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Reportagem expõe o drama de acreanos que sofreram nas obras da Usina de Jirau

Qual é o ‘limite do sofrimento’ que aguenta um trabalhador na busca pelos seus sonhos? Uma reportagem da Agência Nacional, assinada pela jornalista Ana Aranha, mostrou que este limiar é bem maior do que muitos imaginam. A matéria relata o drama de trabalhadores acidentados no canteiro de obras naquelas que prometem ser um marco de desenvolvimento para a Região Amazônica: as usinas de Jirau e de Santo Antônio, instaladas no Rio Madeira, em Rondônia. Entre eles, está o drama vivido por João Pedro da Silva e por Rene de Almeida Silva, 18 anos. Pai e filho.

Os dois saíram do Acre em busca de uma vida melhor, com mais desafios profissionais na Usina de Jirau. Eles foram para lá construir a chamada ‘Escola dos Sonhos’, um projeto ousado entre os convênios assinados pelos construtores em Jirau. Na teoria, a escola é projetada para ser uma unidade de educação integral que vai da creche ao ensino médio, com capacidade para 700 alunos. Ela será implantada em Jaci Paraná, a cerca de 90 Km de Porto Velho.

No entanto, na prática, a escola que promete ser um sonho de boa educação para crianças e adolescentes necessitados para os 2 trabalhadores acreanos em Rondônia se transformou em um terrível pesadelo. De acordo com o pai João Pedro da Silva, ele e seu filho foram iludidos e tratados como ‘animais’ por seus empregadores. O acreano conta que o alojamento onde ele e seu filho foram ‘jogados’ era um verdadeiro ‘chiqueiro de porco’. Tratava-se de uma casa de madeira, sem forro ou sequer móveis. Só havia redes e colchões finos e, segundo João, ‘sujos’. Os seus poucos pertences eram separados dos de outros trabalhadores por divisórias de papelão.   
O local ainda era ‘impestado’ de mosquitos, o que deixavam todos expostos e apreensivos pela contaminação da malária, já que a região apresenta altos índices da doença. E, apesar de viver sob tais condições, João não pode reclamar. E quando o fez acabou na remessa de trabalhadores que foram demitidos por fazerem supostos ‘protestos criminosos’ nas obras.

Meses depois da demissão do pai, o filho, Rene de Almeida Silva, narrou como aconteceu a sua demissão. Primeiro, ele – que trabalhava como ajudante de solda, contou que machucou o seu ombro gravemente em um acidente de trabalho. Na hora, só um colega de trabalho o ajudou. Já a empresa responsável, não teria feito nada. Hoje, o ombro dele se desloca do lugar facilmente.   

O que aconteceu com Rene deixou o pai João Pedro ainda mais triste: “é uma humilhação. Vou levar o meu filho de volta pra mãe pior do que saiu”.

Outro lado – Em contrapartida, o diretor da Eletrix (empresa responsável pelas obras onde trabalharam os 2 acreanos), Albertino Cabral, disse que não há irregularidades no andamento dos trabalhos e que o seu canteiro de obras não registrou, formalmente, nenhum acidente de trabalho, uma vez que os trabalhadores são instruídos com treinamento de segurança. Além disso, eles são obrigados a usar o cinto quando estão em alturas perigosas.

Sobre os alojamentos, Cabral afirmou que a empresa só é responsável pela contratação dos trabalhadores. O local onde eles estão alocados é de responsabilidade exclusiva deles. “Se eles alugaram um local assim, o problema é deles. Não temos alojamento porque eles destroem, é só ver na mídia o que fizeram aí nas usinas”, justificou Albertino.

Um péssimo histórico – Além do drama dos acreanos, trabalhadores de vários lugares do país foi retratado na reportagem da Agência Nacional. A maioria são operários vindos de estados da Região Norte, mas há alguns de Goiânia e outros estados mais distantes. Ao todo, as obras da usinas no Rio Madeira contam com mais de 32 mil trabalhadores, dos quais 18 mil são de Jirau e 14 mil são de Santo Antônio. As sobras nos dois locais começaram há 3 anos e meio, em 2008. Desde então, 13 operários das 2 usinas já morreram em acidentes de trabalho. Por isso, o clima no canteiro de obras é tenso.

Há reclamações trabalhistas de todos os tipos por parte dos fun-cionários. Entre eles, excesso de trabalho sem remunerações de horas extras; descumprimento de acordos salariais; o não pagamento de tickets alimentação; falta de equipamentos e medidas de proteção individual dos trabalhadores;  alimentação ruins nos restaurantes específicos para atender os operários; não pagamento de benefícios trabalhistas; péssimas condições de alojamentos cedidos; etc. (Com informações de Reportagem especial da Agência Nacional)

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