Ícone do site Jornal A Gazeta do Acre

Do impresso tu vieste ao impresso voltarás

Já passava das duas da tarde quando subi o primeiro vão da escada, dei dois toques na porta principal, entrei e sentei ao lado da Geisy Negreiros, a editora anterior deste matutino. Desde que comecei a trabalhar neste meio já se passaram 15 anos de jornada.

Geisy, que estava de partida para novos ares profissionais, me recebeu com um aperto de mão e um sorriso sereno que lhe são peculiares. Iniciou a apresentação sobre o funcionamento do sistema e me senti à vontade para reaprender e a me inserir de novo no ninho do qual eu nasci, o impresso.

Foram oito anos longe do cheiro de tinta fresca no papel e do bom bate papo acalorado e (quase) sem pressa entre os colegas de redação, entre outros privilégios sensoriais que só uma redação de impresso pode proporcionar.

Entre uns goles e outros de café – da garrafa que com certeza, ela adoraria levar embora consigo -, Geisy foi me apresentando um a um. Fui revendo amigos com quem já trabalhei em outras oportunidades e fazendo novos, com a serenidade e a sensação de estar de volta às origens. Foi algo que há muito tempo não experimentava.

Assumo a editoria de A Gazeta, convicto de que paciência e dedicação são os combustíveis da alma dos que desejam aprender a melhorar, enquanto discrição e humildade são o veí-culo para essa finalidade.

Numa retrospectiva do ofício, me lembrei com saudosismo o dia em que rotulei de ‘As Panteras’ quatro meninas engraxates, em reportagem que valeu para elas a saída das ruas com direito a bolsa de estudos e auxílio à família. Ou quando quase apanhei de um oficial da Polícia Militar, porque este se recusava a ser rotulado de ‘janeleiro’ do curso de Direito da Ufac. Pior que nem tinha sido eu o autor do texto, embora trabalhasse no mesmo periódico em que ele foi publicado.

Mas outro fato que me alegra até hoje foi ter sido parabenizado na manhã seguinte ao primeiro dia de trabalho por ter trazido a manchete daquela edição.

“Nossa meu! Já te deram a manchete, foca?”, lembrou um colega de cara meio amarrada.

“Foi é?…Legal!”, respondi sem esboçar euforia. Apenas um sorriso, afinal nem entendia direito aquela situação. Não conseguia compreender, pelo menos naquele momento, como um bom título no topo da capa e uma foto legal podiam agitar tanto o coração – e o ego – de um repórter.

O fato é que contribuir com seu trabalho para um diário ainda é imensamente satisfatório, mesmo num tempo em que a rapidez como se dissemina a notícia possa permitir que as pessoas repliquem para o mundo o que observam de suas janelas e de seus quintais.

Mesmo que usemos tecnologias de enviar fotos e pequenos textos de 140 caracteres a pessoas que estão a milhares de quilômetros de nós, nada é tão prazeroso quanto uma boa história impressa para se tatear, para se ler numa poltrona e para repassar  também aos outros, de mão em mão.

De resto, rogo a Deus que esteja conosco nesta nova caminhada. Com certeza, Ele já está.

E da frase bíblica, faço a minha própria adaptação: do impresso tu vieste, ao impresso voltarás. Então que eu possa corresponder mais uma vez à responsabilidade que a mim confiaram e bola pra frente!

* Resley Saab é jornalista.
E-mail: saabresley@gmail.com

Sair da versão mobile