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Pedro Ranzi comanda hoje as eleições que podem ficar na história do Acre

Ranzi eleiçõesO gaúcho que chegou ao Acre há 43 anos, conhece bem o “movimento” das eleições no estado: desde a urna de papelão até o voto por meio da impressão digital, o biométrico que será utilizado neste domingo em Bujari e Assis Brasil. Ele participou, como juiz, das eleições para prefeito de Cruzeiro do Sul em 1989.

Depois foi titular da nona zona e vice-presidente do Tribunal Regional Eleitoral. O desembargador Pedro Ranzi, ficará na presidência do TRE até fevereiro de 2013. Ele comanda neste domingo, a eleição que poderá ficar na história do estado, como a primeira a ter segundo turno, por causa do número de habitantes da Capital.    

É no gabinete da presidência, calçado apenas com as meias, sapatos embaixo da mesa, que o desembargador, recebeu A GAZETA para essa entrevista: “Tirar os sapatos relaxa”, conta ele, dono de um estilo austero e simples.
 
A GAZETA – Desembargador o Senhor pode estar no comando de eleições históricas para o Acre, onde nunca antes houve segundo turno…..   
PEDRO RANZI – Verdade, isso porque Rio Branco tem hoje 226 mil eleitores e acima 200 mil há essa possibilidade de segundo turno. Nesse caso, seria uma nova eleição, um começar de novo. Mas seria mais fácil porque seria só na Capital, onde há apenas dois lugares de difícil acesso. Hoje trabalhamos com quase 230 locais nessas condições, aonde as urnas só chegam de aviões ou helicópteros. O custo no caso do segundo turno pode chegar a R$ 1,5 milhão.

A GAZETA – A campanha passou e ficou a impressão de que muito do brilho e alegria de anos anteriores não existem mais. Em cada eleição são novas regras. Muitas proibições. Na sua opinião isso tudo combate de fato a corrupção ou só “apaga” um pouco o brilho das eleições? 

PEDRO RANZI  – Concordo que a rigidez nas regras muda o comportamento do eleitor e deixa a campanha um pouco “morta”. Os showmícios eram animados. Mas ao mesmo tempo as regras rígidas mudam também o comportamento dos candidatos que agem de forma errada. São detalhes como atenção ao tamanho de placas, que garantem que todos, os que têm mais recursos e os que têm menos, terão as mesmas chances de chegar ao eleitor. Nós somos técnicos, queremos a aplicação das leis.

A GAZETA – É caro garantir a democracia nessa parte do Brasil. O custo passa de R$ 5 milhões. Aqui tem aldeias, seringais e comunidades ribeirinhas e para chegar lá o TRE tem que usar helicópteros, aviões, barcos. A logística é imensa. Mas  a abstenção no Acre, nas últimas eleições foi de 28 por cento, maior que a média nacional, de 21 por cento. A que o Senhor Atribui essa alta abstenção no Acre?    

PEDRO RANZI – Nossa determinação é levar as seções onde está o eleitor para evitar os currais eleitorais. É toda uma logística, para levar as urnas, juízes. O helicóptero consome 4 mil litros combustível por dia, são 40 mil dólares diariamente. São 229 localidades difíceis e estamos registrando tudo por meio de fotografias e imagens. Mas o Tribunal Superior Eleitoral sabe dessas dificuldades e não deixa faltar nada. É uma pena sim a abstenção diante de um aparato tão grande, mas algumas pessoas desacreditam dos políticos, e há também outras questões. Muitos eleitores querem tudo pago, gostam da tutela das instituições e como isso não é mais possível, deixam mesmo de votar. Mas um dia desses em uma entrevista na Rádio Difusora, onde as pessoas podiam falar, percebi que principalmente os mais velhos, não querem votar porque desacreditaram no voto, porque o TRE  realizou o referendo com relação ao horário, e a vontade deles ainda não foi respeitada.  A população ficou engasgada….

A GAZETA – O Sr anunciou que até meia noite o TRE  anuncia o resultado oficial dessas eleições. O que o tribunal fez para garantir que erros de eleições passadas, que resultaram em atrasos na divulgação geral das eleições no Brasil, não se repitam hoje?

PEDRO RANZI  – Estamos aprendendo com os erros. Começamos a logística desta eleição em maio do ano passado. Na localidade onde houve esses problemas de transmissão, a São Salvador, que fica próximo à Mâncio Lima, fizemos vários testes com bingãs e outros meios de transmissão. Contratamos uma empresa especializada e no local há todo um aparato com alternativas. Em todo o Estado, onde há urnas, há técnicos em informática. Nas localidades de difícil acesso tem a urna eletrônica principal, mais duas de reserva e uma terceira de lona, como as que eram usadas antigamente. Mas não precisamos nos afobar, vamos com calma fazer a votação e a transmissão de dados dentro dos prazos. Queremos divulgar o resultado até a meia noite de domingo. A população vai acompanhar tido por meio de um telão instalado no estacionamento do Estádio Arena da Floresta. Tudo em tempo real.

A GAZETA – Em todo o Brasil é cada vez mais comum a judicialização das eleições, quando  não é o voto, e sim os tribunais, que decidem as eleições. São impugnações, cassações e outros artifícios que decidem as eleições “no tapetão”. Isso não tira do eleitor, o poder de decidir ?    
 
PEDRO RANZI – Sou contra a judicialização em demasia. O voto é valioso.  Tenho um pensamento próprio com relação a isso.  Creio que se os partidos fossem mais organizados e fortes, poderiam resolver muitos dos problemas, que hoje vêm parar nos tribunais. Nós ficaríamos focados em questões maiores e haveria poucos processos. Mas também temos que ter a clareza que o tribunal é administrativo e judicial… Mas sabe, os próprios partidos estão se depurando, porque sabem que ter candidatos Ficha Suja não é interessante. Nessas eleições tivemos dois casos de Ficha Suja, o candidato de Feijó, Francimar Fernandes e o de Rodrigues Alves, o Dêda. Os dois foram considerados culpados pela corte e terão que recorrer.  

A GAZETA – Mas a população sempre fica sem entender alguns fatos, como a liberação da candidata Antônia Lúcia, que se envolveu em alguns casos, inclusive de falsificação de assinaturas.
Essa resposta é dada em conjunto entre os desembargadores Pedro Ranzi e Roberto Barros, que é o corregedor do TRE: Baseado na Lei da Ficha Limpa só foram os casos do Dêda e do Francimar. O Processo da eleição de deputada Antônia Lúcia, não é de Ficha Limpa e sim de uma fraude na assinatura de uma ata. Então entendemos que só o partido  envolvido no caso, deveria ser tirado da disputa. Já houve um processo contra Antônia Lúcia da eleição passada, quando ela foi condenada aqui e recorreu.

A GAZETA – Essa semana o Ministério Publico denunciou e pediu a cassação de diplomas (em caso de vitória) de vários candidatos, como Dindim de Feijó, Marilete de Tarauacá, Vagner Sales e Henrique Afonso, de Cruzeiro do Sul. Todos devem passar por aqui. Alguns podem ganhar e ficar sem o mandato….

PEDRO RANZI  – A respeito desses casos não podemos nos manifestar porque estão sub judice.     

A GAZETA – O que o Senhor Espera do dia de hoje? Acredita em casos de corrupção de última hora ou muita tranquilidade? 

PEDRO RANZI  – Nos preocupamos com cada detalhe. Nós temos que entregar um produto prontinho e vamos fazê-lo. Espero que seja um dia muito tranquilo. Todas as cidades receberam reforços de juízes e auxiliares, policiais federais, militares, civis, bombeiros. O Ministério Público está atento a tudo. Nesse dia a estrela maior é o povo e os candidatos, quanto menos nós tribunal, aparecermos, é melhor.   Nós e os parceiros fizemos muitas campanhas para combater a corrupção, a condução de eleitores submissos. Tem agora a lei da ficha limpa. A população quer gestores competentes, dinheiro público bem aplicado. Quanto à casos de tentativa de corrupção tomamos algumas medidas como a proibição da venda de combustível em corotes, em Feijó, Sena Madureira e Tarauacá. Para aldeias de Feijó, por exemplo, foram policiais federais, porque os índios têm antipatia pela PM. Cuidamos de cada detalhe para evitar problemas.  As eleições  mexem com todas as cidades, é uma festa. Eu recomendo paz e que a democracia vença!

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