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Os filhos de Baiano e o novo Acre

De repente sumiu o pai. Foi morto e torturado por policiais civis e militares. Depois levam a mãe e irmão para uma delegacia e depois para o quartel da Polícia Militar do Acre. A mãe voltou para casa, o irmão, nunca mais foi visto com vida. Aos 13 anos foi queimado com ácido, entre outras atrocidades. Depois a mãe e Emanuela ficam sabendo das mortes e sabem que correm risco de ter o mesmo destino. Dormem em casas diferentes, não comem, não têm dinheiro, estão em terra estranha…. O desespero é grande. Não há a quem recorrer porque é a polícia que tortura e mata! Essa é a história de Emanuela Firmino, filha única de Agilson, que só pôde enterrar decentemente pai e irmão anos depois da morte dos dois.   

Emanuela não pode ver que no final da década de 90, instituições como o Ministério Público, Polícia Federal mudaram o jogo. Tiveram a coragem de denunciar quase cem pes-soas. Muitos foram presos, entre eles os acusados das mortes. Era o fim do esquadrão da morte no Acre! Ela deve ter ficado feliz ao saber das notícias! Imagino que sensação de alívio deve ter sido. Deve ter gostado de saber que nós acreanos nos sentimos empoderados, vimos nossas instituições se depurarem.  

Agora a filha de Agilson Firmino, o Baiano, quer ser indenizada pelo que a família passou no Acre, na mão de agentes públicos que usavam pré-dios públicos, munição paga com recursos públicos, gasolina pública para perseguir….  Essa moça tem lembranças  do Acre daquela época, pôde ver o novo Acre, quando esteve aqui para o julgamento dos acusados pela morte do pai e do irmão. No Fórun Barão  do Rio Branco contou detalhes daqueles dias ali bem perto de Hildebrando Pascoal. Sabia que já estava em um estado, onde poderia se sentir segura. Agora a família tem toda razão, saia do bolso de Hildebrando e os demais envolvidos, saia dos cofres públicos, o Estado deve isso a mãe e filha e deve pagar em dinheiro.    

  E nós devemos ‘zelar’ para que o sentimento de empoderamento continue  em nossa alma. Que o Acre atual prevaleça sempre sobre o que ficou nas notícias dos jornais antigos! Fiquemos atentos para que os caminhos de nossas instituições sejam sempre retos. Que nunca mais famílias tenham que buscar indenizações por crimes dessa natureza! Que viremos sim essa página, mas que não esqueçamos nunca de onde viemos para lá não voltarmos!
 
* Sandra Assunção é jornalista.
E-mail: sandraassunção 42@gmail.com

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