CLAUDEMIR MESQUITA*
Meu rio de água é sonho é um pé d’água nascente é chama que atiça a gente é um instante no tempo é o tempo num instante. Não finge
não tinge o tempo
não desculpa a culpa
dos culpados nem
finca raiz que se reparte.
Nem vai enxugar mágoas amargas que rumam para as águas de um rio barrento flutuando enchente inevitável.
Embora sinta cheiro
de sangue envelhecido
na argila da beira.
ainda escorre margens por orvalho na ausência
das palavras do
homem em memória.
Outrora de escadaria
margarida amarelada
revelando degraus
sem fixação possível
espelha-se na metáfora
que não escreveu.
Não inventa caminhos para os rios
viaja sem palavras
não comenta das pedras cravadas que não rola. Eu, ainda tropeço na paisagem cicatrizada que navega na proa da canoa tempo deslizando banzeiro, balseiro.
A direção da lembrança
está na margem
de um redemoinho
em travessia feminina
presa ao peso da noite
entre feixes de bambu
que não recua a navegação.
Você que navega
no ritmo das remadas
do acaso feito relógio
do coração bate margens ressecadas
sentida pela dor da vida que passa e ultrapassa o lamento. Há outros rios
não que vêem de mim,
mas antes de ouvi-los, respiro fundo, encho o pote e molho a garganta. Eu,eu nada sei desse estranho. que vive com as margens rasgadas pela a canoa da chuva.
Medito sobre ele e fico pasmo. Chega! Não chega abro portas mas ele não vem. O que o outro quer? Será que pensa eu
ser o poema de hoje?
As alagações
nos veem de forma
sutil, quase imperceptível, mas também se vão como se fosse barcos em remadas cansadas
acenando para margens da esquina do céu.
O inútil, no Rio Acre,
apenas merece ser
excluído das margens
és um rio que não arrasta grande nome, mas honra o que lhe pertence porque em algum ponto tem uma beira de onde posso ver tua cheia fascinante fazer o maior show da natureza. Não podemos esquecer que este rio com maior bravura tornou-se acreano quando lavou com heroísmo as margens ensanguentadas
entre correntes e sentimentos, entre molduras e imagens
para escrever sua epopéia. Que fique claro
você não será um rio
de afluentes falhados
onde seus nomes são vistos apenas nos granitos da indiferença dos homens.
Pensamento
a minha epopéia.
Um dia fica reflexivo,
quieto, quando o sol ilumina
as lágrimas de um rio.
* Claudemir Mesquita é professor, escritor, Membro da Associação Amigos do Rio Acre.
[email protected]
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