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Condição das plantas e danos causados pelo cultivo de benjamim na zona central de Capital

A arborização é indispensável ao ambiente urbano, pois além de oferecer benefícios como a melhoria da qualidade do ar, estabilidade do microclima, redução da poluição, maior conforto término e aumento no valor de venda das propriedades, funciona ainda como abrigo e fonte de alimento para a fauna e ajuda na conservação genética de espécies da flora local.

Durante o planejamento da arborização de áreas urbanas, aspectos culturais e ambientais devem ser levados em consideração, contudo, a escolha da espécie adequada para cada ambiente urbano é o mais importante já que uma escolha correta ajudará a evitar futuros transtornos, tais como: destruição de calçadas, conflito com as redes de saneamento e de distribuição de energia elétrica e telefônica, e danos ao patrimônio dos cidadãos.

Infelizmente, em muitas cidades acreanas a árvore conhecida popularmente como benjamim, figueira ou fícus (nome científico: Ficus benjamina L.) ainda é uma das espécies mais utilizadas na arborização de vias públicas e praças. O lamento em relação à popularidade desta espécie no Acre decorre do fato do seu sistema radicular se desenvolver de forma vigorosa e incontrolável, causando danos em calçadas, ruas, muros e tubulações de água e esgoto. Além disso, quando cultivada em calçadas sob fiação elétrica e telefônica, o crescimento vigoroso da sua copa demanda podas mais frequentes que em outras espé-cies usadas em arborização urbana.  

O benjamim, originário da Ásia e Oceania, se adaptou muito bem no Brasil. Seu cultivo se popularizou no país em razão da beleza da planta e da sua copa perenifólia com folhagem muito densa e tolerante a podas recorrentes, inclusive aquelas nas quais são esculpidos objetos e formas geométricas – como se costuma observar nas plantas cultivadas na principal rua comercial da cidade de Brasiléia. Outro aspecto que favoreceu a disseminação da espécie no país foi a facilidade de propagação, feita de forma vegetativa, via enraizamento de estacas retiradas de seus ramos.

Em muitas cidades brasileiras o cultivo do benjamim foi proibido por legislação aprovada pelas câmaras municipais, atendendo demanda por parte da população e, principalmente, dos administradores das cidades, que eram obrigados a investir recursos escassos e valiosos para controlar o crescimento e reparar os danos causados por essa árvore.  
Em Rio Branco e em outras cidades do estado não existe legislação proibindo o cultivo do benjamim. Também se desconhece as despesas decorrentes do cultivo da espécie em logradouros públicos. Mas o ex-secretário municipal de Meio Ambiente de Rio Branco, Arthur Leite, confirmou que a espécie é a responsável pela maioria dos conflitos entre vizinhos quando o assunto diz respeito ao cultivo de árvores em quintais urbanos da cidade.

Neste contexto, uma rápida avaliação – do tipo censo – sobre o cultivo de benjamim na região central de Rio Branco (veja figura) foi realizado para avaliar a situação dos indivíduos cultivados, os danos que eles causam, e o manejo adotado. As plantas foram avaliadas quanto ao local de cultivo (calçadas e praças), porte (pequeno: até 5metros de altura; médio – de 5,1metros a 10metros; e grande – acima de 10,1metros), a propriedade da planta (privada, pública abandonada ou pública mantida por particular), aos danos causados pela planta (se afetava a calçada, muro, rua e, ou fiação), ao estado fitossanitário (bom, regular ou ruim) e ao tipo de manejo observado (sem manejo, poda da copa, poda dos ramos e, ou colo).

O resultado indicou a ocorrência de 71 indivíduos de benjamim, dos quais 23,90% eram de pequeno porte, 66,20% de médio porte e 9,90% de grande porte. Quanto à localização, 81,69% foram plantados em calçadas e 18,31% em praças.

Dos indivíduos levantados, 76,06% causavam algum tipo de dano. Todos os de grande porte causavam algum tipo de dano, 78,72% dos de médio porte e 58,82% de pequeno porte causavam danos. Ao relacionar os danos com a localização dos indivíduos, constatou-se que daqueles localizados nas calçadas, 48,65% causavam danos à calçada, 13,51% danificavam muros, 20,27% causavam danos à fiação e apenas 17,57% não causa qualquer tipo de dano. Dos localizados nas praças, 44,45% causavam danos à calçada, 33,33% danificavam a fiação e apenas 22,22% não causavam danos.

Em relação à propriedade das plantas, 28,17% deles eram de propriedade privada, 64,79% eram de propriedade pública e encontravam-se abandonadas, e 7,04% eram de propriedade pública, porém mantidas por particulares. Uma avaliação da relação entre a proprie-dade da planta e os danos causados revelou que 75% das plantas de propriedade privada, 73,91% das de propriedade pública que estavam abandonadas e todas as de propriedade pública mantidas por particulares provocavam algum tipo de dano, sendo as calçadas as mais afetadas, seguidas pelos muros e pela fiação.
O percentual de plantas que apresentaram algum tipo de manejo foi de 60% para as plantas de propriedade privada, 71,74% para plantas abandonadas de propriedade pública e de 100% para as de propriedade pública mantidas por particulares.

Em relação à situação fitossanitária das plantas foi verificada que 81,69% delas estavam em bom estado, 16,90% apresentavam estado regular e 1,41% encontravam-se em estado fitossanitário ruim. Com relação ao manejo, 70,42% das plantas foram manejados de alguma forma e 29,58% não apresentavam qualquer forma de manejo.
As conclusões do trabalho foram de que a maioria dos indivíduos de benjamim encontrados na zona central de Rio branco é de médio porte, estão plantados em calçadas e apresentavam bom estado fitossanitário e sinais de manejo.

Mais de ¾ dos indivíduos avaliados causavam danos, que eram proporcionais ao porte das plantas. As estruturas mais afetadas eram as calçadas e a fiação elétrica e telefônica. Independentes da propriedade pública ou privada, a maioria dos indivíduos avaliados causava algum tipo de dano. O fato da maioria dos indivíduos avaliado ter sido manejada é, provavelmente, reflexo dos danos que eles vêm causando, o que levou o poder público e os particulares a tentar, com o manejo, minimizar esses danos.

* Evandro Ferreira é engenheiro agrônomo e pesquisador do INPA/Parque Zoobotânico da UFAC.
** Ednéia Araújo dos Santos é engenheira florestal e bolsista da Embrapa/Cenargen.
*** João Bosco N. de Queiroz é técnico do INPA/Parque Zoobotânico.

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