Sob a promessa de salários atraentes, a atuação dos chamados coiotes – pessoas que prestam serviço de atravessar fronteiras ilegalmente – tem sido responsável pela imigração dos haitianos ao Brasil, intensificada desde dezembro de 2011. Com três roteiros básicos, os coiotes aperfeiçoam os itinerários de viagem de acordo com a vigilância estabelecida pelos países envolvidos.
Há um ano e meio, o funcionário da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Acre, Damião Borges de Melo, foi transferido para Brasileia, município na fronteira com a Bolívia, com o objetivo de implantar e coordenar as ações humanitárias aos haitianos. Neste período, ele colheu informações sobre as rotas e forma de atuação dos coiotes.
Segundo ele, os relatos mostram que o maior problema está no próprio Haiti. “Os coiotes de lá iludem os haitianos com a história de que, no Brasil, podem ganhar salários até US$ 2 mil”, disse Damião Borges à Agência Brasil. Pressionado pela presença dos haitianos, o governo acriano anunciou que os gastos humanitários com esses imigrantes chegaram ao limite.
Após realizar o pagamento pelo serviço, os imigrantes seguem um dos roteiros pré-estabelecidos. O primeiro sai do Haiti via República Dominicana, país de fronteira. De lá, utilizam transporte aéreo até o Panamá, de onde partem para o Equador. É neste país, de acordo com Damião Borges, que os haitianos viajam cerca de 3.600 quilômetros até Iñapari, na Bolívia, para entrar no Brasil pela cidade acriana de Assis Brasil.
Outra porta de entrada no país utilizada pelos coiotes é Tabatinga (AM), que faz fronteira com a Colômbia e o Peru. O funcionário do governo do Acre ouviu relatos dos haitianos em Brasileia de que amigos teriam feito esse roteiro.
Para entrar no Brasil pelo Amazonas, os haitianos deixam seu país com destino ao Equador. De lá, seguem para Lima, capital do Peru, de onde partem para a fronteira para entrar no país por Tabatinga. Existe ainda outro roteiro que segue pela República Dominicana e, depois, para Lima, capital do Peru. Daí é feito o mesmo trajeto para o Amazonas.
“Pelos relatos que ouvi das pessoas que chegaram a Brasileia do ano passado para cá, 95% dos imigrantes passam obrigatoriamente pelo Equador. Na fronteira do Equador com o Peru, os haitianos chegam a pagar US$ 250 por um carimbo de entrada falso no país. O problema maior está lá [Equador]”, relatou Damião Borges.
Essa rede de imigração ilegal de haitianos conta com o apoio de coiotes no Haiti, Equador, Peru e na Bolívia. O funcionário do governo do Acre disse que, com o recrudescimento da vigilância nas fronteiras do Brasil e Bolívia, principalmente, tem diminuído o número de haitianos que utilizam coiotes para vir ao Brasil.
Com parentes e amigos já estabelecidos no país, Damião Borges destacou que os haitianos agora recebem informações diretamente dos imigrantes de como entrar no Brasil. Poucos ainda utilizam pequenas estradas que cortam a Floresta Amazônica para chegar à fronteira brasileira. Agora, disse Damião, eles preferem o trajeto de ônibus até Iñapari.
Dos haitianos que ainda estão legalmente na cidade de Brasileia, o representante da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos disse que 56 foram encaminhados para trabalhar em empresas de Porto Velho (RO). Amanhã, outros seis seguem para o Rio Grande do Sul com empregos também garantidos.
Damião Borges disse, ainda, que nesta sexta-feira (22) seis haitianos viajarão para o estado do Rio de Janeiro e outros seis para Santa Catarina, já contratados com carteira de trabalho assinada. Na semana que vem, acrescentou, uma empresa de Minas Gerais levará outros 26 haitianos para trabalhar no estado. (Agência Brasil)