Para falar deste personagem ilustre da nossa literatura não necessita de gancho. Graciliano Ramos é absoluto quando se fala em simplicidade da linguagem. Não se confunde simplicidade na linguagem com pobreza de linguagem. Acredito que como um de nós, militante da imprensa brasileira, o aperfeiçoou ao trabalho diário e manuseio com as palavras.
Tem uma frase dita pelo bom alagoano, de Quebrangulo, que sempre que a leio fico emocionado e sinto nela a responsabilidade de todos os dias poder escrever melhor. O pensamento diz o seguinte: “Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer (…)” e conclui dizendo: “pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer”. Entendo que o foco de Graciliano era retratar os fatos através das palavras de modo que todos compreendessem.
Acredito que é salutar reviver a memória desse imortal escritor, pela beleza de sua obra. O romance Vidas Secas, publicado em 1938, traz uma abordagem bem peculiar da vida sertaneja, dos momentos de sofrimentos enfrentados por aqueles retirantes. O que acredito ser mais interessante é o conhecimento pleno de Graciliano Ramos com os elementos utilizados nessa obra. A condição de sertanejo, no primeiro momento, e de menino de cidadezinha do interior os proporcionaram uma identidade e uma memória singular dos demais autores.
No capítulo Fabiano, o autor descreve o personagem com total sintonia e fidelidade do homem nordestino que arduamente luta para vencer não só a seca, mas também os problemas com o grande latifúndio.
O romance de Graciliano além da riqueza de detalhes nos remete a diversas reflexões sobre o tema: nordeste. Não era só uma família de retirantes, mas, a representação de um povo que atravessando gerações e gerações sonha com dias melhores.
Recentemente, recebi uma ligação de parentes nordestinos da região do Rio Grande do Norte, Pau dos Ferros, mais precisamente, terra de minha mãe, e as informações são de que a região está como a descrita por Vidas Secas. Acredito que os governos precisam olhar com mais carinho para o semiárido brasileiro. Não só os governos, mas a sociedade em geral.
Porém, já finalizando, quero dizer que não explorei nem o mínimo dessa obra maravilhosa de Graciliano Ramos que é Vidas Secas, que além de nos levar a reflexão, nos faz viajar na paisagem árida do nordeste brasileiro e nos ajudar a ter mais solidariedade com o povo nordestino que tanto luta e sonha com dias melhores.
Graciliano Ramos continua inspirando jovens a militarem na imprensa. Um autor que mesmo preso e acusado de comunismo, considerado crime na época, continuou sua paixão pelas letras. Acredito que esse nobre escritor merece o respeito do povo brasileiro. Um gigante da literatura brasileira e porque não dizer mundial. O romance mencionado aqui foi traduzido para 13 idiomas.