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Potencial de uso de espécies arbóreas de florestas secundárias (capoeiras) das cercanias da Capital

Na Amazônia, as florestas secundárias (capoeiras) geralmente originam-se a partir do abandono de uma área originalmente coberta por floresta primária e que foi desmatada para ser usada no desenvolvimento de atividades agropecuárias. Em suas diversas etapas de desenvolvimento a floresta secundária, além de desempenhar importante papel ecológico via acúmulo de biomassa, controle de erosão, conservação de nutrientes, benefícios hidrológicos e manutenção da biodiversidade, pode prover importantes recursos à fauna e aos habitantes do entorno, com destaque para essências madeireiras de rápido crescimento e com alto valor econômico.
O manejo de florestas secundárias é uma forma relativamente nova de uso alternativo da terra, existindo poucos exemplos bem sucedidos desse tipo de manejo. E a carência de informações que possam auxiliar na identificação das potencialidades de uso de plantas de florestas secundárias é uma barreira que ainda tem limitado e deses-timulado o manejo dessas áreas com fins econômicos.

Para superar estas limitações no âmbito do Acre, um estudo do tipo inventário foi realizado em dois fragmentos de florestas secundárias existentes nas cercanias de Rio Branco. Um deles, com idade estimada entre 25 e 30 anos, localiza-se nas cercanias da vila Custódio Freire, ao longo da rodovia BR-364, e o outro, com idade estimada entre 35 e 40 anos, está situado nas proximidades da Escola da Floresta ‘Roberval Cardoso’, na Estrada Transacreana. Ambos fazem parte da Área de Proteção Ambiental (APA) do Igarapé São Francisco, que possui cerca de 30 mil hectares e está localizada no entorno das zonas urbanas dos municípios de Rio Branco e Bujari. Esta localização torna os remanescentes florestais da APA muito vulneráveis à exploração ilegal de seus recursos naturais, especialmente a madeira, e ao desmatamento para implantação de áreas agrícolas e expansão urbana dos referidos municípios. Atualmente, estima-se que apenas 40% da área da APA possuem algum tipo de cobertura florestal.

O inventário consistiu na mensuração, em cada um dos fragmentos de floresta, de todos os indivíduos arbóreos com diâmetro a altura do peito (DAP) igual ou superior a 10 cm encontrados em 10 parcelas de 20 m de largura por 25 m de comprimento.

Os resultados mostraram a ocorrência, na floresta secundária com até 30 anos, de 339 indivíduos, pertencentes a 42 famílias botânicas, 95 gêneros e 115 espécies. As espécies com maior número de indivíduos foram o mulungu e o freijó. Na floresta com idade entre 35 e 40 anos foram encontrados 364 indivíduos, classificados em 36 famílias, 73 gêneros e 87 espécies. As espécies mais numerosas foram a palmeira uricuri, o limãozinho e a cajá. O fato de a palmeira uricuri ter sido a espécie mais numerosa nesta floresta é um claro indicador de que a área onde a mesma está crescendo foi no passado uma pastagem. Em ambas as florestas avaliadas, as espécies mais numerosas tem, no contexto atual, pouca importância econômica e representam um fator limitante para um possível aproveitamento, via exploração madeireira, por exemplo.

A floresta secundária mais jovem se mostrou mais diversa (índice H´=4,20) do que a floresta mais madura (3,93). Nas florestas tropicais intocadas (florestas primárias), este índice pode variar entre 3,83 a 5,85. Outros inventários realizados em florestas primárias acreanas localizadas próximo de Rio Branco apresentaram índice de diversidade entre 4,58 e 4,73.

A área basal das duas áreas avaliadas foi de 14,25 m2/ha, para a floresta mais jovem, e 19,06 m2/ha para a floresta mais madura. Área basal pode ser definida de forma simples como a cobertura da superfície do solo pela área somada dos troncos de todas as árvores medidas no inventário, e indica a densidade da vegetação do local estudado. Estudos realizados em florestas primárias de outras partes da região amazônica brasileira encontraram valores de área basal que podem chegar até 35 m²/ha. Os valores encontrados no estudo realizado na APA do Igarapé São Francisco foram, portanto, baixos, revelando que uma eventual exploração de espécies madeireiras resultará em baixa produção.

Considerando o diâmetro das árvores avaliadas, observou-se, em ambas as florestas estudadas, um grande número de indivíduos nas classes de menor diâmetro e um número bem pequeno nas classes de maior diâmetro. Isso indica que o crescimento das florestas está equilibrado e dentro dos padrões de normalidade.

Uma das conclusões do trabalho é que as florestas secundárias estudadas ainda são muito jovens para serem submetidas à exploração madeireira pela ausência de espécies de grande valor comercial com porte adequado.
Outro aspecto importante revelado pelo trabalho é que florestas secundárias que se desenvolvem sobre áreas anteriormente ocupadas por pastagens cultivadas tendem a apresentar menores índices de diversidade de plantas. Isso indica que no futuro, a avaliação do aproveitamento de florestas secundárias deverá considerar o histórico de uso anterior das áreas ocupadas por estas florestas como um dos passos iniciais, pois isso poderá economizar tempo e evitar equívocos na exploração de florestas que, mesmo em idade avançada, não irão apresentar uma composição de espécies de interesse econômico em quantidade e diversidade adequadas.

* Evandro Ferreira é Engenheiro Agrônomo e pesquisador do Inpa/ Parque Zoobotânico da Ufac.

** Antonio Ferreira de Lima é aluno do curso de Engenharia Florestal da Ufac.

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