A anemia é um problema de saúde pública de alcance global que atinge, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 293 milhões de crianças menores de 5 anos em todo o mundo e sua prevalência mundial é estimada em 47,4%. No Brasil, a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher, realizada pelo Ministério da Saúde em 2006, revelou prevalência em 20,9% das crianças brasileiras. Para a região Norte, este relatório indicou apenas 10,4% de crianças anêmicas.
Entretanto, pesquisas científicas mais recentes realizadas em várias regiões do país revelaram prevalências maiores de anemia infantil. No Acre, um estudo revelou uma alarmante prevalência de 57,3% no município de Jordão. Outro estudo realizado em Acrelândia e Assis Brasil revelou prevalências de anemia de 24,5% e 36,3%, respectivamente. Os números de Assis Brasil são 50% superiores à média nacional. É importante ressaltar que prevalências de anemia acima de 40% indicam, segundo a OMS, um problema grave em saúde pública.
Em razão da importância da anemia em contexto mundial e nacional e da carência de informações relacionadas ao problema na capital acreana, um grupo de pesquisadores do Centro de Ciências da Saúde e Desporto da Universidade Federal do Acre (Ufac), liderados pelo professor Orivaldo Florêncio de Souza, investigou a prevalência e os fatores associados à anemia em crianças menores de 5 anos residentes em Rio Branco.
Para o estudo foram avaliadas 610 crianças e o diagnóstico de anemia foi positivo quando os participantes do estudo apresentavam teor inferior a 110 g/l de hemoglobina no sangue. Para determinar os principais fatores associados com a prevalência de anemia foram coletadas informações sobre as crianças, práticas alimentares adotadas por suas famílias e informações sobre a condição socioeconômica das mães.
O resultado da pesquisa indicou que a prevalência de anemia foi de 51,8%. Na faixa etária dos 6 aos 11 meses, a prevalência foi ainda mais elevada, sendo de 65,7% e 87,8% para os sexos masculino e feminino, respectivamente. Dentre os fatores associados à anemia, os mais significativos foram idade das crianças inferior a 2 anos, mães com escolaridade inferior a 8 anos, histórico de anemia entre as mães, e frequência de consumo de carnes e frutas inferior a uma vez por semana.
A pesquisa revelou ainda a pouca efetividade e baixa cobertura (49,6%) do Programa Nacional de Suplementação de Ferro (PNSF) em Rio Branco. O PNFS é um programa criado pelo Ministério da Saúde em 2005 que consiste na suplementação profilática com xarope de sulfato ferroso para crianças entre 6 e 18 meses de idade.
A conclusão do estudo é de que a prevalência de anemia em crianças de Rio Branco é um problema grave de saúde pública. As crianças cujas mães tinham baixa escolaridade e estavam acometidas por anemia mostraram-se mais suscetíveis à mesma. Práticas alimentares inadequadas com frequência de consumo de carnes e frutas inferior a uma vez na semana favorecem significativamente a ocorrência de anemia nas crianças avaliadas.
O artigo “Anemia em crianças de Rio Branco, AC: prevalência e fatores associados” de autoria de Orivaldo Florencio de Souza, Lucas Felipe de Macedo, Cristieli Sérgio de Menezes Oliveira, Thiago Santos de Araújo, e Pascoal Torres Muniz foi publicado na revista científica Journal of Human Growth and Development volume 22, número 3, páginas 307 a 313. (Evandro Ferreira / Blog Ambiente Acreano)