X

“O que está acontecendo ali é desumano”, denuncia padre

O padre Rutemarque Crispim, pároco da cidade de Brasiléia, cidade da fronteira do Acre com a Bolívia, faz um relato dra-mático da situação dos 280 haitianos abrigados na cidade. O fornecimento de energia elétrica da casa alugada pelo Governo do Acre foi cortado. O abastecimento de água também.

“Há cheiro de fezes e urina por todo canto”, relata. “Há crianças, mulheres grávidas e chegando mais haitianos a cada dia. O que está acontecendo ali é desumano”. Ontem, um grupo de 44 haitianos conseguiu sair da cidade com promessa de emprego.

A retirada dos CPF’s realizada pela Polícia Federal, antes demorada, agora é bem ágil. Eles vêm pelo Peru e chegam a Brasiléia depois de passar pela região de tríplice fronteira, localizada na cidade acreana de Assis Brasil.

Do lado peruano, o padre René Salízar, uma referência regional quando o assunto é defesa dos Direitos Humanos, informa que um grupo de 20 haitianos foi obrigado a voltar da vila peruana de Planchón para Puerto Maldonado. De Puerto Maldonado, o grupo viria para Iberia, cidade próxima a Iñapari, vizinha a Assis Brasil.

Por e-mail, o padre diz que recebeu visita de policiais querendo sondar sobre a chegada desse grupo de haitianos. “Eles disseram que queriam levantar informações para mandar ajuda humanitária”, disse o padre, deixando escapar certa ironia.

O ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome tratou do assunto até o início da noite de ontem. A única novidade anunciada após o fim da reunião foi que “o MDS está em contato com o governo estadual visando concluir no menor prazo possível uma alternativa pactuada para atendimento das ações emergenciais necessárias”.

Por e-mail, a assessoria de imprensa também contrasta a declaração do secretário de Estado de Justiça e Direitos Humanos, Nílson Mourão, de que não tem mais orçamento para tratar dos haitianos, o que justifica atraso no pagamento da energia elétrica, água e aluguel da casa onde está instalado o grupo.

O MDS informa que repassou R$ 900 mil aos estados do Amazonas e Acre no início do ano (R$ 540 mil para o Amazonas e R$ 360 mil para o Acre). Nos cálculos do Governo do Acre já foram gastos cerca de R$ 2,5 milhões com a ajuda humanitária.

“No caso do Acre, esse valor serviu para atender 1.400 famílias. Também foram destinados para o Estado do Acre 13 toneladas de alimento dos estoques do MDS na Conab da cidade de Brasiléia”, informa a assessoria do Ministério.

NOTA DE AGRADECIMENTO

Venho a público agradecer os esforços da ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário; e da ministra de Desenvolvimento Social, Tereza Campelo, no socorro aos refugiados haitianos que se encontram em solo acreano.

Com o governo do presidente Lula, e agora com o da presidenta Dilma, o Brasil, que outrora se relacionava unicamente com os Estados Unidos e a Europa, passou a mostrar para o mundo o espírito solidário do seu povo e estabeleceu uma relação plural com todos os continentes, em especial a África e os vizinhos da América Latina.

A consagração desse gesto se deu com a designação do nosso país para representar a ONU no auxílio e na recuperação do povo haitiano diante da tragédia que se abateu sobre aquele país.

É certo que ainda carecemos de um melhor entendimento dos ministérios da Justiça, das Relações Exteriores e do Trabalho e Emprego no trato de um tema tão relevante como da ajuda humanitária ao povo haitiano.

Entendemos que a ajuda do Governo Federal na manutenção desses irmãos é de fundamental importância para que o Estado do Acre possa prover o mínimo necessário para aqueles que tanto sofreram com os desastres naturais em sua terra.

Por fim, cabe ressaltar que compactuamos com a ideia de que um governo deve trabalhar pelo bem comum, independente do credo ou da etnia. Assim como nós acreanos, um dia lutamos para nos tornamos brasileiros, nossos irmãos haitianos lutam para ter o direito de viver em uma terra de esperança, o Brasil.

Nílson Mourão
Secretário de Estado de Direitos Humanos

Categories: Geral
A Gazeta do Acre: