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Cotas, um assunto polêmico

Finalmente ontem foi divulgada a tão esperada primeira chamada com a relação dos aprovados no processo seletivo  do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Esta é a primeira edição do Sisu a incorporar o sistema de cotas so-ciais e raciais estabelecido por lei san-cionada em agosto de 2012 pela presidente Dilma Rousseff. De acordo com a lei, metade das vagas oferecidas serão de ampla concorrência, já a outra metade será reservada por critério de cor, rede de ensino e renda fami-liar. Das 2.010 vagas para o ingresso na Universidade Federal do Acre (Ufac), 25% das vagas (cerca de 500), são destinadas a cotistas.

Em uma conversa, foi levantada uma questão polêmica: as cotas deveriam existir? Uma das pessoas argumentou sobre o assunto. “Quem estuda entra sim em uma universidade, não importa se tem concorrentes de fora ou não, pobre ou rico, negro ou branco. Depende do esforço de cada um. Se as pessoas não tem competência, é porque algo está errado no ensino da rede pública. E se acontece, é preciso melhorá-lo”. Um exemplo é o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, que veio de uma origem humilde e chegou ao posto atual sem a ajuda de cotas sociais ou raciais. Porém, justamente por ter vivenciado as dificuldades de ser pobre e negro no Brasil, o ministro declara-se a favor das cotas.

Ao escutar isso, lembrei-me de uma entrevista que fiz no mês de outubro de 2012 com Josenir Calixto, diretor de ensino da Secretaria Estadual de Educação. Citei o exemplo dos negros, que há tempos lutam contra o preconceito e a desigualdade. Perguntei se as cotas não seriam mais uma forma de aumentar essas problemáticas. A resposta de Josenir foi totalmente diferente da acima. “As pes-soas não estão no mesmo ponto de partida, elas não estão em igualdades de condições. O maior número de analfabetos e crianças fora da escola são negros e há uma série de fatores sociais que acabam favorecendo a exclusão dessas pessoas. É necessário prover condições para aqueles mais desfavore-cidos. Se todos forem tratados de forma igual, você estará dando vantagem para quem já tem um ponto de partida maior. Se estamos querendo uma socie-dade que consiga ser mais inclusiva, vamos ter que favorecer que aquelas pessoas que tenham menos consigam ter condições para fazer a compensação dessa situação. O ideal era que tivessemos uma sociedade com o menor número de desigualdade, quanto menos tivesse, não teriamos a necessidade de cotas”.

Será mesmo que as cotas irão corrigir injustiças históricas provocadas pela escravidão na sociedade brasileira, onde negros e índios tem menos oportunidades de acesso à educação superior e, consequentemente, ao mercado de trabalho? O preconceito e a desigualdade social finalmente vão diminuir ou até mesmo acabar? Eis a questão. O sistema de cotas é certamente o assunto mais polêmico quando se trata do ingresso ao ensino superior no Brasil. E ainda vai render muito.

* Evely Dias é jornalista.
E-mail: evelydias@gmail.com

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