O ritmo da agenda do governador Tião Viana anuncia um 2013 agitado. Politicamente, ele sabe que o cenário econômico vai dar o tom nas urnas para a próxima eleição. Em entrevista ao Acre Economia, ele falou sobre diversos assuntos: piscicultura, ZPE, energia e a novidade do momento. Em 2013, o Governo do Acre vai abrir licitação para exploração de gás e petróleo. Aqui, os principais trechos:
A GAZETA: O senhor começou 2012 vestindo o colete da Defesa Civil, enfrentando os problemas de alagação, sobretudo no Alto Acre, onde o comércio foi arrasado. Está terminando com um crescimento do comércio baixo, problemas na comercialização da castanha, madeira… Vai ter saudade de 2012?
Tião Viana: Sim. Vou ter saudade. O ano foi bom. A realidade não é essa que você está falando. Quando você vê o Acre crescer 1 por cento, o Acre cresceu mais. O Acre está com taxa de crescimento de 30% a 35% nos últimos cinco anos e mantendo. Nós temos mais é que celebrar. Os números falam que o setor madeireiro cresceu. Nós estamos preparando o mais ousado arco de industrialização madeireira que já se imaginou para um estado amazônico e tudo com regras de sustentabilidade. A previsão é a melhor possível para o setor madeireiro. Os donos das empresas falam que foi um ano positivo, em que pese o dólar baixo, e o sacrifício do mercado comprador europeu e americano. Nós fechamos com o Banco Interamericano os últimos detalhes para investimentos e já estamos autorizados a licitar e já abrimos a licitação de insumos do Banco Mundial. Só nos isolados, são 89 milhões. Alguns indicadores, como o de mortalidade infantil, na casa dos 13%, disputando com estados como Rio Grande do Sul e Paraná…Nós não temos do que reclamar. Foi um ano bom.
A GAZETA: Governador, por que é tão difícil aceitar a condição da crise? Qual o problema em assumir problemas na gestão?
Tião Viana: Mas, qual é o problema da gestão?
A GAZETA: Não houve consequências para a gestão?
Tião Viana: O Governo avançou em crescimento. Entre os estados amazônicos, quem cresceu mais do que o Acre? O governo avançou em investimentos, contratou crédito. O governo teve um prejuízo de repasse da União de 299 milhões e fechou o ano com estabilidade fiscal e econômica. Qual é o motivo do desalento? Nós podemos dizer que o Acre se recuperou fortemente.
A GAZETA: De que forma a crise alcançou o Acre?
Tião Viana: [alterando o tom] Não. Primeiro, vamos consolidar os dados positivos. Quando é que você imaginaria que nós criaríamos mais de sete mil empregos só no Ruas do Povo? Quando é que você imaginaria que você iria ligar para as pedreiras e elas não teriam como lhe atender? Não há nem brita para atender às obras do Acre. Esse baixo astral pode ser de outros. Não meu.
A GAZETA: Tendo falado sobre as coisas positivas, como é que a crise afetou o Acre?
Tião Viana: Em políticas de custeio. Quando alguém imaginaria que o Acre perdendo 299 milhões? O que correspondeu a compensação disso? Os primeiros cinco meses do ano passado, eu ter conseguido viabilizar contratações de crédito que nos permitiram investir em recursos agora. Senão, o Estado, de fato, teria vivido uma crise grave. Vá em Rondônia para ver como nós aqui estamos no paraíso. Vá em Roraima. Vá dentro dos municípios do Amazonas. Você quer um problema, eu vou dizer. Eu vejo um problema: capital de giro para empresas executarem obras.
A GAZETA: Mas, isso não chega a ser um problema de governo, mas de gestão das empresas.
Tião Viana: Mas, afeta na execução das obras que o Governo precisa para ter os resultados. Nós temos para os municípios como Jordão, Santa Rosa, Thaumaturgo, Porto Walter, 89 milhões de reais que serão executados só em obras de saneamento. Que empresas darão conta de executar no prazo? Se elas não executarem, o dinheiro vai ficar imobilizado.
A GAZETA: O senhor avalia que essa falta de capital de giro responda pela qualidade de algumas obras, por exemplo, do Ruas do Povo?
Tião Viana: Não. O Ruas do Povo é um programa excelente, inclusive em resultado de obras. Se você tem cem ruas pavimentadas, se em cinco apresentarem problemas, isso está dentro da previsão técnica. E está no contrato: danos na qualidade da obra serão corrigidos pelo contratado. Agora, se você disser que a qualidade das obras no Acre deixa a desejar, em muitos aspectos, deixa.
A GAZETA: Em quais?
Tião Viana: No acabamento. Porque você não tem mão de obra qualificada. Como seria o ideal. O Acre não tem experiência em grandes obras.
A GAZETA: ZPE. Quando esse projeto vai ter consequên-cias práticas para a população?
Tião Viana: Já se tem a primeira empresa aprovada que já deve construir, a partir de janeiro, a sua instalação. E já tem uma outra empresa que tomou a decisão de se instalar. Não se pode querer tudo da noite para o dia. Eu falei que seriam três anos de instalação e viabilização da ZPE. Não se avançou mais porque a crise afetou capacidade de expansão empresarial também.
A GAZETA: A Amazon Polímeros já anunciou a vinda para a ZPE. A “outra empresa” é acreana, não é? O senhor poderia adiantar qual seria?
Tião Viana: A outra empresa é uma que vai fazer transformação de óleo, açúcar e leite em pó para poder exportar para os países vizinhos. Eu não posso adiantar porque o empresário pediu discrição. Mas, ela já vai testar operando em julho de 2013.
A GAZETA: Complexo de piscicultura. Tem data para começar a operar?
Tião Viana: Nós vamos ter a oportunidade de ver esse complexo funcionando a partir do final de janeiro. Já vai ser inaugurado o Centro de Alevinagem. Em abril, a fábrica de ração e o frigorífico em junho. Em Cruzeiro, as obras estão mais adiantadas. Em abril já vai ser inaugurado o frigorífico, investimento de 22 milhões de reais.
A GAZETA: O senhor inaugura a BR-364 ano que vem?
Tião Viana: Se Deus quiser, em 2013, nós vamos concluir essa obra. Tudo o que nós podíamos contratar, tudo o que foi preciso fazer junto ao Dnit, Ministério dos Transportes foi feito. Agora, é o prazo para apresentar os projetos para executar a obra final.
A GAZETA: Energia. Qual o cenário para 2013?
Tião Viana: Bons cenários. Hoje, o segundo Linhão está interligado. Essa semana já houve a queda de um Linhão e o outro segurou. Caiu o novo, mas o velho “segurou”. Nós já vimos a primeira fase de licitação do governo da presidente Dilma para o Linhão para Cruzeiro do Sul só que deu “deserta” [nenhuma empresa se habilitou]. Além disso, nós estamos procurando substituir energia em regiões isoladas, como Jordão e Thaumaturgo. Serão usados motores movidos à álcool de macaxeira para gerar emprego e renda nos municípios. Isso muda a matriz energética baseada no petróleo. E nesse ano de 2013, nós vamos ter a licitação para exploração do gás e do petróleo em termos de definição de lotes para as empresas.
A GAZETA: Já vai começar em 2013 a exploração de gás e extração de petróleo no Acre?
Tião Viana: Eu vou trazer a presidente da ANP na segunda quinzena de janeiro para explicar como o empresariado do Acre vai ter oportunidade de trabalhar com esse novo movimento econômico que o Acre vai viver. Há uma frase de um dos maiores especialistas da área, que é o Doutor Nilton, que diz o seguinte: quem mais pode ganhar com a prospecção e exploração de petróleo são os pequenos e médios empresários. Ele virá ao Acre também e vai explicar de que forma isso pode acontecer.
A GAZETA: Para finalizar nossa conversa: o ministro Gilberto Carvalho afirmou essa semana que chega a ser “doloroso” ver que companheiros do PT enriquecendo. De que forma o senhor avalia esse raciocínio?
Tião Viana: É uma declaração honesta, correta. Veja o que o Tarso Genro disse: ele faz uma defesa do Genoíno, no caso do Mensalão, do José Dirceu, dizendo que foram acusados sem provas. Já com o Delúbio é diferente. O Delúbio confessou o que fez. E está aguardando a punição. Agora, não posso concordar que houve compra de votos no Senado durante a Reforma da Previdência. Eu era o relator da Reforma e eu negociei os votos com a oposição. Se não fosse eu ter criado a PEC paralela como uma nova jurisprudência parlamentar jamais teria sido aprovada a Reforma. Onde tem dinheiro, o corrupto tenta se achegar. E, geralmente, é aquele que mais lhe elogia, mas é aquele que pode estar dando um golpe moral no bem público.
As conquistas e entraves de um ano de desafios para o setor produtivo
ITAAN ARRUDA
O ano de 2012 não vai deixar muitas saudades para o setor produtivo. O cenário de crise exposto pela Europa acabou contaminando toda a economia. No Acre, por mais que o Governo do Estado se esforçasse em amenizar, os efeitos negativos acabaram sendo sentidos de uma maneira ou de outra. O Acre Economia faz uma retrospectiva para que o leitor se lembre das dificuldades pelas quais passou o setor no Estado e quais ferramentas foram sendo criadas para superar as barreiras. Feliz 2013! Que venha um ano mais produtivo, lucrativo e distributivo para todos!
JANEIRO
-Fecomércio registra queda de 10,87% no volume de vendas de 2011 comparado a 2010;
– Drama haitiano: busca pela sobrevivência traz haitianos até Brasiléia. Empresas de outras regiões do país vêm ao Acre contratar os trabalhadores;
– Polo Logístico de Rio Branco atrai atenção de investidores. Cerca de 50 empresas se interessam em se estabelecer no empreendimento que vai reunir maiores distribuidores e atacadistas da Capital. Governo anuncia investimento de R$ 13,5 milhões para infraestrutura do polo em área de 133 hectares.
FEVEREIRO
– Cerâmicas e olarias têm mercado aquecido com anúncio de fortalecimento do programa Ruas do Povo, do Governo do Estado;
– Direção de empresa que administra Via Verde Shopping afirma que empreendimento deve movimentar R$ 200 milhões em vendas;
– arceneiros e piscicultores têm prejuízos com as enchentes por todo Acre;
– Safra dos seringais de Rio Branco fica completamente comprometida. Na foto, ribeirinha do Rio Acre é o retrato do desamparo. Sacolões são distribuídos pela Prefeitura de Rio Branco. Ministério da Integração Nacional anuncia ajuda de apenas R$ 3 milhões para as famílias. Seringal Catuaba ficou embaixo d’água.
MARÇO
– Brasiléia é arrasada com enchente do Rio Acre. Comerciantes perdem praticamente tudo. Secretaria de Estado da Fazenda beneficia os atingidos para ajudar superar tragédia;
– Prefeitura de Rio Branco e Governo do Estado realizam a Feira do Peixe que, na edição deste ano, ficou aquém das expectativas do volume de vendas.
– Governo cumpre últimas exigências para alfandegamento da Zona de Processamento de Exportação;
ABRIL
– Diretor de empresa administradora do Via Verde Shopping, Dorival Regini, nega revisão de contratos. Um dos primeiros sintomas da crise econômica é sentido pela baixa no consumo do comércio varejista. Com custos altos, comerciantes do shopping pedem revisão dos contratos;
– Momento histórico: ZPE do Acre é a primeira do país a ser alfandegada. O trabalho, que começou ainda no governo de Jorge Viana, teve continuidade na gestão de Binho Marques e é concluído no governo do Tião Viana. Desafio passa a ser, agora, atrair empresas.
MAIO
– II Encontro de Marceneiros do Acre tenta consolidar organização da cadeia produtiva por meio do programa de Compras Governamentais;
– Ernesto Rodriguez, representante do Grupo Gloria, maior holding peruana, anuncia para assessores do Governo do Estado a instalação da primeira indústria no Acre.
JUNHO
– Poder público investe R$ 37 milhões em máquinas e implementos agrícolas. Os recursos são do Governo Federal com contrapartida do Governo do Acre. Ação retoma Pacto Agrário estabelecido com setor agrícola há quase cinco anos;
– Acre sedia 1º Encontro Internacional de Turismo e Comércio. Na ocasião, o governador em exercício, César Messias, assina a Carta de Rio Branco, com medidas necessárias para fomentar as relações comerciais entre os dois países;
– Rio +20: Acre apresenta política de desenvolvimento sustentável praticada há 13 anos como uma ação do poder público.
JULHO
– Expoacre 2012 tem meta de comercializar R$ 120 milhões. Com sintomas de crise já se instalando, Governo anuncia que superou meta. Metodologia de aferição dos dados é contestada, mas festa leva multidão ao Parque de Exposição Marechal Castelo Branco;
– Complexo Industrial Florestal de Xapuri retoma produção com novo formato de planta industrial e ampliação de oferta de produtos;
– Mapa da Violência, elaborado pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino Americanos, relaciona distribuição de renda e mortes de crianças e adolescentes no Acre.
AGOSTO
– Dom Porquito, instalada em Epitaciolândia, é a resposta acreana para driblar a grave crise no comércio da carne suína no país. Empresa que tem apoio do Governo do Acre mira no mercado andino e garante abastecer, a partir de 2013, toda região até a Venezuela, com carne resfriada. A produção de milho usado na ração tem trabalhado em parceria com a Agroceres;
– O Fundo de Investimentos Kaeté anuncia aplicação de R$ 15 milhões na empresa Peixes da Amazônia, empresa da capital misto que administra o maior empreendimento de piscicultura da Região Norte do país. Ao todo, o projeto está orçado em R$ 40 milhões, Até agora, a inicia-tiva privada tinha colocado R$ 8 milhões e o governo R$ 19 milhões. O anúncio da Kaeté coloca o capital provado superior ao público no projeto.
SETEMBRO
– JBS nega prática de dumping no Acre. O problema foi parar no Conselho Administrativo de Defesa Econômica, autarquia vinculada ao Ministério da Justiça em Brasília;
– Sebrae realiza rodada de negócio do setor de alimentos. Medida objetiva garantir mercado para quem produz e distribui, além de diminuir custos para setor culinário (bares e restaurantes) de Rio Branco.
OUTUBRO
– Receita Federal deflagra Operação Pitágoras para identificar e punir empresas que usam as Áreas de Livre Comércio do Acre para sonegar pagamento de impostos;
NOVEMBRO
– Poder público local já não consegue mais esconder cenário de crise. Segundo a Amac, das 22 prefeituras, apenas quatro ficam com contas adimplentes: Acrelândia, Brasiléia, Cruzeiro do Sul e Rio Branco. Agendas econômicas do Governo do Acre ficam menos intensas, apesar do esforço do Palácio Rio Branco.
DEZEMBRO
– Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprova projeto de lei substituto, cujo relator, senador Jorge Viana propõe mudanças na legislação que regulamenta as ZPE’s no país. “Ganhamos o semestre”, avaliou o senador. Agora, o texto do relator segue para a Câmara dos Deputados;
– Castanha tem queda no preço no mercado nacional, o mais estratégico para a Cooperacre, a maior cooperativa do Estado que comercializa a amêndoa. Bolívia, sem entrar no mercado europeu por causa da crise, abarrota de castanha os exportadores do Sudeste. Resultado: queda nos preços;
– Valmir Ribeiro é eleito presidente do Tribunal de Contas do Acre, após renúncia de Dulcinéia Benício de Araújo;
– Governo recua e anuncia nova negociação do programa de refinanciamento de dívidas para quem não está em dia com o fisco estadual. O passo atrás é constatação de que o comércio precisa de apoio em função da crise econômica.