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24 anos sem Chico Mendes

Em dezembro de 1988 por essas horas a maior preocupação de uma boa parcela dos acreanos era a mesma que povoa as mentes hoje e sempre: Natal, festa, confraternização, reunião familiar, troca de presentes e expectativas para o Ano Novo. Mas, o Natal e o Ano Novo de quem vivia naquele Acre de 1988 ficou marcado por um estrondo. Tiros de escopeta no fim de uma tarde comum, numa cidade comum, numa casa comum, mudaram para sempre a história do Acre. No dia 22 de dezembro de 1998, Francisco Alves Mendes Filho foi assassinado barbaramente na porta da cozinha da sua casa em Xapuri. Toalha no ombro, passos breves, Chico saia para tomar banho – sim o banheiro ficava do lado de fora da casa – quando foi alvejado no peito. Em poucos segundos o homem que sonhava mudar o mundo, mudou a história do Acre, do Brasil e do mundo.

Amanhã completam 24 anos de sua morte. Se você não conhece essa história – e boa parte dos acreanos infelizmente não a conhece e muito dos que a conhecem, conhecem de forma distorcida – seria muito interesse se aprofundar no assunto. Gazeteira que sou de tempos imemoriais – melhor não falar em datas e anos, porque mulher depois dos 30 não gosta de falar a idade – recomendo um mergulho nos arquivos desta GAZETA. Não conheço referencial melhor para tal. Nem mesmo o Varadouro ou  “Nós Irmãos” tem em densidade e intensidade, material contundente e fiel à realidade, à história e ao legado de Chico Mendes, como A GAZETA.

Desses 24 anos sem Chico Mendes, nenhum outro espaço jornalístico trabalhou também a memória, a identidade e a história do líder sindical como A GAZETA. E falo principalmente dos primeiros 10 anos após sua morte. A cobertura do seu assassinato, caçada aos seus algozes e poste-rior julgamento foi feita de maneira irrepreensível por alguns dos grandes nomes do jornalismo acreano de todos os tempos. De José Leite a Toinho Alves, passando por Simony D’ávila, Aníbal Diniz, Sérgio Vale, Socorro Camelo, Luís Carlos Moreira Jorge, Chico Araújo, Famínio Araripe, Elson Martins – só para citar alguns – registraram para as páginas da história a história desse homem tão amado mundo afora e tão incom-preendido em suas cercanias. É claro que A GAZETA não é a única fonte a se beber. Há inúmeras outras espalhadas pela internet e em espaços públicos como a Biblioteca da Floresta, Museu da Borracha, Universidade Federal do Acre só para citar alguns.

Conhecer a história real de Chico Mendes é conhecer o Acre. E o acreano, infelizmente, não conhece muito bem o Acre. Principalmente o acreano jovem, aquele que ainda não fez 30 anos e que não tem, portanto, memória do que era esse Estado na década de 1980. Acredite, meu querido, minha querida leitora: isso aqui não era um bom lugar para se viver. Não que fosse um lugar ruim. Não era. Era apenas um Estado com graves problemas sociais resultado da luta pela terra e pela preservação da floresta. Voltando ao conhecer Chico, você não precisa concordar com os  seus ideais e sonhos. Não precisa mesmo. Mas, mesmo que seja para contestá-lo é importante saber o que ele de fato pensava.

No mundo em que vivemos, onde o planeta grita, geme, chora pela ação do homem que na maioria das vezes não respeita os seus limites, ter consciência sobre os problemas ambientais, as mudanças climáticas deixou de ser modismo e passou a ser obrigação. E não tem essa de que não devo me preocupar porque não estarei vivo daqui a 100 anos. Minhas atitudes hoje dizem muito de mim. O futuro dos outros importa a todos. E é preciso sim, que cada um faça a sua parte. Que cada um tenha responsabilidade ambiental e social.

Sustentabilidade –  E falando nisso, lembro-me da conversa que tive na semana passada com minha amiga e colunista social Roberta Lima. Um assunto que parece não ter nada a ver com esse aqui, mas que tem sim. Estávamos numa premiação onde a maioria das pessoas estavam muito bem vestidas e com modelos novos (leia-se mulheres, porque homem não dá a mínima pra isso). E foi exatamente por nos referirmos à moda que veio à tona o tema sustentabilidade. Nos referíamos a essa ditadura que obriga a mulher a vestir um vestido novo a cada evento. Sou contra (meu bolso e minha consciência não permitem). Roberta pensa como eu. Nos conhecemos a tempo suficiente para sabermos que repetimos sim roupas em eventos, sejam eles chiques ou pequenas reuniões familiares ou de amigos. E somos felizes assim.

Me recuso a gastar rios de dinheiro com uma roupa a ser usada uma única vez. Chique, meu amigo, minha amiga, é ser sustentável. Sustentável no balanço das contas. Na responsabilidade social e no repetir de roupa. Sim, no repetir de roupa. É bom pro meu  (seu) bolso, para o planeta e para o relacionamento (como já disse, homem não dá a mínima pra uma roupa repetida, mas surta com a fatura do cartão de crédito).

Na véspera do dia da morte de Chico Mendes, vamos aproveitar o período de festas, gas-tanças e comilanças para pensar um pouco no planeta e no bolso. Não se preocupe em demasia com o que vestir na noite do Natal, na festa da empresa, no Reveillon com os amigos, com a família, no Arena ou na Maison Borges. Mantenha a preocupação e o foco em fazer hoje a diferença para o amanhã. A natureza agradece. Seus filhos e netos também te serão eternamente gratos!

* Charlene Carvalho é formada em Antropologia e é jornalista desde os 18 anos de idade (ou seja, faz um bocado de anos).

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