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Haitianos usam nova rota para entrar no Brasil

 Uma nova rota de imigração de haitianos para o Brasil foi utilizada pelas 35 pessoas originárias do Haiti que se estabeleceram em Brasileia, nos estado do Acre, norte do país. Diferentemente do que fizeram os que se aventuraram no primeiro semestre com pacotes oferecidos por “coiotes” (agenciador de imigrantes ilegais) haitianos, esses chegam em pequenos grupos para não chamar a atenção do policiamento de fronteira.

 Os haitianos, agora, aguardam a liberação de um CPF do país para poder ingressar legalmente e trabalhar. A rota mais utilizada agora é feita também com o apoio de “coiotes”.

 Nessa rota, os haitianos viajam de avião da República Dominicana para a cidade boliviana de Ibéria e caminham 8 quilômetros pela mata da Amazônia até Cobija. A cidade, também boliviana, faz fronteira com Brasileia, no Brasil, e tem duas pontes sobre o Rio Acre, que podem ser atravessadas tranquilamente.

 Nos dois dias em que a reportagem da Agência Brasil passou em Brasileia não foi visto policiamento de fronteira do lado brasileiro nas duas pontes. Comerciantes estabelecidos próximos à ponte disseram que é por causa da greve da Polícia Federal.

 Os primeiros grupos de haitianos chegaram no final de junho e, a partir daí, outros pequenos grupos, como a família de Obelca Jules, último a ingressar em Brasileia, tem aparecido de forma “picada”, disse à Agência Brasil o representante do governo do Acre na cidade, Damião Gomes Melo. Eles ainda usam as duas rotas mais visadas pelo policiamento de fronteira.

 Esses caminhos foram utilizados pelos 2,7 mil haitianos que ingressaram em Brasileia no primeiro semestre, já com documentação legalizada pelo governo brasileiro. Na primeira rota, os haitianos partem de avião, com a ajuda dos “coiotes”, da República Dominicana para o Panamá. De lá, também de avião, seguem para Quito (Equador).

 A partir daí, explicou Damião, a viagem passa a ser feita de ônibus até a fronteira do Equador com o Peru. Eles passam por Lima, Cuzsco, Puerto Maldonado, Ibéria, com destino a Iñapari. Por essa rota, agora monitorada pela Polícia Federal e Força Nacional, os haitianos tentam entrar na cidade brasileira de Assis Brasil (AC) e seguir para Brasileia, onde têm um suporte melhor.

 Outra rota oferecida pelos “coiotes” prevê viagem de avião direto da República Dominicana, país que divide a Ilha de São Domingos, na América Central, com o Haiti, até Quito. De lá, os haitianos viajam de ônibus para Letícia, na Colômbia, onde entram por Tabatinga, no Amazonas, pela Ponte da Amizade.

 Da cidade amazonense de fronteira, os haitianos geralmente viajam para Manaus e “seguem para onde eles querem”, disse Damião Borges. Ele destacou, no entanto, que a rota é pouco utilizada dada a intensa vigilância de fronteira. (Agência Brasil)

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Haitianos em Brasileia vivem em melhores condições que compatriotas no Peru

 Os 35 haitianos que aguardam em Brasileia (AC) a regularização, pela Polícia Federal, de seus documentos para poder trabalhar no Brasil, vivem situação bem melhor que os 96 compatriotas em Iñapari, província peruana. A cidade do Peru é separada do Brasil pelo Rio Acre e faz fronteira com a brasileira Assis Brasil e a boliviana Bolpebra.

 Esses haitianos vieram para Brasileia ao constatar que em Iñapari não teriam a menor chance de ingresso no Brasil e viveriam situação semelhante à de seu país de origem. O representante do governo do Acre no município, Damião Borges de Melo, os abrigou na antiga sede da Secretaria de Educação de Brasileia, onde os estrangeiros se dividem em cinco cômodos e têm dois banheiros à disposição.
A cada dois dias, um caminhão pipa da prefeitura abastece a caixa d’água da casa com 7 mil litros que servem para o banho e lavagem de roupa. Também são servidas três refeições por dia: pão com manteiga e café com leite no café da manhã e, geralmente, arroz, feijão, macarrão, frango e carne bovina no almoço e jantar.

 No entanto, problemas semelhantes aos que ocorrem em Inãpari com os 96 haitianos no Peru também são registrados em Brasileia, especialmente, o lixo jogado no quintal, como pratos de alimentos, roupas garrafas PET, entre outros.

 O haitiano Obelca Jules, 30 anos e pedreiro por profissão, disse à Agência Brasil que veio para o Brasil em busca de trabalho, como todos os demais do grupo. Obelca chegou com esposa e outros seis parentes depois de passar por Iñapari e constatar que não teria condições de ficar na cidade.

“Quando chegamos em Iñapari vimos que não dava para ficar. No Peru a situação está muito difícil”, disse o haitiano. De lá, eles retornaram à Ibéria, cidade peruana de 7 mil habitantes, pegaram uma trilha de 8 quilômetros de selva amazônica até um quartel da Marinha da Bolívia e seguiram de carro até Cobija, que faz fronteira com Brasileia por duas pontes.

 Apesar do atendimento no Brasil, os haitianos reclamam do tempero da comida, diferente da que estão acostumados no Haiti. Vil Saint Clenord, 26 anos, eletricista, disse que “muitos [haitianos] não estão acostumados com a comida e não comem com apetite” os 72 pratos servidos diariamente ao custo de R$ 370 por dia.

 Essa diferença cultural de culinária já levou ao hospital de Brasileia algumas pessoas, admite Clenord. “Nós somos atendidos com dor na barriga, mas o médico não passa nada. Ele diz que nós não temos nada”, disse .

 

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