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Rio Branco comemora 130 anos de história

Rio Branco, a mais populosa cidade do Acre, foi fundada em 28 de dezembro de 1882 pelo cearense Neutel de Maia. Cortada pelo Rio Acre, que divide a cidade em duas partes, Rio Branco é hoje o centro administrativo, econômico e cultural do Acre. Há 130 anos, a cidade foi marcada por histórias, lendas e trajetórias.

A ocupação do Rio Acre se deu por volta de 1880, explicou o historiador Marcos Vinícius das Neves. “Em 28 de dezembro de 1882, sobe um vapor chamado Anajás que trazia várias turmas para diferentes seringais ao longo do rio. Os Irmãos Leite foram deixados onde hoje é o Seringal Bagaço. Depois deixa o Neutel Maia na Volta da Empreza, que é a Curva da Gameleira e seguiu viagem até a foz do Xapuri, onde deixa Manuel Girão. Nesse mesmo vapor foram abertos três grandes seringais. Desse, dois acabariam se tornando cidades. Rio Branco se formou porque Neutel Maia logo descobriu que essas terras separadas para ele no 2º Distrito eram baixas e ruim de seringueiras, além de não ter jeito nenhum para seringalista. Ele era comerciante e abriu uma casa comercial, possibilitando que outras casas se formassem próximos. A partir de 1884 ele funda a casa N. Maia e Cia. Quando ele vendeu os terrenos na beira do rio e permitiu que os outros comerciantes se instalassem, começou a formar uma rua, que acabou configurando a Volta da Empreza não como um seringal, mas como um povoado. Esse povoado se desenvolveu ao longo do tempo e por sua importância, tanto Rio Branco, Xapuri e Porto Acre, as únicas três cidades que haviam no Acre na virada do século, receberam dois combates da Revolução Acreana em 1902”.

Em 07 de setembro 1904 o povoado se torna a sede administrativa oficial Villa Rio Branco. “O Acre foi anexado ao Brasil pelo Tratado de Petrópolis e foram criados três departamentos, o Alto Acre, Alto Purus e Alto Juruá. A Villa se tornou a sede do departamento do Alto Acre, porque já existia o povoado. No Purus não tinha nenhuma cidade, só seringais. Então o General Siqueira de Menezes desapropriou um seringal e fundou Sena Madureira, em 25 de setembro de 1904. No Juruá foi o mesmo processo, o General Thaumaturgo de Azevedo desapropriou um seringal e fundou Cruzeiro do Sul em 28 de setembro de 1904. Durante esse período de departamento, o Acre não tinha um governo unificado, eram vários governantes separados. Em 1912 foi desmembrado o departamento do Alto Juruá e Alto Taraucá e passou a ter quatro prefeitos departamentais. Em 1920 essas prefeituras departamentais foram extintas e foi estabelecido o governo geral do território federal do Acre e a capital Rio Branco, que foi a primeira capital do Acre e única ao longo da história. É a cidade mais antiga do Estado e é formada espontaneamente pela vontade de seus moradores. É fato que Sena Madureira estava preparada para ser a capital, a partir de 1917 começaram a instalar lá todos os equipamentos federais, porque seria a cidade mais central dentro do território. Porém, Rio Branco era mais importante economicamente e politicamente, era o vale mais intensamente povoado, onde tinha a maior produção da borracha e de castanha. A importância econômica e política do Rio Acre ficou à favor de Rio Branco. Em 1920, quando foi unificado território, Rio Branco se tornou a capital”, conta o historiador.

Com o tempo, a administração política do território foi sendo transferida para a margem esquerda do rio, mais alta e sem inundação, disse Marcos. Mesmo assim, a direita permanecia como pólo comercial da cidade. “No período de crise da borracha Rio Branco começou a receber a maior parte dos recursos, pois o governador vivia aqui e a maioria das obras e recursos eram aplicados na capital. Foi beneficiada pelo maior investimento do poder público. Não é atoa que ao longo desses 130 anos de formação, a cidade se tornou a mais populosa. Metade da população do Acre mora em Rio Branco. Além de ser a cidade mais antiga do Estado e ter se formado espontaneamente, diferente de Sena e Cruzeiro, Rio Branco é divida entre os dois lados do rio, por conta das alagações que sempre aconteciam. Todos os anos o rio enchia e alagava o 2º distrito. Várias pessoas tentaram tirar a cidade daqui, querendo levar a sede para outros locais. Em 1908 o coronel do Exército Gabino Besouro, que veio governar o Alto Acre, desapropriou as terras do 1º distrito e tentou fundar outra cidade, chamada Penápolis. Por isso que o 2º Distrito, que foi formado espontaneamente, tem ruas irregulares que seguem o traçado do rio. Enquanto o 1º distrito é planejado, que vai da Rua Epaminondas Jácome até a Avenida Ceará. O que era para ser uma nova cidade, na verdade nunca funcionou, porque todo o comércio ficava no outro lado. Em Penápolis eram só as casas das autoridades. Em 1910, o prefeito departamental da época acaba com a Villa Rio Branco e Penápolis, e cria a cidade de Empreza, juntando os dois lados. Em 1912 o outro prefeito resolve chamar isso tudo de Rio Branco, considerando as duas cidades uma só”.

Uma disputa entre as margens iniciou-se, mas com a chegada da ponte elas foram esquecidas. “A cidade se desenvolveu em uma rivalidade entre o 1º e 2º Distrito, entre disputa dos dois lados. Em 1971 finalmente foi erguida a ponte metálica, interligando os dois lados e a partir daí as disputas diminuiram. Rio Branco é uma cidade que tem muitas histórias. A nossa velha Gameleira, o marco de fundação da cidade, continua em pé. Rio Branco é caracteristicamente uma cidade amazônica, de beira de rio e singular, cercada por histórias, lendas e trajetórias. A cidade soube se tornar e se manter como a mais importante do Acre ao longo de 130 anos. Aqui vivem pessoas nascidas de todos os municípios, tornando Rio Branco uma síntese, uma mistura de tudo o que há de melhor no nosso Estado”.

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