A Ana Júlia, minha filha, surpreendeu a mãe dela, minha esposa Cláudia, quando jogou as mãos para cima após ouvir um claro “put your hands up” de um grupo de dançarinos no Disney Channel, semana passada. Para ela, foi empolgante ver a filha de 4 anos entender alguma coisa em inglês de uma forma intuitiva, numa idade tão precoce.
O entusiasmo da Cláudia já havia acontecido outra vez quando curiosa, me ligou pra saber do que se tratava a frase: “My shoes, mamãe, pega pra mim!”. Na ocasião, Júlia apontava para cama e insistia para que a mãe olhasse para debaixo dela.
O aprendizado de um novo idioma por uma garotinha de apenas 4 anos se dá de forma natural, não tem uma didática própria, mas aproveita situações do cotidiano e nos leva a uma reflexão sobre o quanto poderíamos ganhar, ampliando nossa leitura de mundo, se tivéssemos no Brasil um sistema eficiente de ensino público da língua inglesa.
É que há muito tempo, o idioma da Rainha Elizabeth, do Barack Obama e do John Travolta deixou de ser só uma forma de status associada a uma minoria elitista que visitava a Disneylândia nas férias escolares. Ele já é quase uma necessidade para muitos e será um dia para nós acrea-nos, queira Deus, em oportunidades que brotarão com o desenvolvimento regio-nal, seja pelas Zonas de Processamentos de Exportação, por exemplo, seja por outros caminhos.
Há séculos que o alargamento de fronteiras pulsa. Etima-se que hoje 60% do que são publicados em jornais, revistas, panfletos, manuais eletroeletrônicos – e o que você mais pensar – estão em inglês. O acesso a livros especializados e a publicações técnicas é muito maior quando se consegue ler em inglês.
Então, não se trata de veneração aos yankees ou que o idioma seja “top” ou que seja “fashion”, ou seja lá qual adjetivo usemos, há sempre caminhos a se descobrir para aqueles que o encaram com seriedade.
A expansão econômica do Brasil, que já o insere como nova potência, vai exigir que nossos jovens tenham esse discernimento. A começar de agora, às vésperas da Copa do Mundo de 2014 – e dos jogos olímpicos de 2016 -, quando o mundo se volta muito mais para nós.
Em outubro de 2012, o Indicador de Proficiência em Inglês da Education First (EF) colocou o Brasil na 46ª posição em qualidade do inglês falado, num ranking de 54 países que a instituição considera mais importantes do ponto de vista econômico. Em relação a 2011, caímos 15 colocações, após a entrada na lista de outros 10 países com melhor qualidade do idioma.
Na China, crianças como a minha outra filha, Ana Clara, de 8 anos, estão em níveis muito alto de proficiência, o equivalente, em tese, a quem cursa o 3º e último ano do nível médio no Brasil.
Aqui na América Latina, a Argentina não nos atropela dentro de um campo de futebol, mas nos já ultrapassou no domínio, obtendo o 20º lugar no EF, seguidos de Uruguai e do Peru. Tratemos então de nos apressar. O tempo é agora ou então estagnaremos.
* Resley Saab é jornalista.
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