Desastres fazem parte da vida da sociedade humana desde a época de Noé e as inundações de fevereiro deste ano mostraram como eles podem ser caros em danos materiais e em sofrimento humano no Acre. Em 2011 a Defesa Civil Nacional lançou uma campanha chamada Cidades Resilientes que visa reduzir os riscos de desastres. Uma cidade para ser considerada resiliente precisa estar preparada para realizar ações que permitam evitar, diminuir e reverter os danos provenientes de desastres. Se for aplicada esta campanha no Acre poderia reduzir os riscos associados a desastres e o sofrimento humano produzido.
Então, quais são os desastres aos quais as cidades do Acre podem ser submetidas na atualidade? E como aplicar a campanha cidades resilientes no Acre? Sazonalmente as cidades do Acre são submetidas a vários eventos naturais que trazem ameaças de perdas de patrimônios e vidas na sociedade acreana, os mais comuns são inundações, secas e incêndios associados.
Alguns destes desastres se tornaram crônicos recentemente. Por exemplo, nos últimos quatro anos as inundações do Rio Acre em Rio Branco têm produzido danos crescentes: 2009 – R$ 31 milhões, 2010 – R$ 41 milhões, 2011 – R$ 49 milhões. Em 2012 os danos em Rio Branco totalizaram mais de R$ 200 milhões, sem falar das pessoas que morreram ou adoereceram. No próximo período das chuvas em 2013, uma surpresa agradável seria não ter uma inundação custando dezenas de milhões de reais em danos e vidas.
As secas também têm sido frequentes. Em 2005, as queimadas e incêndios florestais afetaram mais de meio milhão de hectares de pastos, áreas agrícolas e florestas no leste do Acre. Historicamente as secas prolongadas são raras, entretanto cinco anos mais tarde, em 2010, uma seca mais extensa em área que a de 2005 afetou o oeste do estado também. A fumaça associada com as queimadas nestes anos ficaram durante semanas em níveis acima do limite estipulado pela Organização Mundial de Saúde. As secas provocaram não somente fogo e fumaça, mas também colocou o abastecimento de água das cidades em risco.
A campanha da Defesa Civil Nacional visa diminuir os riscos associados com estes desastres, algo que poderia ter reduzido os 250 milhões de reais em danos que aconteceram nas cidades da bacia do Rio Acre durante as inundações em fevereiro/2010, que afetaram mais de cem mil pes-soas: Iñapari/Peru, Assis Brasil, Brasiléia, Epitaciolândia, Cobija/Bolívia, Xapuri, Rio Branco e Porto Acre. O ditado de que é mais barato prevenir do que remediar vale para este caso, especialmente quando nem todos os danos vão ser compensados, produzindo um empobrecimento silencioso nestas cidades.
O problema dos desastres é agravado com o aumento de população, dependência tecnológica e variabilidade no clima que tem potencial de crecer via mudanças climáticas regionais e globais. Agora enfrentamos a possibilidade de que a variabilidade natural possa ser amplificada por fatores gerados pela sociedade humana, isto é, via desmatamento afetando o ciclo da água ou via acúmulo de gases de efeito estufa. Já existem estudos documentando estes efeitos e as evidências indicam que a situação vai se complicar no futuro.
Programas como Cidades Resi-lientes são essenciais para que a sociedade possa conviver com desastres e minimizar os seus impactos. Mais informações estão disponíveis no sítio http://www.defesacivil.gov.br/cidadesresilientes/index.html. Uma cidade que trabalha na implementação dos dez passos do programa Cidades Resilientes pode ser listada pela ONU como cidade-modelo. Se programas como Cidades Resilientes reduzissem significativamente os custos dos danos, facilmente estes programas se pagariam, sem falar do sofrimento humano evitado.
Dentre os dez passos que uma cidade deve implementar para ser tornar resiliente frente a desastres, podemos destacar o passo sete, “Investir na criação de programas educativos e de capacitação sobre a redução de riscos de desastres, tanto nas escolas como nas comunidades locais”. Os demais passos podem ser verificados no sitio de internet supracitado. Uma etapa importante para efetivar este programa seria solicitar dos candidatos aos cargos de vereador e de prefeito para explicar como eles/elas vão implementar o programa Cidades Resilientes ou se não, por que não.
A Defesa Civil nas escalas municipal e estadual no Acre têm a oportunidade de se tornar líder, no sentido de ajudar a sociedade regional a preparar-se para os desastres que inevitavelmente vão vir. Precisamos avançar rápido em ter uma Defesa Civil no Acre preparada para os desafios do Século 21. Se não, o custo de não nos preparar vai ficar tristemente evidente no próximo desastre.
*Foster Brown, Pesquisador do Centro de Pesquisa de Woods Hole, Docente do Curso de Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais (MEMRN) da Universidade Federal do Acre (UFAC) e Cientista do Experimento de Grande Escala Biosfera Atmosfera na Amazônia (LBA), do INCT SERVAMB e do Parque Zoobotânico da UFAC. Trabalha como voluntário com a Defesa Civil desde 2005 e membro da Comissão Estadual de Gestão de Riscos Ambientais (CEGdRA) desde 2011.
*Antonio Willian Flores de Melo, Docente do Centro de Ciências Biológicas e da Natureza da UFAC.