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Cultivando florzinhas

Eu tinha dois espaços vazios com terra na entrada da minha casa. E planejei um jardim a vida inteira, mas essa correria de todo dia…sabem como é. Adiei tanto que esqueci a ideia. Mas um dia a vida me deu de presente algumas possibilidades de mudar as minhas rotinas e aí olhei pra baixo e vi que onde havia pedras, pedregulhos, cacos de tijolo e mato poderia ter flores. E comecei a mexer, revirar, revolver a terra, com enxada, com a mão mesmo e fui plantando mudas que de formas variadas chegaram até mim. É só um projeto de jardim feito por algumas escolhas e pelo acaso da natureza. As plantas que escolhi tinha apenas um motivo: flores.

Gosto muito dessa simbologia da vida das flores. Uma beleza estupenda, mas momentânea. A beleza que não tem nada além disso, só beleza. Ninguém tem o direito de se negar o belo. O melhor de tudo é o meio e não o fim. É o cultivo. Olhar pra muda (pode ser um galhinho) ou só uma raiz e amar aquele negócio. Querer saber onde vai dar, o que vai ser. Um dia desses comprei um saquinho de mudas de amor-perfeito no supermercado. Tava lacrado. Plantei conforme a indicação, vigiei, molhava cuidadosamente e passados dois meses os brotos não passavam  de 5 centímetros.

Dois meses depois o dobro do tamanho. Comecei a me desesperar por causa da expectativa de asso-ciar às mudas a possibilidade um encontrar um amor-perfeito real. Ia fazendo analogias com a planta e o sentimento: a demora em brotar, a atenção em cuidar, o local exato pra pegar a quantidade de sol adequada, essas coisas. Mas a planta não avançava. Resolvi mudar de vaso. Em menos de 15 dias elas prosperaram. Fiquei super feliz. Deu certo. As mudas cresceram tanto que tive que replantar em vários vasos.

Um dia, a surpresa: uma flor abriu. Branquinha, linda. Só quem cultiva flores sabe o valor disso. E eu cheguei no nível de falar com as plantas. Não me julguem porque faz parte do processo. Foi quando percebi que tinha alguma coisa errada. Aquela planta não era amor-perfeito. Quase morri. Ela é conhecida no Acre como boca-de-lobo. Poderia ser cômico se fosse. O título desse artigo poderia ser “Às vezes cultivamos bocas-de-lobo achando que são amores-perfeitos e um dia somos devorados”. Mas prefiro “As surpresas do que cultivamos não está no nome do que sentimos e sim no que colhemos”.

Não. Essa não é a moral da história. A grande moral da história é que descobri que pratico a “jardinoterapia”. Bom demais. Cura a alma. Tentem. Uma coisa é certa. A gente chora menos as pitangas da vida quando há ervas daninhas pra arrancar ou flores lindas com quem conversar, “minhas bebezinhas da mamãe”.

* Golby Pullig  é jornalista
Email:golbypullig@gmail.com

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