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Os professores devem ser mais reconhecidos pela sociedade

Quem você acha que foi mais importante na formação do seu caráter e para que você alcançasse o nível de vida que você tem atualmente? Os seus professores, os seus médicos ou seus advogados?

Na minha infância, muitos pais sonhavam para seus filhos com a carreira de médico ou advogado. De família Presbiteriana, minha mãe sonhava que eu me tornasse um Pastor.

Na década de 1960, quando cursei o antigo ensino primário em Conselheiro Pena, Minas Gerais (para quem não conhece é a cidade onde nasceu o Fio Maravilha e fica a 90 quilômetros de Governador Valadares) a escola pública era predominante, complementada com escolas mantidas por entidades religiosas. O magistério era uma carreira importante e me lembro de que as orientações que recebia da professora Ana Lúcia Soares Sturzeneker, no Grupo Escolar Maria Guilhermina Pena (membro de uma família de professoras e diretoras e escolas vocacionadas para este carreira) tinha tanta relevância quanto a formação que recebia dos meus pais, José e Odete Valentim, ambos com dois e quatro anos de ensino fundamenta l e pais de 13 filhos.

A cada dia que passa, nossas crianças ficam mais cedo sob a responsabilidade de educadores da pré-infância e do ensino fundamental. Infelizmente, os níveis de remuneração, tanto no setor público quanto privado, não são capazes de atrair, reter e motivar os profissionais com os níveis de qualificação e competências desejáveis para a formação de pessoas capazes de exercer sua cidadania plena. Reconheço aqui o esforço e comprometimento de centenas de milhares de professores que exercem sua profissão com devoção, apesar das condições de infraestrutura e de remuneração inadequadas que ainda predominam neste segmento do setor público e privado.

Nossos filhos são nosso maior investimento e a herança que vamos deixar para o futuro. Alguns economistas calculam que gastamos entre 250 e um milhão de reais com a formação dos nossos filhos, dependendo do nível de renda da família.

Para superar a crise do ensino público nos últimos 40 anos, grande parte das classes de renda alta, media e mesmo da nova classe média optaram pelo que parecia a saída mais fácil: o ensino particular. Atualmente observo pequenos produtores rurais da Amazônia que utilizam a renda do leite para pagar a universidade particular dos seus filhos que não conseguem competir por uma vaga nas universidades públicas.

Por isto acho fantástica a iniciativa do ex-presidente Lula de criação do Programa ProUni e a recente criação do pela presidenta Dilma do Programa Brasil Sem Fronteiras, oferecendo mais de 100 mil vagas para estudantes em universidades no exterior. Me faz lembrar do Programa de Crédito Educativo, que me ajudou a custear as despesas de estudo na Universidade Federal Rural do Pará, entre 1975 e 1978.

A classe política do Brasil investiu na ampliação quantitativa da oferta de vagas, na inclusão de todas as crianças na escola, na ampliação do ensino fundamental para nove anos. Mais recentemente, vem investindo em creches e pré-escola e a nova moda é a tecnologia da informação. É difícil questionar estas opções, se não pela omissão do elemento essencial na participação da escola no processo de formação de um cidadão: o ser humano, o Pedagogo responsável maior por este processo.

Em viagem a trabalho ao Quênia, em 2010, tive a oportunidade de conversar com diversas pessoas de diferentes classes sociais. Exercitei uma prática que desenvolvi ao longo da minha carreira como pesquisador no Estado do Acre e perguntei a diversas pessoas que trabalham no setor rural, de comércio e serviços acerca dos seus sonhos para o futuro. Fiquei surpreso e sensibilizado ao ouvir de muitos sobre o sonho de se tornarem professores. Os motivos: remuneração e reconhecimento pela sociedade.

Agora imaginemos no Brasil uma realidade onde os pedagogos sejam remunerados com o dobro do salário médio dos médicos. Poderíamos até sonhar com uma completa inversão de valores, onde o teto do funcionalismo público fosse o salário dos professores do ensino fundamental. Afinal de contas, grande parte dos problemas com os quais os médicos e os juízes tem que lidar no dia-a-dia poderiam ser evitados com uma formação adequada de bons cidadãos.
Neste cenário, a competição por vagas de professor no ensino público seria formidável. É bem provável que as escolas contassem em seus quadros de recursos humanos com os melhores profissionais das diferentes áreas. Nossas crianças estariam sob a orientação dos profissionais mais qualificados e competentes, devidamente remunerados e verdadeiramente reconhecidos como elementos chave na formação de uma nação cidadã.

Obs: Sou engenheiro agrônomo, estudei em escolas públicas desde o ensino fundamental até a universidade e também tive a oportunidade de fazer o Mestrado e Doutorado na Universidade da Flórida, Estados Unidos, como pesquisador de uma instituição pública do Governo Federal. Embora jamais tenha exercido formalmente a atividade de professor, tenho buscado retribuir os benefícios recebidos buscando promover a orientação profissional de jovens estudantes em atividades de pesquisa, extensão e ensino.

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