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Arborização em conjuntos habitacionais populares – o caso do Conjunto Tucumã I

A arborização é um componente importante na paisagem urbana e, além da função paisagística, ela proporciona outros benefícios à população como sombreamento, absorção de parte dos raios solares, diminuição da poluição sonora, ambientação para a fauna urbana, diminuição da poluição atmosférica e melhoria da percepção de saúde física e mental dos que desfrutam da mesma.

Embora os benefícios da arbo-rização sejam numerosos, sua implantação é complexa e pode causar transtornos futuros se não for realizada de forma planejada. Ao se planejar a arborização devem-se considerar as características e peculiaridades de cada local ou ambiente com relação à ocorrência de fiação aérea, tubulação subterrânea, espaço livre nas calçadas para o plantio das árvores e índices de fertilidade e profundidade do solo. Diante disso, a escolha das espécies a serem utilizadas na arborização tem importância fundamental para o sucesso ou fracasso da iniciativa.

E a arborização em conjuntos habitacionais populares construídos em Rio Branco com recursos públicos, nos quais os administradores tentam fazer o máximo com um mínimo de recursos, merece ser avaliada. Existem vários desses empreendimentos construídos em nossa cidade nas décadas de 70 e 80, mas nesse artigo são apresentados os resultados referentes à situação da arborização no conjunto Tucumã I, inaugurado em meados dos anos 80, ou seja, há mais de 25 anos.

As informações foram obtidas a partir de visitas e observações in loco das espécies vegetais usadas na arborização das 22 ruas que compõe o bairro, em uma extensão de 5,32 km lineares. Foram identificadas e registradas as espécies e a quantidade de indivíduos usados na arborização do bairro, e feitas observações relativas ao espaço livre disponível nas calçadas, necessidade de poda da copa e infestação das plantas por cupins, fungos e plantas parasitas.

Os resultados do levantamento revelaram um total de 50 árvores cultivadas com fins ornamentais no bairro, distribuídas em 16 espécies, 15 gêneros e 10 famílias botânicas. A espécie mais freqüente foi o benjamim (Ficus benjamina), que representou 44% dos indivíduos encontrados, seguida pela ingá-mirm (Inga sp.), com 12%, mangueira (Mangifera indica), com 8% e goiabeira (Psidium guajava), com 6%. Juntas estas quatro espécies representam 72% de todos os indivíduos levantados, indicando uma baixa diversidade entre as espécies arbóreas cultivadas no bairro.

O benjamim, com 35%, foi a espécie com maior frequência de ocorrência, indicando falta de planejamento da arborização, pois a frequência máxima admitida para qualquer espécie usada em arborização é de 15%. O cultivo excessivo de poucas espécies contribui para a monotonia estética da paisagem e favorece o aparecimento de problemas fitossanitários. A alta ocorrência do benjamim pode ser resultado da sua fácil propagação vegetativa – basta enterrar um galho para produzir uma nova muda. Além disso, alguns moradores indicaram que a arborização do bairro foi feita por eles, sem qualquer orientação de técnicos dos órgãos públicos responsáveis pela atividade.

Outro aspecto decepcionante observado na arborização do conjunto Tucumã I foi que apenas 20% dos indivíduos cultivados eram de espécies nativas da região. Dentre as exóticas, algumas são completamente inadequadas para uso na arborização, como a mangueira, jambo e cajueiro.

 No que se refere ao espaço livre disponível sobre as calçadas para o desenvolvimento das plantas, foi observado que a maioria das árvores levantadas (56%) possuía mais de 1 m², um valor que favorece o seu desenvolvimento normal. Este resultado positivo, infelizmente, revela uma omissão recorrente por parte dos planejadores urbanos de nossa cidade no que se refere à disponibilização de espaço para a construção de calçadas e da arborização nos conjuntos habitacionais populares.

Embora o espaço para a construção de calçadas seja observado pelos planejadores – e na maioria das vezes as calçadas são entregues junto com as casas – o espaço para a arborização é quase sempre desconsiderado. Por isso, muitos conjuntos habitacionais, incluindo os mais recentes, carecem de arborização adequada em razão da impossibilidade de arborizar calçadas de 1,2 m de largura sem causar problemas para os pedestres. Os moradores do conjunto Tucumã I que o digam: onde existem árvores cultivadas nas calçadas, eles são obrigados a caminhar no meio da rua.

Outro aspecto deficiente da arborização do conjunto Tucumã I é a falta de cuidado com as árvores: 60% delas demandavam algum tipo de poda e 58% estavam infestadas por cupim ou fungos. A inoperância do poder público faz com que muitos moradores assumam essa responsabilidade, correndo o risco de fazer um trabalho inadequado e causar a morte das plantas.
De uma maneira geral, e considerando a extensão linear da área amostrada, a arborização no conjunto Tucumã I apresenta baixa quantidade e diversidade de árvores cultivadas. A baixa quantidade de plantas decorre das calçadas muito estreitas, em alguns casos com menos de 1 m de largura, que além de impossibilitar o cultivo de espécies arbóreas, mal acomodam os postes da rede de energia elétrica. Situações similares são frequentes em outros conjuntos habi-tacionais mais antigos como Cohab do Bosque, Bela Vista e Floresta.

As deficiências na arborização em conjuntos habitacionais populares construídos com recursos públicos em nossa cidade são parcialmente justificáveis porque muitos deles foram construídos quando inexistiam normas técnicas e leis regulamentando o tema. Hoje as normas técnicas existem, mas a legislação não. O resultado é que sem a obrigação de serem arborizados por ocasião de sua construção, os novos empreendimentos – especialmente os do ‘Minha Casa, Minha Vida’ – continuam a ser entregues sem arborização alguma ou com erros que causarão problemas no futuro.

Felizmente a solução está a caminho. Em maio de 2011 o Deputado Federal Romero Rodrigues (PSDB-PB) apresentou o Projeto de Lei 1379 que obriga empresas construtoras de conjuntos habitacionais financiados pelo poder público a arborizar os passeios públicos desses empreendimentos.

* Evandro Ferreira é Engenheiro Agrônomo e Pesquisador do Inpa/Parque Zoobotânico da Ufac
** Ednéia A. dos Santos é Engenheira Florestal e Bolsista da Embrapa/Cenargen
*** João B. N. Queiroz é auxilia técnico do Inpa/Parque Zoobotânico da Ufac

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