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Programa federal tenta esvendar “Rota Seringueira”

PF-CIVILEm entrevista coletiva realizada na manhã de ontem, os delegados da Polícia Civil e Polícia Federal tentaram explicar como foi realizada a ação que resultou na maior apreensão de drogas já executada no Acre. Foram exatos 1.125 Kg de maconha (inicialmente, havia vazado a informação de que te-riam sido 1,3 toneladas).

A operação conjunta, de acordo com os delegados, faz parte das ações do Enafron, o programa federal de segurança pública nas fronteiras. A carga e o caminhão contendo produtos alimentícios pertenciam a um empresário do setor atacadista de Rio Branco. As polícias não encontraram nenhum vestígio de relação entre o transporte da droga com a empresa.

O valor do material apreendido está avaliado em mais de R$ 1 milhão. A hipótese mais provável é que a “Rota Seringueira” tenha o Paraguai como referência para o tráfico de maconha. “A estratégia de ações integradas e conjuntas deve ser mantida pela Polícia Civil e pela Polícia Federal aqui no Estado do Acre”, revelou o delegado da Polícia Federal, Marcelo Rezende.

“Essa droga provavelmente vinha do Estado de Rondônia”, afirmou o delegado da Polícia Civil, Pedro Paulo Buzolin. De acordo com o depoimento do motorista José Lourenço, do Mato Grosso, a droga tinha como destino final a cidade de Acrelândia. O trabalho de monitoramento das polícias durou aproximadamente uma semana.

A carreta bi-trem com placa de Rio Branco NAA-8359 foi abordada no quilômetro 9 na BR-364, exatamente na entrada do campus da Embrapa. Ficou mais de uma hora parada com problemas mecânicos. Há perguntas que não ficaram esclarecidas.

Se o monitoramento acontecia desde Rondônia, qual critério usado para fazer abordagem na estrada e não permitir o flagrante no momento da entrega? “Quanto à oportunidade de abordagem, as polícias consideram vários cenários possíveis, inclusive o de perder o controle do transporte”, justificou o delegado da Polícia Federal, Marcelo Rezende. “Para ter eficácia e não perder o controle, foi realizada a abordagem naquele momento”.

Quem custeou e quem receberia a droga está sendo objeto de investigação? As polícias descartaram qualquer possibilidade de relação entre a apreensão rea-lizada na quarta-feira com a que foi feita no início do mês, na Baixada do Sol, de 184 Kg. No entanto, por questões de sigilo das investigações, não revelaram esses dois detalhes.

Geografia dificulta ação das polícias
O aumento do fluxo de caminhões devido às estruturas intermodais de transporte; os rios paralelos vindos do Peru e a ampla região de fronteira com os dois grandes produtores de cocaína (Bolívia e Peru) são fatores que dificultam muito a ação das polícias.

A Estratégia Nacional de Segurança Pública nas Fronteiras (Enafron) é um grande programa elaborado pelo Governo Federal que parece ter encontrado o tom e o ritmo adequados no Acre. A integração dos serviços de inteligência torna a Rota Seringueira menos complexa do que ela de fato é.

Entrada de maconha em carregamentos via terrestre faz muito tempo que as forças de segurança pública sabem que ocorre. O que mudou o cenário foram as ferramentas e o uso das estruturas públicas de segurança, sejam federais ou estaduais.

O uso dos rios na região do Juruá e Jordão para o transporte de cocaína torna o trabalho muito mais delicado. A BR-364 torna a fiscalização um pouco menos complicada, comparada aos rios, embora existam as estradas vicinais próximas às cidades que dificultam a eficácia da polícia.

Entenda as características da “Rota Seringueira”
A “Rota Seringueira” tem peculiaridades próprias da região. A primeira delas: o uso de três regiões estratégicas para o tráfico: Vale do Acre (utilizando como via a BR 364); Vale do Purus (mais especificamente na região do município de Jordão) e Vale do Juruá (sobretudo na região do Parque Nacional da Serra do Divisor).

Os eixos de transportes terrestres e fluviais dificultam muito a ação das polícias. A característica geográfica do Acre de possuir somente rios paralelos que saem da região andina rumo ao Amazonas piora a situação.

A fronteira seca do Acre com Bolívia e Peru também coloca em xeque a presença do Estado em áreas estratégicas. A BR 364, importante via de integração econômica da Capital com o Vale do Juruá, torna mais vulnerável ainda a região no tráfico de drogas, e exige mais esforço na fiscalização.

No Vale do Acre, especificamente na região da Tríplice Fronteira, a situação não é melhor. Os varadouros integrados aos rios e igarapés possibilitam uma espécie de eixos intermodais do crime, fazendo com que o transporte ora utilize o meio fluvial, ora as vias terrestres.

Não há meio de combater o tráfico na Rota Seringueira se não for por meio de ações integradas semelhantes às utilizadas pelo Polícia Civil e pela Polícia Federal. E o Enafron é a ferramenta adequada. Sem ele, é praticamente inviável aos governos estaduais de regiões fronteiriças de combater uma atividade tão articulada, com geografia a favor do crime.

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