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Fronteiras da Alagação

Nosso rio traz marcas profundas que vem da conquista da terra: a explosão sentimental e o apego a tudo, permanece vivo entre nós.

E quando alaga arrasta um fio d’água que esculpe na margem a face da lama que faz e desfaz como um rastro vago de um manso remanso no seio do  território acreano.

Era inverno pesado  nuvens fechadas chuva  temerária argila afogada  aceiro sem face preso na teia à beira.

Então, porque não acreditar que era água  nascente presente que me vem como melodia no travesseiro do nosso  futuro.

Não é ele que escreve a história da  civilização dos acreanos?

Tal qual a natureza dos passos de uma valsa escorregando argila, terra origem de todos que tentam desvendar os mistérios do rio ou quem  sabe, queira nos ensinar que não devemos parar.

Sentir naalça da últimafronteira que vidasfluíram,deslizando beiras,emcanoasabertas parao destinoonde tudo é poesia e o rio se faz vida, nela a hóstia e água não se separam,bem como as retas e voltas harmonizam os meandros em vale.

Troncos, galhos alhadas, canaranas, cipóse enviras, todos     viram: eraum balseiro que trazia uma canoaa esmosem proa. De boa!!

Vagando sobre as águasao sabor do banzeiro. Mas sem sedesgarrar do balseiro tal qual um bêbado,que caminha com pernas transando do meio para a beira, da beira para o meiosem prumo, sem rumono ritmo da chuva.

Envolvido, em águas aquecidas o balseiro, pareciaesquecido flutuando,revelando histórias como se escrevesse livros ou quem sabe, querer decifrar os mistérios da natureza que parece sorrir desejando recompensar o sofrimento do  povo.

Com o sentir de uma chuva na alma,a natureza faz desaparecer a monotonia da estiagem num toque mágico.

Mas o homem, na ânsiada  aventura, fortalecido pelo ânimo do enriquecimento fácil, penetra até dominar , com sorrisos, a exuberante paisagem aquática do Rio Acre.

Meu rio, quantas vidas indistintas tal qual um balseirosubmergirampor disputa territorial, naufrágios e afogamentos tendo por sepultura suas margensque são carinhosamente beijadas por suas águas. Teu gesto é amável, é universal.

Soberano rio, acende e Ilumina tua chama é sublime, se poucos te entendem peça pra ligar turbinas,só assim, vêem que tua água segue, acende e ilumina.

Esse é teu destino mesmo pinçado por hélices de pequenos motores,resiste a dor nadando braçadas emmeandros de vidas que passou, sem proa e sem demonstrar dor.

Rindo, tal qual um ator,um tirano,um almiranteque anseia chegar ao mar agarrado a taboca e o balseiroque juntana beira.

O que faço com o fenôme no do remanso? Quando traga a terra, arranca árvores e troncos seculares! Feito que vem do seu álveo numa demonstração de força e virilidade. Num rio não há lógica. Nem os ponteiros do relógio do tempo harmoniza o rebojo de seus mistérios.

Molhada pela corrente líquida mais extensa da região, as margens do rio Acre desenham o maior labirinto potamográfico que possa existirno olhar do poeta.
Se acompanhado de  um balseiro, a obra humana se torna minúscula. A alagação da natureza é a comunhão, renovação e a divina inspiração que se manifesta nacalha de um rio que espera acolhida e atenção.

Eu, e meu pranto em prantos,enlaçados a tua espera, por um fio na cela da mente, vivemos eternamente absorvidos em lágrimas que já não as tenho.

Até o meandro que me deixastes  em dizer que um dia ia voltar, antes de chegar ao mar, guardo no consciente  como troféu ao pé do altar. Lá somente a luz solar e o luar podem tocar para contigo comemorar na cheia que virá.

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