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No cesto

Uma vez, e isso não faz muito tempo, vi um secretário de Estado juntar do chão dezenas de copos descartáveis jogados por pessoas que participavam de um evento público. Estranhei o desprendimento dele porque o máximo que eu concebia naquela época era não jogar lixo no chão e guardar por alguns instantes pra jogar na lixeira mais próxima ou em casa. Em seguida compreendi que aquela atitude cidadã era exemplo muito mais importante que um ato ou propagandas governamentais. Não era exibicionismo. Era um exercício, uma prática. Educação é mais que acumular conhecimento. É colocar este conhecimento em ação.

Entender a responsabilidade sobre o lixo que cada pessoa ou família produz é o primeiro passo pra dar início a uma mudança de comportamento que pode fazer de pequenos gestos cotidianos, grandes transformações sociais. E ambientais. E de saúde pública. Por que alguém erraria o alvo e jogaria o lixo fora do cesto mesmo quando se está rodeado deles? Por que é comum ver em bairros onde há coleta regular, dezenas de sacos plásticos e embalagens espalhados nas ruas? Por que em praças, parques, lanchonetes, os cestos estão vazios e o chão entulhado de lixo?  Por que o lixo é tratado como invisível e quase não há disposição para recolhê-lo mesmo incomodando?

Há muitas respostas pra essas perguntas e uma avaliação mais profunda poderia nos levar à discussão sobre os encargos de cada um na destinação do lixo. O bônus do produto consumido versus o ônus da chata da embalagem e dos resíduos, o bagaço. O que fazer com o papel, o papelão, o vidro, o plástico, as pilhas, os teclados e mouses, as carcaças eletrônicas, as benditas garrafas PET, o polipropileno, os fogões, as geladeiras, as centenas e centenas de descartáveis, enfim. As cidades vivem suas realidades e vão se adaptando a elas conforme surgem as necessidades.

Rio Branco, por exemplo, possui uma Utre. Isso significa que grande parte do lixo que produzimos (sim, este verbo é no plural porque TODOS produzimos) vai pra um lugar onde pode ser tratado de forma diferenciada. Dá trabalho organizar um negócio desses. São 212 bairros. Quase 350 mil pessoas “produzindo” lixo. O problema é o resíduo que deixa de ser coletado por qualquer motivo que seja. É esse que vai parar nas praças, parques, ruas, riachos, rios, igarapés, esgotos. É ele que atrai os bichos e as doenças e que colocam nossa posição cidadã bem perto de zero.

A primeira vez que fui ao shopping em Rio Branco observei que todos deixavam suas bandejas e descartáveis na mesa, ao contrário do que acontece em todos os shoppings que visitei. Uma amiga explicou que no início os consumidores recolhiam, mas agora foram contratadas pessoas só pra isso. Talvez, não sei, seja a oficialização de um hábito, uma prática.

Se sentir envergonhado por retirar o lixo da própria mesa, reclamar que não existe coleta na rua quando se pode andar duas quadras pra colocar onde exista, usar como argumento o fato de que é preciso manter o emprego de garis e margaridas, defender que apenas o poder público tem o dever sobre a limpeza da cidade são algumas das respostas pras perguntas acima, mas pode haver muito mais. Cabe a cada um de nós responder. Da minha parte, alio o útil ao agradável ao contrair o abdômen a cada flexão pra juntar o lixinho das praças pra que minha filha possa brincar. Dia desses fiz mais de 50.

* Golby Pullig  é jornalista
Email:golbypullig@gmail.com
Twitter: @golbypullig

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