximos dois anos. Só a unidade de Rio Branco (no bairro Xavier Maia) tem capacidade para receber 3 mil alunos.

O crescimento rápido tem justificativa: parceria com o Governo do Estado. “Nós não teríamos como ter ampliado o número de alunos e a nossa presença no interior se não fosse a parceria com o Governo”, reconhece o reitor do Ifac, Marcelo Menghelli. “Começou com o Binho Marques e tem se intensificado com o Tião”.

81,74% dos alunos têm renda per capita entre 0,5 e 1 salário mínimo
De acordo com o Relatório de Gestão do Ifac, 58,7% dos alunos estão na faixa de renda per capita de até meio salário mínimo (algo em torno de R$ 272,50).

O segundo intervalo de análise socioeconômica calcula que 81,74% dos alunos do instituto estão na faixa de renda entre 0,5 e 1 salário mínimo.

Por esses dados, a meta estabelecida pelo Governo Federal de dar acesso à formação continuada e com maiores possibilidades de empregabilidade aos mais pobres está sendo atingida. “O que nós precisamos é fazer com que a comunidade, que já detém conhecimento, tenha contato com outras formas de saber e se aproprie disso”, afirma Menghelli. “Esse é um bom desafio”.

Qual a lógica dos Institutos Federais de Educação?
Reitor Marcelo MenghelliO investimento do governo estadual no Ifac faz parte de uma nova lógica na gestão pública. Para compreender essa dinâmica é preciso compreender a concepção do instituto, que está longe de ser consenso no meio acadêmico.

A forma como os institutos foram concebidos guarda relação com a tentativa de descentralização da produção científica do eixo Sul/Sudeste. Era preciso “interiorizar e democratizar”, defendia o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, defensor do formato.

O ex-presidente avaliava que as universidades federais não formavam mão de obra com a velocidade que o mercado exigia. E pior: o mercado exigia uma especificidade que, muitas vezes, não dialogava com a tradição do bacharelado.

É justamente nesse ponto que surge uma polêmica de ordem teórica que tenta responder à seguinte pergunta: “Qual o papel da universidade?”. O reitor do Ifac admite que o formato dos institutos não tem referências.

“Foi construído um modelo institucional inédito adaptado à realidade brasileira e foi inserido nas escolas técnicas e nos centros federais de educação tecnológica”, explica o reitor Menghelli. “Nós juntamos as pontas”.

Em tese, os pedagogos criaram um formato que limita a pluralidade de cursos nos institutos. “Nós trabalhamos com a lógica da verticalização do ensino”, pontua o reitor. Isso significa que o aluno formado pelos institutos federais sai praticamente um especialista; uma raridade no mercado de trabalho. Sobretudo aqui na região.

A criação de eixos de atuação é feita em parceria com os gestores do Governo. Tudo é pensado de acordo com as prioridades dos arranjos produtivos locais. Atualmente, há turmas que estão sendo formadas em Rio Branco e Cruzeiro do Sul com foco em Aquicultura.

A justificativa é que o Programa de Fortalecimento da Piscicultura vai precisar de pessoas qualificadas para executar o manejo de águas e capazes de gerir se não toda ao menos parte da cadeia produtiva industrial do peixe.
Outro exemplo que pode ser lembrado é o da unidade do Ifac na Baixada do Sol. Ali, há alunos sendo formados para atuar na área da construção civil porque se constatou que essa era uma demanda necessária às empresas locais.

“No princípio, o que dá a empregabilidade é a profissionalização”, afirma Menghelli sobre a necessidade de valorização permanente do estudo. “Mas, o que aumenta a renda do trabalhador é a qualificação contínua”. Nos institutos federais, existe a possibilidade de o aluno entrar frequentando o Pró-Eja e terminar os estudos fazendo doutorado.


 

NOTAS ECONÔMICAS

Sorriso
Se vivo estivesse, o presidente José Alencar deveria estar rindo. Mineiramente, à moda inglesa, com o canto de boca, mas rindo: a redução dos juros como vetor de estímulo à indústria era uma bandeira sempre defendida pelo presidente.

Boa influência
As prováveis interferên-cias do Palácio do Planalto junto ao Banco Central (naturalmente negadas) para redução da taxa básica disseminam um novo ambiente no setor financeiro. E tendo o Estado como indutor. A decisão da presidente Dilma Rousseff de reduzir as taxas de juros praticadas pelos bancos públicos que o digam. Influenciou, inclusive, o setor privado.

Fundos
O efeito cascata veio na sequência. O senador Jorge Viana (PT/AC) se adiantou e sugeriu que a redução dos juros seja também praticada nos fundos constitucionais do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Estímulo
A intenção do senador é tornar o ambiente econômico nessas regiões ainda mais atrativo para o setor produtivo, seja na indústria, no comércio ou nos serviços. Ao menos, em tese, tem um forte argumento para receber adesão das três bancadas federais dos estados envolvidos. A proposta é boa e merece vigilância.

Tanto faz…
Do jeito que está, o empresário acessar o FNO (Fundo Constitucional do Norte) por meio do Banco da Amazônia, ou qualquer financiamento de outro banco, pouco difere.

… como tanto fez
Quando colocada na ponta do lápis, a burocracia consolida a distância do FNO com o produtor ou empresário. O retorno de recursos anuais para Belém comprova a necessidade de mudança na gestão do fundo proposta no Senado. O argumento oficial de que volta dinheiro “por falta de bons projetos” precisa ser revisto.

Tom
É preciso um pouco mais de cautela na divulgação das ações envolvendo pequenos negócios. A distribuição dos equipamentos às famílias de baixa renda para que tenham uma atividade rentável tem uma finalidade: fazer com que o Acre não exploda pela concentração de renda. O tom está ufanista demais.

Tom II
A impressão que se tem é que o PIB do Acre vai crescer 200% com a distribuição de roçadeiras, enxadas e máquinas de costura. Na verdade, trata-se mais de uma ação social do que econômica. A medida é necessária. Mas, o cuidado na forma como se apresenta é importante até mesmo para valorizar a própria ação de governo.

Feijão chinês
Competitividade é o seguinte: trazer uma saca de 60 quilos de feijão da China e conseguir colocar nos portos brasileiros por R$ 50 ou R$ 60. No Brasil, pesquisadores estimam que o custo de produção do feijão tupiniquim não sai por menos de R$ 65.

Quebra ou não quebra?
Com uma agressividade desta no mercado, a China não quebra o agricultor brasileiro porque o Governo Federal endurece no limite da pauta de importação. E tem mais: o feijão de lá vem limpinho, sem nenhuma sujeira. Bonito para os olhos do consumidor.

Desafios
Na Secretaria de Agrope-cuária, o desafio mais urgente de Lourival Marques é resolver o problema da produção e comercialização de leite.

Desafios II
Esse problema incomoda tanto ao governador Tião Viana que, em uma das últimas viagens que fez a São Paulo, visitou pessoalmente uma indústria para demonstrar a viabilidade econômica de se investir nos setor aqui no Estado.

Nada fácil
Não é tarefa fácil. Foi um dos gargalos não resolvidos por Mauro Ribeiro na Seap, mesmo com todo empenho e seriedade com que conduzia o processo. Para ser rentável financeiramente, o raciocínio dos empresários gira em torno de centenas de milhares de litros diários. E com infraestrutura para logística já instalada. Nesse setor, as gestões da Frente Popular pagam o preço pela ingerência de governos passados.

Carne
Outro drama que Lourival Marques deve atentar é para a regulação da pauta de comercialização da carne. Esse é um gargalo que já rendeu boas farpas entre governo e produtores e tem que ser prio-ridade na agenda.

Bem que se quis
O fato é que, a partir de agora, o desenho administrativo do setor produtivo está ficando do jeito que o governador Tião Viana desejava ainda no período da transição. Portanto, é natural o aumento da pressão em torno de resultados.


‘Teologia da Prosperidade’

Trabalho de igrejas traz impacto para pequenos empreendimentos

ITAAN ARRUDA
“Foi Jesus quem me deu”. “Dado por Deus e guiado por mim”. São frases comuns impressas em adesivos e postadas em carros novos que desfilam por ruas de todo país. No Acre, não é diferente.
Adeptos da “Teologia da Prosperidade” relacionam ganhos materiais com princípios cristãos
Normalmente, quem usa desses recursos para valorizar a posse do veículo é adepto de uma corrente do protestantismo batizada de Teologia da Prosperidade. Surgiu nos Estados Unidos, no início do século passado.

Em linhas gerais, essa concepção relaciona as benesses dos aspectos materiais da vida com a fidelidade aos princípios cristãos. Igrejas protestantes que têm essa teologia como fundamento mantém atenção regular com os fiéis que são empresários.

Semanalmente, são feitas reuniões onde são debatidos os aspectos gerais da gestão empresarial; as dificuldades do mercado; se alguma conduta pessoal está interferindo no gerenciamento. Na prática, é apenas uma simples conversa. Selada com a tradicional oração de benção.

Um aspecto que chama atenção é o silêncio em torno do assunto. Nenhuma pessoa quis conversar sobre a questão. Todos asseguram que houve mudança nos negócios a partir das reuniões, mas se sentem incomodados em falar sobre o assunto.

Professor Enock PessoaA Igreja Universal do Reino de Deus, uma das que há mais tempo trabalha com os empresários aqui na Capital não quis conversar sobre o tema. O pastor Rodrigo, que responde pela igreja aqui no Acre, informou por meio de um de seus pastores que “estava participando da organização de um evento e não teria tempo de receber a reportagem”.

Aqui no Acre, as possibilidades de uma pequena ou microempresa fechar antes de completar o primeiro ano são grandes. Por não haver a cultura do planejamento; da não-realização de pesquisa de mercado antes de abrir um empreendimento e da desqualificação do empresariado (a maio-ria só possui o Ensino Médio), a socialização de problemas comuns é até bem-vinda.

E tem dado resultados. São centenas de relatos (“testemunhos”) de pessoas que “salvaram o negócio” depois que entraram para a igreja. “A comunidade precisa ter o equilíbrio entre o espiritual e o material”, afirma o doutor em Psicologia Social, Enock Pessoa, professor da Universidade Federal do Acre. “De qualquer maneira, está na base do protestantismo de que uma pessoa que é fiel a Deus é uma pessoa bem sucedida materialmente, economicamente falando”.

Essa leitura calvinista é, em certa medida, adotada por todo Ocidente, protestante ou não. Nas cédulas, a frase “Deus seja louvado” expressa exatamente o culto à relação entre religião e o universo econômico.

Entre os protestantes, são as denominações neo-pentecostais as que mais cultuam a Teologia da Prosperidade. “O protestantismo implica em ‘mudança de vida’, implica em ‘mudança ética’, em uma postura moral exemplar”, analisa o professor Enock Pessoa. “Essa postura moral exemplar é traduzida na Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, de Weber, como ‘trabalho’: a Ética do Trabalho. É aí que está a base do empresa-riado vinculado às igrejas”.

O professor avalia que o aspecto negativo não é as igrejas discutirem a gestão empresarial vinculada à conduta pessoal. O problema é o desequilíbrio. “Quando Jesus fala que ‘nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus’ [Mateus, 4], ele quer que haja equilíbrio entre a vida material e a vida espiritual”, afirmou. “A religião saudável apresenta uma proposta de equilíbrio entre as coisas. Nunca de exagero”.

Igreja Católica aborda outras prioridades
A relação entre igrejas com empresas não é algo prioritário para o catolicismo. “Esse negócio não muda a essência das coisas”, diz o coordenador da Pastoral Diocesana, padre Massimo Lombardi.

“Você diz que há muitos casos de pessoas que foram bem sucedidas depois que frequentam esses encontros e eu te digo que chega muita gente aqui no confessionário, vindas desses encontros que se sentiram enganadas”, informa o padre.

“É claro que o Cristo é um vencedor, mas o que temos que valorizar é o sacrifício que ele fez por nós e não usar isso para vender a imagem de um vencedor porque eu tenho isso ou eu tenho aquilo outro”, afirma.

Quem foi Max Weber?
Não seria exagero dizer que Weber inaugura o período moderno das Ciências Sociais. É considerado por estudiosos das mais diferentes linhas de pesquisa como um dos mais brilhantes pensadores de todos os tempos.

No início do século passado, escreve o seu mais famoso ensaio: A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. É a análise mais crítica e rigorosa, desde os escritos marxianos.

A obra é referência até hoje para quem pretende entender as estruturas sociais do Ocidente, em todos os seus paradoxos.

ENTREVISTA: Cid Mauro Araújo de Oliveira

Igreja com missão integral

Ele é teólogo, formado no Seminário Teológico Congregacional do Rio de Janeiro. Ainda na faculdade, se destacou no estudo do Hebraico, o que lhe credenciou a cursar Letras na Universidade Estadual do Rio de Janeiro e mais tarde concluir pós-graduação pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. A vida acadêmica foi reforçada com a tese de mestrado sobre o Antigo Testamento, defendida na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Cid Mauro Araújo de Oliveira pertence à denominação Congregacional. É um desses raros pastores que transita com respeito por todas as religiões ou expressões de fé. Apesar da sólida formação acadêmica, o tom da fala não é professoral.

No Acre há 17 anos, é um crítico da Teologia da Prosperidade, a concepção neo-pentecostal de que o cristão “verdadeiro” deve valorizar a posse de bens materiais. “A igreja evangélica está um pouco fora de foco”, alerta o pastor Cid Mauro.

O que igreja tem a ver com gestão empresarial?
Toda religião, e mais especificamente as igrejas evangélicas, correm o risco de ter pessoas mal intencionadas. Não se pode dizer que todas as pes-soas que estão fora das igrejas são desonestas e todas as pessoas que estão dentro sejam honestas. Podemos encontrar pessoas que tentam se aproveitar, em benefício próprio. Isso é da condição humana.

Mas, que relação há com princípios bíblicos ou cristãos?
O trabalho específico das igrejas evangélicas é o espírito, é a alma, é a conversão. Sugere-se à pessoa que se entrega a Cristo, que se converte de maneira sincera, ela vai mudar o homem todo. As igrejas visavam, ao longo da história, o que elas chamam de ‘espiritual’. Uma coisa, em certo sentido, vaga. As igrejas não estavam ligadas à ação social. Isso que se observa agora é uma novidade. As igrejas começaram a se preocupar com ações sociais, com empresas. Claro que corre-se o perigo de uma mudança de foco, mas é algo que ela pode fazer. Uma das coisas que mais se discute quando se estuda o capitalismo é o ‘lucro selvagem’.

A Igreja Católica tinha uma concepção muito diferente das igrejas protestantes no que se refere à geração de riqueza por meio do trabalho…
Historicamente, o capitalismo está bem relacionado com o protestantismo. Nós aprendemos que, quando houve a Reforma, a questão do trabalho, do empreendimento, do empreendedorismo, do capitalismo foi, a bem dizer, abençoa-da: houve uma reviravolta. O trabalho foi privilegiado. A questão do comércio, do enriquecimento deixou de ser algo ilícito. Essa concepção de que a pobreza está ligada à santidade, à espiritualidade, creio que no momento atual até a Igreja Católica já não defende isso. Por outro lado, eu tenho uma postura crítica em relação à chamada Teologia da Prosperidade, muito presente no meio evangélico.

Por que?
As pessoas ficam insinuando que você é abençoado, você faz uma troca financeira com Deus. As pessoas são até estimuladas a dar ofertas para a igreja porque ‘vai haver um retorno’. Em um país como o nosso, em uma realidade social como a nossa, com miséria, com exclusão social de toda ordem… como é que podemos ficar com essa história de Teologia da Prosperidade se nós temos uma rede em nossa volta com pessoas nessa condição? Então, aí eu acho que a igreja precisava pensar em algo que abrisse oportunidade para essas pessoas. Aí, nesse caso, a igreja deveria investir o seu dinheiro. Vou lembrar aqui as palavras do pastor Ariovaldo Ramos que diz o seguinte: ‘Os protestantes, no mundo todo, têm uma tremenda concentração de dinheiro nas mãos’. Está certo que as igrejas poderiam flertar com esse lado empresarial, mas tem certos desafios que estão postos na sociedade que elas poderiam se envolver com eles e até investindo o seu dinheiro para poder sanar esses problemas.

Como isso seria feito na prática?
Ao invés de dizer, como a Teologia da Prosperidade prega, que os fiéis vão ter dois apartamentos e quatro carros importados, deveriam estimular a se envolver na resolução de problemas sociais. Eu já ouvi até hinos de louvor com essa ideia de carros importados etc. É um absurdo! Em termos sociais, as igrejas deveriam se posicionar perante seus fiéis como instituições que valorizam o estudo, valorizam o trabalho. Há uma nutricionista na minha igreja que trabalha em Santa Rosa do Purus com os índios. Ela disse que chegou a ela uma criança com cinco anos e com corpo de dois. Uma criança subnutrida! Aqui, bem perto da gente! Faz parte da nossa realidade! E o que as igrejas evangélicas estão fazendo para combater isso? Podemos dizer: absolutamente nada. Posso dizer: a igreja evangélica está um pouco fora de foco. Concordo que ela pode até pensar na visão empresarial. Não há nenhum problema nisso. Mas, vamos colocar a coisa dentro de um foco. A ênfase dela precisa ser outra.

Qual seria a ênfase necessária?
A igreja precisa entender que ela tem uma missão integral. Não é somente a evangelização. Ou seja: não é fazer com que a pessoa se converta à sua doutrina. Como também não é só cuidar das ações sociais. Um teólogo britânico Jonh Stock afirma que a igreja não pode usar o discurso do cristianismo como isca. Não é isso. A igreja tem uma missão integral. João Batista disse que queria ver se as pessoas mudavam mesmo de dentro pra fora. Não venha com uma máscara. A igreja tem conseguido trazer muita gente para dentro dela? Sim. Mas, como é que essas pessoas vão voltar para a sociedade? Preparadas para fazer o quê? Isso é um desafio.

Os quatro últimos dias de maio salvaram o comércio de carros no Acre. Nesse curto período, foram emplacados 164 automóveis no Estado. De acordo com a Federação do Comércio, isso contribuiu para o setor fechasse o mês com vendas de 601 unidades e um aumento de 15,4% em relação a abril. O resultado coloca o Acre com 3,3 pontos percentuais a frente do aumento nacional calculado em 12,1%.
Leandro Domingos: otimismo, 601 carros foram vendidos em maio no Estado, 15,4% a mais que o mês de abril
O cenário é consequência das medidas adotadas pelo Governo Federal de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Para os empresários do Acre, a decisão do governo veio em boa hora.

Foi um dos piores fins de trimestres dos últimos anos. Em abril, a queda nas vendas chegou a registrar 19,6% em relação a março. Em todo país, a queda no período foi calculada em 13,8%.

Agora, toda atenção é focada no mês de junho. “Será importante para demonstrar o efetivo resultado da suspensão do IPI”, alertou o presidente da Federação do Comércio do Acre, Leandro Domingos.

Os empresários estão com expectativas altas. A redução do IPI já foi responsável pelo aumento das vendas em todo o país. Se contabilizados, além dos automóveis, os caminhões alcançam 288 mil unidades.

Mas, o setor está com cenário menos aquecido do que o ano passado. No acumulado do ano, de janeiro a maio de 2012, houve queda de 4,8%, comparado ao mesmo período do ano passado.

“Os clientes que deixarem para comprar de última hora não vão conseguir o modelo que desejam, já que as montadoras estão demorando em torno de 40 dias para entrega dos pedidos”, avisa o presidente da Federação do Comércio do Acre, Leandro Domingos. “Se o cliente efetivar o pedido e a fábrica não conseguir atender antes do término do prazo de suspensão do IPI, o cliente não gozará do benefício”.


 

Feira de Recuperação e Negócios anima comerciantes do Alto Acre

Rutemberg Crispim, Assessoria da Sedens
Um evento que vai ficar marcado na história, com a abertura de novas oportunidades para centenas de famílias. Assim pode ser definida a Feira de Recuperação e Negó-cios do Alto Acre, realizada pelo Governo do Estado, que contou com a participação de expositores de Brasiléia, Epitaciolândia, Xapuri e Assis Brasil. O evento que termina neste domingo, 10, mudou a rotina da população da região.
Secretário Edvaldo Magalhães foi conferir trabalho dos expositores do Alto Acre
Para se ter uma ideia dos benefícios, somente através da Secretaria de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis (Sedens), o Governo do Estado anunciou o investimento de R$ 10,8 milhões na implantação e reforma de parques industriais, com construção de galpões, de toda infraestrutura necessária e a compra de equipamentos, em Brasiléia (mais de R$ 5 milhões), Xapuri (mais de R$ 2,1 milhões) e Epitaciolândia (mais de 3,6 milhões).

O governador Tião Viana e o secretário da Sedens, Edvaldo Magalhães, também anunciaram um investimento de R$ 9 milhões na suinocultura em todo Estado. Do total, R$ 7 milhões serão investidos nas obras de construção e compra de equipamentos de um frigorífico, construção de unidades produtivas e parceria na empresa Dom Porquito, tudo em Brasiléia.

Também foi assinado um convênio com a Associação dos Moradores da Reserva Chico Mendes, no valor de R$ 240 mil para apoiar a elaboração de Planos de Manejo, possibilitando assim, que dezenas de famílias possam comercia-lizar madeira legalmente.

“O governador Tião Viana é um homem sensível às necessidades do nosso povo. Essa feira marca o início de um novo tempo para essa região que foi tão castigada com a cheia”, afirmou Magalhães.
No total, 16 indústrias, incluindo as cooperativas de marceneiros e 31 comerciantes do varejo, além de outros expositores da região do Alto Acre, participam da feira, que já nas duas primeiras noites superou a expectativa dos organizadores.


Ifac aumenta presença no interior do Estado

 

ITAAN ARRUDA
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre (Ifac) intensifica presença no interior do Estado. Tarauacá e Xapuri vão receber ainda este ano investimentos para estruturação de espaços físicos e abertura de concursos públicos.
Comitiva acreana formada por 93 integrantes foi destaque no Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica
A unidade de Tarauacá vai ser ampliada e terá capacidade para atender 1,2 mil alunos. E, para Xapuri, já foi aberto edital para contratação de 63 servidores públicos federais.

Existe um projeto do Governo do Acre, elaborado ainda na gestão do ex-governador Binho Marques, de transformar a região de Xapuri em uma espécie de centro difusão de pesquisa em várias áreas do conhecimento. Na atual gestão de Tião Viana, a sequência de ações do poder público na formação técnica continua.

O Centro de Biotecnologia criado no Ifac de Xapuri foi planejado para atender a uma demanda reprimida na produção de fármacos, aproveitando a biodiversidade presente na área da Reserva Extrativista Chico Mendes.
Não estão descartadas, inclusive, parcerias com instituições de ensino e pesquisa internacionais, articuladas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O fato é que por meio da execução dos trabalhos do instituto, uma nova forma de diálogo no campo científico se concretiza.

Com apenas um ano e dois meses de existência no Estado, o Ifac saiu de 400 alunos em dezembro de 2010 para 2.139 alunos em 2012. E, segundo Dados do Relatório Comparativo 2010/2012, pode chegar a mais de 6 mil nos próximos dois anos. Só a unidade de Rio Branco (no bairro Xavier Maia) tem capacidade para receber 3 mil alunos.

O crescimento rápido tem justificativa: parceria com o Governo do Estado. “Nós não teríamos como ter ampliado o número de alunos e a nossa presença no interior se não fosse a parceria com o Governo”, reconhece o reitor do Ifac, Marcelo Menghelli. “Começou com o Binho Marques e tem se intensificado com o Tião”.

81,74% dos alunos têm renda per capita entre 0,5 e 1 salário mínimo
De acordo com o Relatório de Gestão do Ifac, 58,7% dos alunos estão na faixa de renda per capita de até meio salário mínimo (algo em torno de R$ 272,50).

O segundo intervalo de análise socioeconômica calcula que 81,74% dos alunos do instituto estão na faixa de renda entre 0,5 e 1 salário mínimo.

Por esses dados, a meta estabelecida pelo Governo Federal de dar acesso à formação continuada e com maiores possibilidades de empregabilidade aos mais pobres está sendo atingida. “O que nós precisamos é fazer com que a comunidade, que já detém conhecimento, tenha contato com outras formas de saber e se aproprie disso”, afirma Menghelli. “Esse é um bom desafio”.

Qual a lógica dos Institutos Federais de Educação?
Reitor Marcelo MenghelliO investimento do governo estadual no Ifac faz parte de uma nova lógica na gestão pública. Para compreender essa dinâmica é preciso compreender a concepção do instituto, que está longe de ser consenso no meio acadêmico.

A forma como os institutos foram concebidos guarda relação com a tentativa de descentralização da produção científica do eixo Sul/Sudeste. Era preciso “interiorizar e democratizar”, defendia o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, defensor do formato.

O ex-presidente avaliava que as universidades federais não formavam mão de obra com a velocidade que o mercado exigia. E pior: o mercado exigia uma especificidade que, muitas vezes, não dialogava com a tradição do bacharelado.

É justamente nesse ponto que surge uma polêmica de ordem teórica que tenta responder à seguinte pergunta: “Qual o papel da universidade?”. O reitor do Ifac admite que o formato dos institutos não tem referências.

“Foi construído um modelo institucional inédito adaptado à realidade brasileira e foi inserido nas escolas técnicas e nos centros federais de educação tecnológica”, explica o reitor Menghelli. “Nós juntamos as pontas”.

Em tese, os pedagogos criaram um formato que limita a pluralidade de cursos nos institutos. “Nós trabalhamos com a lógica da verticalização do ensino”, pontua o reitor. Isso significa que o aluno formado pelos institutos federais sai praticamente um especialista; uma raridade no mercado de trabalho. Sobretudo aqui na região.

A criação de eixos de atuação é feita em parceria com os gestores do Governo. Tudo é pensado de acordo com as prioridades dos arranjos produtivos locais. Atualmente, há turmas que estão sendo formadas em Rio Branco e Cruzeiro do Sul com foco em Aquicultura.

A justificativa é que o Programa de Fortalecimento da Piscicultura vai precisar de pessoas qualificadas para executar o manejo de águas e capazes de gerir se não toda ao menos parte da cadeia produtiva industrial do peixe.
Outro exemplo que pode ser lembrado é o da unidade do Ifac na Baixada do Sol. Ali, há alunos sendo formados para atuar na área da construção civil porque se constatou que essa era uma demanda necessária às empresas locais.

“No princípio, o que dá a empregabilidade é a profissionalização”, afirma Menghelli sobre a necessidade de valorização permanente do estudo. “Mas, o que aumenta a renda do trabalhador é a qualificação contínua”. Nos institutos federais, existe a possibilidade de o aluno entrar frequentando o Pró-Eja e terminar os estudos fazendo doutorado.


 

NOTAS ECONÔMICAS

Sorriso
Se vivo estivesse, o presidente José Alencar deveria estar rindo. Mineiramente, à moda inglesa, com o canto de boca, mas rindo: a redução dos juros como vetor de estímulo à indústria era uma bandeira sempre defendida pelo presidente.

Boa influência
As prováveis interferên-cias do Palácio do Planalto junto ao Banco Central (naturalmente negadas) para redução da taxa básica disseminam um novo ambiente no setor financeiro. E tendo o Estado como indutor. A decisão da presidente Dilma Rousseff de reduzir as taxas de juros praticadas pelos bancos públicos que o digam. Influenciou, inclusive, o setor privado.

Fundos
O efeito cascata veio na sequência. O senador Jorge Viana (PT/AC) se adiantou e sugeriu que a redução dos juros seja também praticada nos fundos constitucionais do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Estímulo
A intenção do senador é tornar o ambiente econômico nessas regiões ainda mais atrativo para o setor produtivo, seja na indústria, no comércio ou nos serviços. Ao menos, em tese, tem um forte argumento para receber adesão das três bancadas federais dos estados envolvidos. A proposta é boa e merece vigilância.

Tanto faz…
Do jeito que está, o empresário acessar o FNO (Fundo Constitucional do Norte) por meio do Banco da Amazônia, ou qualquer financiamento de outro banco, pouco difere.

… como tanto fez
Quando colocada na ponta do lápis, a burocracia consolida a distância do FNO com o produtor ou empresário. O retorno de recursos anuais para Belém comprova a necessidade de mudança na gestão do fundo proposta no Senado. O argumento oficial de que volta dinheiro “por falta de bons projetos” precisa ser revisto.

Tom
É preciso um pouco mais de cautela na divulgação das ações envolvendo pequenos negócios. A distribuição dos equipamentos às famílias de baixa renda para que tenham uma atividade rentável tem uma finalidade: fazer com que o Acre não exploda pela concentração de renda. O tom está ufanista demais.

Tom II
A impressão que se tem é que o PIB do Acre vai crescer 200% com a distribuição de roçadeiras, enxadas e máquinas de costura. Na verdade, trata-se mais de uma ação social do que econômica. A medida é necessária. Mas, o cuidado na forma como se apresenta é importante até mesmo para valorizar a própria ação de governo.

Feijão chinês
Competitividade é o seguinte: trazer uma saca de 60 quilos de feijão da China e conseguir colocar nos portos brasileiros por R$ 50 ou R$ 60. No Brasil, pesquisadores estimam que o custo de produção do feijão tupiniquim não sai por menos de R$ 65.

Quebra ou não quebra?
Com uma agressividade desta no mercado, a China não quebra o agricultor brasileiro porque o Governo Federal endurece no limite da pauta de importação. E tem mais: o feijão de lá vem limpinho, sem nenhuma sujeira. Bonito para os olhos do consumidor.

Desafios
Na Secretaria de Agrope-cuária, o desafio mais urgente de Lourival Marques é resolver o problema da produção e comercialização de leite.

Desafios II
Esse problema incomoda tanto ao governador Tião Viana que, em uma das últimas viagens que fez a São Paulo, visitou pessoalmente uma indústria para demonstrar a viabilidade econômica de se investir nos setor aqui no Estado.

Nada fácil
Não é tarefa fácil. Foi um dos gargalos não resolvidos por Mauro Ribeiro na Seap, mesmo com todo empenho e seriedade com que conduzia o processo. Para ser rentável financeiramente, o raciocínio dos empresários gira em torno de centenas de milhares de litros diários. E com infraestrutura para logística já instalada. Nesse setor, as gestões da Frente Popular pagam o preço pela ingerência de governos passados.

Carne
Outro drama que Lourival Marques deve atentar é para a regulação da pauta de comercialização da carne. Esse é um gargalo que já rendeu boas farpas entre governo e produtores e tem que ser prio-ridade na agenda.

Bem que se quis
O fato é que, a partir de agora, o desenho administrativo do setor produtivo está ficando do jeito que o governador Tião Viana desejava ainda no período da transição. Portanto, é natural o aumento da pressão em torno de resultados.


‘Teologia da Prosperidade’

Trabalho de igrejas traz impacto para pequenos empreendimentos

ITAAN ARRUDA
“Foi Jesus quem me deu”. “Dado por Deus e guiado por mim”. São frases comuns impressas em adesivos e postadas em carros novos que desfilam por ruas de todo país. No Acre, não é diferente.
Adeptos da “Teologia da Prosperidade” relacionam ganhos materiais com princípios cristãos
Normalmente, quem usa desses recursos para valorizar a posse do veículo é adepto de uma corrente do protestantismo batizada de Teologia da Prosperidade. Surgiu nos Estados Unidos, no início do século passado.

Em linhas gerais, essa concepção relaciona as benesses dos aspectos materiais da vida com a fidelidade aos princípios cristãos. Igrejas protestantes que têm essa teologia como fundamento mantém atenção regular com os fiéis que são empresários.

Semanalmente, são feitas reuniões onde são debatidos os aspectos gerais da gestão empresarial; as dificuldades do mercado; se alguma conduta pessoal está interferindo no gerenciamento. Na prática, é apenas uma simples conversa. Selada com a tradicional oração de benção.

Um aspecto que chama atenção é o silêncio em torno do assunto. Nenhuma pessoa quis conversar sobre a questão. Todos asseguram que houve mudança nos negócios a partir das reuniões, mas se sentem incomodados em falar sobre o assunto.

Professor Enock PessoaA Igreja Universal do Reino de Deus, uma das que há mais tempo trabalha com os empresários aqui na Capital não quis conversar sobre o tema. O pastor Rodrigo, que responde pela igreja aqui no Acre, informou por meio de um de seus pastores que “estava participando da organização de um evento e não teria tempo de receber a reportagem”.

Aqui no Acre, as possibilidades de uma pequena ou microempresa fechar antes de completar o primeiro ano são grandes. Por não haver a cultura do planejamento; da não-realização de pesquisa de mercado antes de abrir um empreendimento e da desqualificação do empresariado (a maio-ria só possui o Ensino Médio), a socialização de problemas comuns é até bem-vinda.

E tem dado resultados. São centenas de relatos (“testemunhos”) de pessoas que “salvaram o negócio” depois que entraram para a igreja. “A comunidade precisa ter o equilíbrio entre o espiritual e o material”, afirma o doutor em Psicologia Social, Enock Pessoa, professor da Universidade Federal do Acre. “De qualquer maneira, está na base do protestantismo de que uma pessoa que é fiel a Deus é uma pessoa bem sucedida materialmente, economicamente falando”.

Essa leitura calvinista é, em certa medida, adotada por todo Ocidente, protestante ou não. Nas cédulas, a frase “Deus seja louvado” expressa exatamente o culto à relação entre religião e o universo econômico.

Entre os protestantes, são as denominações neo-pentecostais as que mais cultuam a Teologia da Prosperidade. “O protestantismo implica em ‘mudança de vida’, implica em ‘mudança ética’, em uma postura moral exemplar”, analisa o professor Enock Pessoa. “Essa postura moral exemplar é traduzida na Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, de Weber, como ‘trabalho’: a Ética do Trabalho. É aí que está a base do empresa-riado vinculado às igrejas”.

O professor avalia que o aspecto negativo não é as igrejas discutirem a gestão empresarial vinculada à conduta pessoal. O problema é o desequilíbrio. “Quando Jesus fala que ‘nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus’ [Mateus, 4], ele quer que haja equilíbrio entre a vida material e a vida espiritual”, afirmou. “A religião saudável apresenta uma proposta de equilíbrio entre as coisas. Nunca de exagero”.

Igreja Católica aborda outras prioridades
A relação entre igrejas com empresas não é algo prioritário para o catolicismo. “Esse negócio não muda a essência das coisas”, diz o coordenador da Pastoral Diocesana, padre Massimo Lombardi.

“Você diz que há muitos casos de pessoas que foram bem sucedidas depois que frequentam esses encontros e eu te digo que chega muita gente aqui no confessionário, vindas desses encontros que se sentiram enganadas”, informa o padre.

“É claro que o Cristo é um vencedor, mas o que temos que valorizar é o sacrifício que ele fez por nós e não usar isso para vender a imagem de um vencedor porque eu tenho isso ou eu tenho aquilo outro”, afirma.

Quem foi Max Weber?
Não seria exagero dizer que Weber inaugura o período moderno das Ciências Sociais. É considerado por estudiosos das mais diferentes linhas de pesquisa como um dos mais brilhantes pensadores de todos os tempos.

No início do século passado, escreve o seu mais famoso ensaio: A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. É a análise mais crítica e rigorosa, desde os escritos marxianos.

A obra é referência até hoje para quem pretende entender as estruturas sociais do Ocidente, em todos os seus paradoxos.

ENTREVISTA: Cid Mauro Araújo de Oliveira

Igreja com missão integral

Ele é teólogo, formado no Seminário Teológico Congregacional do Rio de Janeiro. Ainda na faculdade, se destacou no estudo do Hebraico, o que lhe credenciou a cursar Letras na Universidade Estadual do Rio de Janeiro e mais tarde concluir pós-graduação pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. A vida acadêmica foi reforçada com a tese de mestrado sobre o Antigo Testamento, defendida na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Cid Mauro Araújo de Oliveira pertence à denominação Congregacional. É um desses raros pastores que transita com respeito por todas as religiões ou expressões de fé. Apesar da sólida formação acadêmica, o tom da fala não é professoral.

No Acre há 17 anos, é um crítico da Teologia da Prosperidade, a concepção neo-pentecostal de que o cristão “verdadeiro” deve valorizar a posse de bens materiais. “A igreja evangélica está um pouco fora de foco”, alerta o pastor Cid Mauro.

O que igreja tem a ver com gestão empresarial?
Toda religião, e mais especificamente as igrejas evangélicas, correm o risco de ter pessoas mal intencionadas. Não se pode dizer que todas as pes-soas que estão fora das igrejas são desonestas e todas as pessoas que estão dentro sejam honestas. Podemos encontrar pessoas que tentam se aproveitar, em benefício próprio. Isso é da condição humana.

Mas, que relação há com princípios bíblicos ou cristãos?
O trabalho específico das igrejas evangélicas é o espírito, é a alma, é a conversão. Sugere-se à pessoa que se entrega a Cristo, que se converte de maneira sincera, ela vai mudar o homem todo. As igrejas visavam, ao longo da história, o que elas chamam de ‘espiritual’. Uma coisa, em certo sentido, vaga. As igrejas não estavam ligadas à ação social. Isso que se observa agora é uma novidade. As igrejas começaram a se preocupar com ações sociais, com empresas. Claro que corre-se o perigo de uma mudança de foco, mas é algo que ela pode fazer. Uma das coisas que mais se discute quando se estuda o capitalismo é o ‘lucro selvagem’.

A Igreja Católica tinha uma concepção muito diferente das igrejas protestantes no que se refere à geração de riqueza por meio do trabalho…
Historicamente, o capitalismo está bem relacionado com o protestantismo. Nós aprendemos que, quando houve a Reforma, a questão do trabalho, do empreendimento, do empreendedorismo, do capitalismo foi, a bem dizer, abençoa-da: houve uma reviravolta. O trabalho foi privilegiado. A questão do comércio, do enriquecimento deixou de ser algo ilícito. Essa concepção de que a pobreza está ligada à santidade, à espiritualidade, creio que no momento atual até a Igreja Católica já não defende isso. Por outro lado, eu tenho uma postura crítica em relação à chamada Teologia da Prosperidade, muito presente no meio evangélico.

Por que?
As pessoas ficam insinuando que você é abençoado, você faz uma troca financeira com Deus. As pessoas são até estimuladas a dar ofertas para a igreja porque ‘vai haver um retorno’. Em um país como o nosso, em uma realidade social como a nossa, com miséria, com exclusão social de toda ordem… como é que podemos ficar com essa história de Teologia da Prosperidade se nós temos uma rede em nossa volta com pessoas nessa condição? Então, aí eu acho que a igreja precisava pensar em algo que abrisse oportunidade para essas pessoas. Aí, nesse caso, a igreja deveria investir o seu dinheiro. Vou lembrar aqui as palavras do pastor Ariovaldo Ramos que diz o seguinte: ‘Os protestantes, no mundo todo, têm uma tremenda concentração de dinheiro nas mãos’. Está certo que as igrejas poderiam flertar com esse lado empresarial, mas tem certos desafios que estão postos na sociedade que elas poderiam se envolver com eles e até investindo o seu dinheiro para poder sanar esses problemas.

Como isso seria feito na prática?
Ao invés de dizer, como a Teologia da Prosperidade prega, que os fiéis vão ter dois apartamentos e quatro carros importados, deveriam estimular a se envolver na resolução de problemas sociais. Eu já ouvi até hinos de louvor com essa ideia de carros importados etc. É um absurdo! Em termos sociais, as igrejas deveriam se posicionar perante seus fiéis como instituições que valorizam o estudo, valorizam o trabalho. Há uma nutricionista na minha igreja que trabalha em Santa Rosa do Purus com os índios. Ela disse que chegou a ela uma criança com cinco anos e com corpo de dois. Uma criança subnutrida! Aqui, bem perto da gente! Faz parte da nossa realidade! E o que as igrejas evangélicas estão fazendo para combater isso? Podemos dizer: absolutamente nada. Posso dizer: a igreja evangélica está um pouco fora de foco. Concordo que ela pode até pensar na visão empresarial. Não há nenhum problema nisso. Mas, vamos colocar a coisa dentro de um foco. A ênfase dela precisa ser outra.

Qual seria a ênfase necessária?
A igreja precisa entender que ela tem uma missão integral. Não é somente a evangelização. Ou seja: não é fazer com que a pessoa se converta à sua doutrina. Como também não é só cuidar das ações sociais. Um teólogo britânico Jonh Stock afirma que a igreja não pode usar o discurso do cristianismo como isca. Não é isso. A igreja tem uma missão integral. João Batista disse que queria ver se as pessoas mudavam mesmo de dentro pra fora. Não venha com uma máscara. A igreja tem conseguido trazer muita gente para dentro dela? Sim. Mas, como é que essas pessoas vão voltar para a sociedade? Preparadas para fazer o quê? Isso é um desafio.

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