Nós seres humanos somos precon-ceituosos por natureza. Intolerantes, na verdade. Todos nós somos. Uns mais outros menos. O foco dos preconceitos e discriminações é va-riadíssimo. Existem até os que discriminam quem discrimina. Até aí tudo certo. Vejo isso como limitações naturais e aprendizados que precisamos desenvolver ao longo da vida. É difícil olhar o outro e se colocar no lugar dele. É difícil aceitar diferenças, entender comportamentos alheios à nossa rotina, ao nosso entendimento. Aceitar e compreender que fulano não vai fazer determinada coisa do mesmo jeito que nós.
Tenho as minhas resistências e intolerâncias sobre o modo de ser do meu irmão, do meu semelhante, como vejo no olhar de algumas pessoas a dificuldade em aceitar o meu. O ideal seria que a gente refletisse sobre isso e tentasse resistir às armadilhas impostas, às tentações de boicotar relacionamentos que poderiam ser bem frutíferos e verdadeiros se não fosse a restrição com a cor da pele, a religião, a fé, o gosto musical, as limitações físicas, a estética, a posição social, o temperamento, etc, etc, etc. São tantas…
Não é fácil meu irmão, não é fácil… É preciso respirar fundo trilhões de vezes e tentar passar por cima das desigualdades pra sobreviver da melhor forma possível nos grupos nos quais nos inserimos. No trabalho, na faculdade, nos círculos sociais. De uma forma geral só queremos estar perto de quem pra nós é fácil o diálogo. O comportamento em relação aos preconceitos e discriminações nossos de cada dia faz escola. As crianças veem, copiam nossos gestos e agregam ao que a elas é inato. Tem crianças que simplesmente não gostam ou não entendem determinadas pessoas.
“Minha filha não aceita velhos”, me contou uma amiga. Mas ela não se acomoda ao preconceito natural da filha e orienta a menina a identificá-lo e vai trabalhando com conversas, explicações. Dia desses no supermercado uma criança vendo as maluquices da minha filha disse em tom de superioridade e deboche: “Ela parece que toma remédio controlado. Só pode”. Isso me causou uma revolta tão grande. Era uma criança discriminando outra na frente do pai, que achou engraçado o comentário e não corrigiu. Muito triste. Deu vontade de abordar e explicar que ela não usava remédio controlado e que se tomasse era pro seu bem e que aquilo era preconceito e era feio, mas não tive forças.
Há momentos em que é melhor deixar pra lá. Deixar que estas pessoas sigam seus caminhos por aí até que esbarrem em quem tenha força de explicar. Ou até que a vida se encarregue de ensinar da forma dela. Aprendi muito com a vida. Ela nem sempre é generosa com suas lições. O problema é que nossos erros reverberam nas nossas descendências que vão levando adiante equívocos que poderiam ser sanados precocemente. Estar atento a isso é um jeito saudável de evitar que os preconceitos e discriminações se propaguem. Não é preciso aceitar, gostar. Mas é possível tentar entender. É possível não odiar, não segregar. É possível respeitar. É difícil (ô se é), mas é possível.
* Golby Pullig é jornalista
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