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Rio Branco Futebol Clube – No Limiar dos limiares

Devo confessar que tento evitar reações apaixonadas quando a assunto é futebol. Acho que a razão é preponderante para uma boa análise futebolística. Por exemplo: não levo em consideração o fato de ser fervoroso torcedor do futebol acreano, para afirmar que a exclusão do Rio Branco da série C é uma das maiores aberrações que o país penta campeão do mundo já produziu.

Voltemos no tempo para entender o que não pode ser entendido. Durante a série C do ano passado alguém que sabe “muito” de futebol proibiu a presença de público no Arena da Floresta através de uma liminar (odeio essa palavra). Eu adoraria convidar a pessoa responsável por essa brilhante ideia para passear pelos outros estádios que recebem jogos e curtir as cadeiras “luxuosas” do estádio da Luverdense, ou a super estrutura do Estádio do Águia de Marabá, ou as confortáveis cabines do tradicional Estádio da Curuzu em Belém do Pará, etc… Sinceramente se a nossa Arena, que é um dos melhores estádios da série C, se não o melhor, não pode receber público, podem parar de praticar futebol no Brasil. Exceto, é claro, o campeonato do Calafate.

Bom, o fato é que para contar com o torcedor, o Rio Branco entrou na Justiça comum e conseguiu uma liminar (odeio muito essa palavra), garantindo a presença da galera! E é aí que tudo começa. Entrar na Justiça comum contra a CBF é passível de punição e por isso o Estrelão foi excluído da fase final da competição do ano passado, mesmo tendo ganho essa vaga no campo. Como se não bastasse, correu sério risco de ser rebaixado mesmo tendo ficado em primeiro no grupo.  Depois de várias liminares (odeio de verdade), chegamos em 2012. Ano novo, história velha e um novo protagonista, o todo poderoso Treze da Paraíba – um time que mete medo em qualquer adversário, incontestável 6º colocado da série D – entra em campo, ou melhor no Tribunal, já que o campo de futebol já perdeu a essa altura totalmente a importância. E acreditem, através de uma liminar (como estou sofrendo digitando isso!), conseguiu sair do meio da tabela da série D, direto para a série C. É claro que quem pagou o pato com esse verdadeiro “nó tático-jurídico”, infelizmente pra quem aprecia futebol jogado e decidido dentro das quatro linhas, foi o Rio Branco.

O termo justiça (do latim iustitia, por via semi-erudita), de maneira simples, diz respeito à igualdade de todos os cidadãos. É o princípio básico de um acordo que objetiva manter a ordem social através da preservação dos direitos em sua forma legal (constitucionalidade das leis) ou na sua aplicação a casos específicos da sociedade (litígio).

Em um sentido mais amplo pode ser considerado como um termo abstrato que designa o respeito pelo direito de terceiros, a aplicação ou reposição do seu direito por ser maior em virtude moral ou material. Justo é aquilo que é equitativo ou consensual, adequado e legítimo (aplicar o direito nas suas próprias fontes – as pessoas – em igualitariedade). A Justiça pode ser reconhecida por mecanismos automáticos ou intuitivos nas relações sociais, ou por mediação através dos tribunais e em ordem à equidade.

Esse enunciado acima é o conceito de justiça devidamente tirado do Wikipédia e em síntese corresponde a palavras como eqüidade e igualdade. Agora reflitam comigo: o Rio Branco está fora da série C, em 2012, por ter entrado na Justiça comum contra a CBF. Já o Treze está na série C por ter entrado na Justiça comum contra a CBF. O mesmo pecado com recompensas bem diferentes. Ou seja, é evidente que nessa questão o poder judiciário, até o momento, só não se baseou em sua essência conceitual, que deveria norteá-lo: a justiça.

Agora chega desse assunto “preliminar” e vamos falar de futebol, que é o que deveria de fato interessar. O Rio Branco fez esse ano um dos maiores investimentos de sua história. Contratou uma comissão técnica cara e jogadores com bom nível técnico para tentar chegar a tão sonhada série B. Todos esses profissionais estão no momento sem ter certeza de nada. Existe um time, mas não existe o que disputar. É evidente que será impossível manter um elenco caro, para os padrões do futebol acreano, sem disputar nada. Se as coisas continuarem assim veremos, em breve, a dissolução da equipe estrelada. E certamente muito prejuízo virá por ai. Donde me pergunto: será que existem multas pela quebra dos contratos? Qual seria o valor dessas multas? Todas essas questões certamente serão respondidas pelos cofres do clube, que fez um esforço tremendo para formar uma equipe e tentar disputar algo no âmbito esportivo, mas acabou sendo humilhado nos tribunais.

Lembro que no ano passado e, aliás, no retrasado também, eu achei que o Rio branco tinha contratado mal, porque vários jogadores que vieram não corresponderam. Sempre achei que é importante contratar jogadores de fora. Mas quem vêm, tem que vir pra resolver. E o Estrelão, nos últimos anos, trouxe vários jogadores que tinham um alto custo e não conseguiam jogar melhor do que aqueles que aqui estavam e tinham um custo bem inferior.

Começo a achar que este ano o Rio Branco errou novamente. Acho que todo o dinheiro investido na comissão técnica e nos jogadores, deveria ter sido empregado na contratação de craques dos tribunais, advogados que jogassem de forma ofensiva e conseguissem fazer tabelinhas com juízes e promotores para garantir na “justiça” comum ou na desportiva os direitos do clube. Perdoem caros amigos se estou sendo irônico. Mas, devo confessar que quando analiso o que está acontecendo, começo a rir e quando estou rindo fico realmente sarcástico. Porém, apesar da ironia, não posso ser leviano ao afirmar o que não pode ser provado. Mas uma coisa é fato e contra os fatos não existem argumentos. Se não existe má fé, então existe um profundo desrespeito ao esporte e um total desconhecimento do futebol. Imaginem um diálogo entre dois torcedores do Treze comentando por horas os principais lances, os momentos mais emocionantes do julgamento que garantiu o acesso da equipe a série C. Sinceramente, não é assim que o futebol deveria ser jogado.

E você, caro leitor, deve estar se perguntando: mas porque o sexto colocado da série D vai jogar a C no lugar do Rio Branco? Se o Rio Branco sair, a vaga não deveria ser de quem veio logo atrás, no caso o Araguaina? Acreditem, essas perguntas eu também me faço e as respostas nunca me convencem. O fato é que o Treze vai jogar porque a Justiça da Paraíba quer. É simplória essa explicação, mas é real.

Não sou advogado e aqui não cairei na armadilha de tentar entender juridicamente o que aconteceu. Mas, diante da minha ingenuidade e da paixão que tenho pelo esporte bretão – e que tentei deixar de lado desde o início deste artigo, mesmo não tendo conseguido por completo – chego à conclusão que o futebol sai perdendo, e muito, com tudo isso. E se abre, a partir desse fato, uma jurisprudência bem perigosa. Aliás, acabo de ter uma ideia genial ao escrever esse texto, já que estamos no “País da Copa”, que tal entrarmos com uma liminar (juro que é a última vez que digito essa palavra) para nos garantir o Hexa dentro de casa. Afinal, se nos campos de futebol hoje somos o décimo primeiro colocado do ranking da FIFA, no futebol de tribunal provamos a cada dia que somos imbatíveis!!!

* Aarão Prado é radialista e comentarista esportivo (aaraoprado@gmail.com)

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