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Estimativa de carbono em palmeiras arbóres na Apa ‘Lago do Amapá’

O aumento do CO2 na atmosfera contribui para o aquecimento global e deriva, dentre outras fontes, da queima de combustíveis fósseis, carbonização de matéria orgânica e dos desmatamentos. No Brasil, estima-se que entre 66 e 75% das emissões de CO2 são provenientes do desma-tamento e das queimadas. Na Amazônia, as emissões derivadas de derrubadas e queimadas, que totalizaram 245,3 milhões de toneladas entre 2011 e 2012, representam mais que o dobro das 121,6 milhões de toneladas emitidas por todos os veículos de passeio leves do país.

Apesar disso, muitas áreas desmatadas ou antropizadas na Amazônia têm conseguido se regenerar e incorporar carbono em razão do crescimento das plantas, reconhecidas como o mecanismo vivo mais eficiente para o seqüestro do CO2 da atmosfera. Por esta razão, considera-se que os fragmentos florestais em regeneração existentes na Área de Proteção Ambiental (APA) Lago do Amapá, localizada nas cercanias de Rio Branco, têm grande potencial de sequestro de carbono. Além desse potencial, esses fragmentos florestais influenciam positivamente a percepção, por parte dos habitantes da zona urbana de Rio Branco, dos benefícios relacionados com a qualidade am-biental e o conforto climático proporcionados pelas florestas.

Sendo as florestas os maiores acumuladores de biomassa – e conse-quentemente de carbono – do planeta, a sociedade civil organizada e a mídia vêm demandando dos profissionais que atuam na área florestal a geração de informações que possam auxiliar na redução dos riscos ambientais que se colocam diante da espécie humana em razão do aquecimento global derivado da emissão excessiva de CO2 na atmosfera.

Nesse contexto, foi realizado um estudo em um fragmento florestal da APA Lago do Amapá com o objetivo de estimar o estoque de carbono da parte aérea de palmeiras arbóreas nativas do local. A escolha das palmeiras como objeto principal do estudo decorreu do fato de que em alguns lugares da APA a ocorrência das mesmas nas florestas em regeneração é significativa. Em outros, como no caso dos buritizais, a dominância das palmeiras na vegetação é total.

O fragmento selecionado, com uma área estimada em 21 hectares, apresentava sinais de antro-pização decorrentes da retirada de essências madeireiras. Por essa razão, a predominância de palmeiras de grande porte mais adaptadas às condições de florestas secundárias era evidente.

A estimativa do estoque de biomassa, feita através de método não destrutivo, foi baseada em dados de um inventário florístico realizado previamente em 0,5 hectares do fragmento florestal avaliado. No inventário, foram mensurados todos os indivíduos arbóreos com diâmetro a altura do peito (DAP) igual ou superior a 10 cm. Para estimar o valor da biomassa foi usada a equação alométrica proposta por pesquisadores do INPA (Higuchi e outros, 1988). A estimativa de carbono foi feita mediante a aplicação de um fator de conversão onde se considera que do valor do peso fresco de uma árvore, 60% equivalem ao peso seco, dos quais 48% referem-se ao carbono.

O resultado do inventário revelou a ocorrência de 619 indivíduos arbóreos no fragmento florestal avaliado, sendo 488 árvores e 131 palmeiras. A biomassa média de carbono das palmeiras avaliadas foi estimada em 926,291 kg.árvore-1, ou 1,852 tC.ha-1. A espécie que apresentou maior estoque de biomassa de carbono foi o urucuri (Attalea phalerata), com valor médio de 427,791 kg.árvore-1, ou 0,855 tC.ha-1. Em um estudo realizado no pantanal de Mato Grosso, onde os indivíduos de uricuri são de pequeno porte, com cerca de 3 m de altura, a biomassa média encontrada foi de 172,4 Kg. No Acre os indivíduos dessa espécie apresentaram porte elevado (+5 m) e o tronco contém numerosas bainhas foliares persistentes que dificultam, e provavelmente, favorecem a subestimação no cálculo do valor da biomassa em razão da irregularidade que elas conferem ao tronco da palmeira. Na APA Lago do Amapá, a espécie de palmeira que apresentou a menor quantidade de biomassa de carbono foi a pupunha-brava (Bactris dahlgreniana) com 55,016 kg.árvore-1, ou 0,110 tC.ha-1.

A quantidade de carbono contida nas palmeiras encontradas na APA Lago do Amapá (1,852 t.ha-¹) é baixo se considerarmos que as mesmas equivaleram a aproximadamente 21% do total de plantas avaliadas durante o inventário e que no Acre a biomassa verde acima do solo em florestas, considerando-se o DAP e” 10 cm, é estimada em 246 ± 90 t.ha-¹. A menor contribuição da pupunha-brava (Bactris dahlgreniana) era esperada tendo em vista que esta espécie é considerada rara nas florestas do entorno de Rio Branco.

Apesar das dificuldades para estimar com precisão o estoque de carbono em função da necessidade de ajustes nas fórmulas alométricas correntemente usadas, o resultado alcançado no estudo realizado na APA Lago do Amapá pode ser usado como referência para um eventual desenvolvimento de projetos no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), estabelecido no Protocolo de Kyoto, para gerar créditos de carbono que poderão ajudar na conservação e manejo da vegetação remanescente da APA.

* Evandro Ferreira é engenheiro agrônomo e pesquisador do Inpa/Parque Zoobo-tânico da Ufac;
** Rômulo Barros Fernandes e Samária Santos da Silva são estudantes do curso de Engenharia Florestal da Ufac.

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