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Ser-no-mundo

O filosofo existencialista Martin Heidegger (1889-1976) dizia que o mundo existe  como conjunto de coisas utilizáveis. O sentido das coisas equivale em ser utilizadas pelo o homem. O homem, portanto, não é um expectador ou contemplador do grande teatro do mundo. O homem é um ser-no-mundo, envolvido nele e em suas agruras. Por outro lado, a raça humana compreende uma coisa quando sabe o que fazer dela. O ser humano em sua dimensão de pluralidade é um ser-com-os-outros e para-os-outros, asseverava Heidegger, a isto chamamos de convivência social. Este convívio, desgraçadamente, por causa do “natural” egoísmo do homem, provoca, inevitavelmente, confrontos e disputas, onde o mais forte e o mais esperto se beneficiam, provocando situações injustas.

Sendo assim, fica claro aos olhos de qualquer leigo, um  problema que sobeja a todos os demais.  Trata-se  da determinação do lugar  que o homem ocupa na natureza e das suas relações com o universo das coisas; por exemplo: quais são os limites de nosso poder sobre a natureza, pois o que  se vê é o homem usando e abusando do reino natural dos minerais, da flora e da fauna. Exploração predatória que só visam os lucros para se gastar com o desnecessário.

Não é preciso ser grande estu-dioso das ciências experimentais ou metafísicas para saber a origem dessa selvageria contra a natureza, notadamente a selvageria da cultura das queimadas. Esse mal, que é mais moral do que qualquer outra coisa, apesar das investidas enfurecidas da natureza via furacões “katrinas”, “ritas” e “tsunames”, tem trazido grande desgraça a existência humana. As queimadas se resumem na impiedade gananciosa do homem contra o seu próximo.

Nem bem começou o “verão amazônico” e nós destas plagas, especialmente os habitantes do II Distrito, estamos a conviver  com grande quantidade de fuligem, substância preta, que antigamente se dizia oriunda da fumaça dos fogões à lenha ou a carvão; esta fuligem era depositada nas paredes e em tetos das cozinhas e nos canos das chaminés. Em defesa do fato, essa definição de fuligem, dada pelos bons dicionários, é nos dias atuais, café pequeno, uma vez que aqui  no Residencial Santo Afonso, há fuligem em todo lugar. Sem exagero não há um só lugar num aposento de qualquer casa por aqui, salvo um ou outro quarto fechado a sete chaves, em que a fuligem deixe de estar. Elas são irresistíveis, terríveis mesmo.

Aliás o  Residencial Santo Afonso virou uma verdadeira sucursal do inferno. Sem chuva e com dezenas de lotes (12X25) sendo queimado por seus respectivos donos isto aqui parece mais o deserto do Arizona do século 19. Para completar o tormento, há ainda os veículos em velocidade desproporcional, dirigidos por energúmenos, que circulam pelas ruas esburacadas do residencial levantando uma poeira danada!

Queixumes que se seguem, pois por aqui aquela euforia do ano passado com a possibilidade da chegada do “asfalto” esvaiu-se. O Poder Público, talvez por força do contrato com a Caixa Econômica, “asfaltou” a “avenida” Francisco Pinheiro de Moraes com tal de “asfalto frio”. Hoje, quem quiser pode vir constatar in loco, essa via esta completamente esburacada. Dinheiro, não se sabe de quem, jogado no lixo por quem de direito. Trabalho malfeito, já que meteram “asfalto” numa rua sem meio-fio ou bueiros adequados, ou mesmo valas em que a água, notadamente das chuvas, pudessem escorrer sem comprometer a obra. Um dia a gente chega lá! Quem sabe?

Tomás de Aquino, dizia que “as leis humanas ou positivas são estabelecidas pelo homem com base na lei natural e dirigidas à utilidade comum”. Isto é, toda lei tem como finalidade o bem comum e nunca o bem de um determinado indivíduo ou grupos  em prejuízo do bem geral. Especialistas dizem que quando a lei se desvia do bem comum pode ser impugnada como carente de razoabilidade e fulminada pela nulidade. Então, compete ao Estado, concebido como instituição natural, munido de um poder que brota da própria sociedade, promover e  assegurar o bem comum. Não é mais concebível que o Acre continue a conviver, quase eternamente, com situações gravíssimas, pelas quais temos passado em todos os verãos amazônico.

Os  males, advindos dessa fumaceira infernal,  que afetam a todos nós, não foram procedentes da natureza, é crime vindo da perversidade do homem insensível, violento e ganancioso. 

   Sabemos que providências, por parte das autoridades constituídas, estão sendo tomadas; mas compete, igualmente, a nós sociedade guardar na memória os fatos calamitosos dos últimos anos, pois não podemos ser um povo sem memória, como é próprio da massa alienada; enquanto pensamos no sofrimento que o povo, notadamente o mais humilde, sofreu e sofre como consequência dessas queimadas criminosas. Supliquemos aos céus para que apareçam ações políticas eficazes que levem a cabo o cumprimento de leis já existentes.  

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