A visita da filóloga e jornalista cubana Yoani Sánchez ao Brasil, nesta semana, sob protestos de manifestantes pró-Cuba e ao mesmo tempo com honrarias de chefe de estados, nos mostra duas faces de um mesmo Brasil. Integrantes do Movimento Paulista de Solidariedade a Cuba criticaram Yoani, ao afirmarem que a blogueira não ‘representava a massa da população cubana’.
Curiosamente, no ano passado, mais de 40 mil cubanos deixaram a ilha fugindo do regime castrista.
Na noite desta última sexta-feira, assisti a uma entrevista dela no Globo News, e ao que me pareceu, demonstrou a fragilidade e semelhança de Gal Costa. Não me veio a cabeça vê-la como uma agente da CIA, como tinha sido rotulada, mas de uma mulher firme nas suas convicções e sóbria em ideias.
“Por que boicotar livros?”, reagiu ela, diante da pergunta do repórter sobre o que pensou dos protestos. Lançaria um livro sobre suas memórias aqui no Brasil, não fosse novas investidas de manifestantes contra a cerimônia. Para Sánchez, pensar diferente do seu governo não é um delito.
Particularmente, notei que o anticastrismo enraizado nela tem uma razão de existir. Cuba não é de um governo, não pode ser de mão única, mas de uma sociedade plural, que mereceria uma diversidade política, assim como devem ser também outras nações que teimam em continuar totalitárias.
Quiçá, Cuba tivesse o mesmo grau de democracia que vivemos. É inaceitável para o Brasil, que se projeta líder absoluto da região, admitir regimes ditatoriais como o da Venezuela, e que já parece estar em ruínas.
Com Cuba, vi na TV o próprio Raul Castro dizer ontem: “Tenho 82 anos e desejo me aposentar”. Talvez canse ser rei pela vida toda. Não à toa, a família Kirchner na Argentina vem adicionando histórias forjadas propositalmente para ficar na história numa espécie de novo peronismo.
Na Venezuela, o general Hugo Chavez, que está quase morrendo, teima em manter-se vivo ideologicamente. Assim como Fidel fez com Raul, ele tenta desesperadamente empurrar Nicolás Maduro, vice-presidente em exercício como seu sucessor. Nomeou mais da metade do Judiciário e burla de toda a maneira a Constituição Venezuelana, para se manter no poder.
Pela lei, o vice-presidente pode substituir o presidente. Mas o mandato de Maduro expirou com o de Chávez. Maduro não foi eleito por votação popular, foi indicado pelo presidente.
Como diz a juíza Blanca Rosa Mármol de León, última magistrada independente na Venezuela: trocar Chavez por Maduro é o mesmo que “optar por morrer enforcado ou queimado”. Só muda o tipo de morte.
E aqui no Acre, que leitura podemos fazer disso tudo? Talvez por sermos um dos povos mais politizados do país, reflitamos sobre como somos governados, sem deixar jamais que o totalitarismo nos domine, sobretudo, forjado em discursos progressistas.
* Resley Saab é jornalista.
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