Livro da jornalista e pesquisadora Giselle Lucena realiza um feito inédito no Acre: a utilização da web como mídia para viabilizar projetos culturais. Quando chegar às mãos dos leitores, no dia 27 de abril, “Do Chico ao Pop” terá percorrido um itinerário que transitou do apoio do poder público à “vaquinha virtual”. Mesmo timidamente, o projeto da pesquisadora concretiza no Acre uma nova forma de circulação de dinheiro com propósito comum e ajuda a consolidar a ideia de uma sociedade que se relaciona em rede
ITAAN ARRUDA
O livro da jornalista e pesquisadora Giselle Lucena chega às lojas do Acre como um projeto coletivo. Para custear as despesas não contempladas integralmente no apoio dado pela Lei de Incentivo à Cultura, ela apelou para uma novidade: o “crowdfunding”.
A tradução literal carrega uma armadilha. Crowdfunding é resultado da fusão de duas palavras crowd (público)+ funding (financiamento). Alguém mais apressado poderia imaginar que se trata de financiamento de algum projeto feito por governos, federal, estadual ou municipal.
De fato, o financiamento é público porque envolve muitas pessoas, espalhadas por todo mundo e que utilizam a web para se comunicar. A tradução mais adequada seria financiamento feito por multidão.
Em contato com um pedido de financiamento exposto em uma plataforma disponível na rede, o internauta avalia com qual melhor se identifica e realiza depósitos na quantia que desejar. No caso do projeto do livro sobre Chico Pop, os valores dos depósitos estão entre R$ 18 e R$ 82.
Pode ser um projeto de um livro; a gravação e divulgação de um disco; a manutenção de uma área de reflorestamento; um projeto de engenharia de uma aeronave elétrica para fazer monitoramento ambiental. Não interessa. O projeto pode ser defendido e financiado por mais gente do que se pensa.
“Há uma corrente de teóricos da sociologia que entendem que há muita gente em todo mundo que tem dentro de si uma força positiva, benévola e que tem muita dificuldade de canalizar isso”, explica a pesquisadora Giselle Lucena. “O crowdfunding é essa ferramenta”.
Lucena quer acumular ao menos R$ 6 mil para o lançamento do livro previsto para acontecer no dia 27 de abril na Tentamen. Os depósitos podem ser feitos até o dia 4 de abril (veja como fazer o depósito no quadro). Até agora, já foram depositados R$ 2,3 mil.
“Neste projeto, foram destinados 30% dos exemplares do livro para arrecadação de uma verba para o sarau de lançamento, beneficiando a divulgação e distribuição, além de divulgar, na cidade, uma nova forma de financiamento de projetos culturais”, afirma Lucena.
Vaquinha virtual_ “Algumas pessoas ainda desconfiam da ferramenta e fizeram o apoio de maneira analógica mesmo”, diz a pesquisadora em tom de brincadeira. “Contribuíram diretamente como se fazia antigamente nas ‘vaquinhas’. Eu aceito e agradeço da mesma forma”.
Criador da plataforma Mobilize garante segurança em depósitos
A apresentação de projetos em plataformas crowdfunding obedece a alguns critérios. É relativamente difícil enganar o internauta. “A cultura de trabalho em rede está mais próxima de nós do que imaginamos”, avalia o criador da plataforma Mobilize, André Pereira Vieira Gabriel.
A plataforma Mobilize é uma ferramenta criada na internet vinculada ao Facebook. É nela que está o projeto Do Chico ao Pop. A plataforma Mobilize é uma estrutura onde são feitos os cadastros dos projetos, com explicações sobre perfil do idealizador, natureza do projeto, número de conta.
“Antes de fazer qualquer transferência ou pagamento é preciso se informar melhor, pesquisar”, orienta. E como se precaver contra os malandros, pessoas mal intencionadas? “Eu ajudo aqueles com os quais eu me identifico e isso facilita as coisas porque procuro temas e assuntos que já conheço, ou pessoas que já conheço, ou conheço o amigo do amigo e isso diminui as probabilidades de haver problemas”.
A conta do projeto está ligada a uma conta no Facebook. “Se eu pudesse resumir ideias mais gerais que caracterizem o crowdfunding eu citaria colaboração, liberdade e democracia”, afirma o criador do Mobilize, André Gabriel.
Além da Mobilize, há outras plataformas já bastante conhecidas no Brasil como o Idea.me ou o Catarse.me.
Chico Pop, por Giselle Lucena
Quem foi Chico Pop? Um jornalista cultural que inseriu na imprensa acreana os agitos psicodélicos do woodstock, as guitarras elétricas do iêiêiê, a ousadia do underground, sem esquecer os embalos dos seringais, as singularidades indígenas, a programação dos cineclubes e festivais de praia. O Acre vivia um movimento total de reafirmação de sua identidade. O descaso político era evidente.
As cidades eram sufocadas pelas invasões e queimadas na floresta. Enquanto isso, Chico Pop sinalizava saídas no cinema, na música, no teatro. Inventou no Acre o movimento pop. Seu jornalismo ultrapassou fronteiras, épocas e linguagens, nos conectando a outros universos ao mesmo tempo em que nos ajudava a olhar à nossa volta. Produzia efeitos num mix de escracho, ironia e generosidade, sempre com a mente livre e o coração aberto. Em seus trabalhos, estão registros rotineiros que ajudam a configurar uma história cultural de Rio Branco, durante as décadas de 1970 e 1980.
Quem quiser fazer depósitos para colaborar com a divulgação do livro Do Chico ao Pop, basta acessar o www.mobilizefb.com/dochicoaopop. Lá estão expostas as informações sobre o projeto da maneira mais transparente possível. Quanto já se arrecadou, quantas pessoas colaboraram e as formas de pagamento. Os depósitos podem ser feitos por cartão de crédito ou boleto bancário. No limite, se a desconfiança for grande demais, é só passar na Fundação Garibaldi Brasil e falar direto com a Giselle Lucena. Mais detalhes: gisellelucena@gmail.com” data-mce-href=”mailto:gisellelucena@gmail.com“>gisellelucena@gmail.com; dochicoaopop@gmail.com.” data-mce-href=”mailto:dochicoaopop@gmail.com.“>dochicoaopop@gmail.com. |
A partir desta edição, o suplemento Acre Economia inicia uma nova secção de informação. Intitulada Referências, a coluna aborda a História do Pensamento Econômico com a pretensão de uma linguagem mais acessível, menos acadêmica.
O objetivo é apresentar ao leitor a formação e construção das relações econômicas ao longo da história: um esforço para tentar entender os problemas contemporâneos e mostrar como as relações da Cultura, da História e da Política responderam às questões econômicas ao longo dos últimos 500 anos.
E aqui se finda uma última explicação mais chata e enfadonha para poder dar coerência à metodologia: as relações econômicas são, antes de tudo, relações culturais. Portanto, acompanham o homem desde sempre. Mas, para o propósito do que se pretende na coluna, é necessário um recorte histórico para facilitar a explicação e o entendimento.
É a partir de uma escola denominada Mercantilismo que o acúmulo de informações e conceitos sistematizados sobre Economia são mais concretos e acessíveis. E isso ocorreu, em plena Idade Média, a partir do fim do século XV, na Europa.
… Era no tempo dos reis…
Na Política
Prevalecia uma forma de atuação política que se chamou Absolutismo. O poder absoluto e centralizado nas mãos dos reis. Quanto mais forte o rei, mais forte o governo.
O símbolo máximo dessa forma de operação política encarnou na figura de Luís XIV, da França, conhecido pela alcunha de Rei Sol.
Na Economia
Com quase 275 anos de hegemonia, o Mercantilismo traz um problema para os teóricos da História do Pensamento Econômico. Muitos não o consideram como uma “escola”, mas como doutrina: um conjunto de normas que se adequam às diversas conveniências regionais, porém com bases comuns.
Que “bases” são essas? 1) Governo forte e centralizado (na figura do rei); 2) protecionismo econômico (que ajuda a consolidar o conceito de nação); 3) altas taxas alfandegárias (para proteger a economia interna); 4) balança comercial favorável (o país tinha que exportar mais do que importar); 5) Colonialismo: toda prioridade à Metrópole! As Colônias tinham que manter relação de exclusividade de abastecimento de matérias-primas. Qualquer iniciativa de empreendimento local ou era sufocada ou teria que ter autorização régia. Importante ressaltar que uma busca incessante por parte dos governos régios era o ouro e a prata; 6) Metalismo (para os governos, a riqueza estava associada ao acúmulo de ouro e prata).
Contribuição
Uma das maiores contribuições da doutrina do Mercantilismo para a economia até nos dias atuais é o da balança comercial favorável (superavitária).
Principais teóricos
Thomas Mun (1571/1641); Gerard Malynes (1641); Charles Davenant (1656/1714); Jean Batiste Colbert (1619/1683); Sir William Petty (1623/1687)
*Em função de ser a abertura, a seção desta semana ficou mais extensa. As demais, certamente, serão bem mais sucintas. Na próxima edição, falaremos sobre a Escola Fisiocrata.
ZPE: Acre paga o preço pela eficácia
ITAAN ARRUDA
Essa semana não foi amistosa para o projeto de lei que muda as regras de funcionamento das Zonas de Processamento de Exportação no país. São Paulo, Amazonas e Rio de Janeiro se uniram e entraram com um recurso para alterar a decisão final. Na prática, travaram o trâmite do processo.
Em reportagem publicada na edição de 16 de dezembro do ano passado (“ZPE pode diminuir ‘custo Acre’”), o suplemento Acre Economia já alertava para a dificuldade que o tema teria para ser apreendido na Câmara dos Deputados.
No Senado, a articulação política de quem apoia as mudanças na lei tem demonstrado eficiência. Só para lembrar: já tramitou na Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo e teve parecer favorável à mudança. Depois, seguiu para a poderosa Comissão de Assuntos Econômicos.
Na CAE, a equipe do senador Jorge Viana (PT/AC) elaborou mudanças no texto proposto pela Senadora Lídice da Mata (PSB/BA). O então Projeto de Lei Substitutivo (com relatoria do senador acreano) é aprovado em caráter terminativo. Isso significa que não iria mais tramitar em nenhuma comissão na Câmara. É como se o Senado avisasse aos deputados: “Essa matéria, caríssimos, tem necessidade de ser apreciada logo!”. Em bom acreanês: “Avia!”
Mas, a Câmara dos Deputados nunca deixa de surpreender. Paulistas, Amazonenses e Fluminenses se uniram e entraram com o recurso que vai exigir, agora, novos prazos para emendas (novas ideias de mudança no texto) que devem ser novamente apreciadas pelo Senado. Traduzindo: mais tempo. E isso exige outra reflexão.
As mudanças na legislação das ZPE’s não é algo que beneficia somente o Acre como fez sugerir, até reportagem da Agência Senado. As mudanças beneficiam o país; descentralizam investimentos, forçam maior equilíbrio regional.
A presidente Dilma Rousseff está em um ano politicamente estratégico: necessita apresentar resultados práticos, efetivos, sobretudo no setor produtivo. E isso ela não encontra apenas com mimos à Fiesp, Fierj e Fieam. Nordeste e Centro-Oeste, só para lembrar, são regiões que também serão beneficiadas com as mudanças na legislação das ZPE’s.
O recurso vitorioso do lobby tríplice demonstra que a matéria não foi prioridade tratada pelo Planalto, aponta também uma liderança de Governo questionável na Câmara e uma bancada federal acreana muda sobre o assunto. A única que mostrou preocupação (e anunciou isso) foi a deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB/AC) que, não se sabe como, saiu viva de uma reunião com industriários na Fiesp que tratava do tema, ano passado.
Acre prejudicado_ Nesse cenário, a conduta da Câmara acabou punindo o estado que demonstrou mais eficácia na continuidade de uma ação pública. Ainda na gestão do então governador Jorge Viana, pensou-se em implantar um Porto Seco no Acre.
A ideia evoluiu e na gestão do ex-governador Binho Marques tomou a forma de uma ZPE, com articulação política do então senador Tião Viana: esforço de três governadores. Mas, o fato é que a ZPE do Acre é real. Está pronta e alfandegada pela Receita Federal.
Seria pedagógico, portanto, o próprio Governo Federal demonstrar em um gesto que as ações públicas só têm resultados práticos quando fazem o que tem que se fazer; quando são eficazes.
E, no projeto da ZPE, o Acre foi eficaz porque houve prioridade de governo durante três gestões. O pecado capital dos acreanos foi acreditar demasiadamente no Congresso Nacional. Traduzindo: o Governo do Acre elaborou o projeto sem ter uma legislação adequada. Com uma lei que ainda precisa de ajustes para atrair investimentos, agora a ZPE está vulnerável aos humores de uma gente que teima em não pensar estrategicamente o país.
O espírito das bancadas
O voto praticamente consensuado entre parlamentares paulistas e amazonenses é o que mais surpreende. Os dois estados suspenderam as arengas que têm em relação à Zona Franca de Manaus.
São Paulo entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal pedindo a suspensão dos benefícios fiscais aos manauaras. A Adin obriga que os benefícios fiscais do Amazonas sejam aprovados primeiro no Conselho Nacional de Política Fazendária.
O STF acatou o pedido da Fieam como “parte interessada” na Adin provocada por São Paulo. A ministra Rosa Weber deu ganho de causa aos amazonenses. No site da Fieam, o presidente da entidade, Antônio Silva, se pronunciou formalmente.
“Como entidade representativa da indústria do Amazonas, vamos contribuir para a defesa da manutenção das garantias constitucionais para assegurar um ambiente jurídico que mantenha as vantagens comparativas do Polo Industrial de Manaus”, afirmou.
A arenga entre os dois estados vinha desde setembro do ano passado. Tudo foi esquecido só por causa do Acre com o argumento beirando o cinismo de que o Governo Federal já dispõe de mecanismo de fomento à exportação.
O fato sugere uma especulação: por que a ZPE do Acre exigiu esforço tão concentrado? Que peso tem a Estrada do Pacífico/Ásia nas articulações políticas de São Paulo, Rio de Janeiro e Amazonas que travam as mudanças na legislação das ZPE’s?
NOTAS ECONÔMICAS |
Agora, sim
Instituto de Pesquisas Empresariais do Acre (Ifepac), vinculado a Fecomercio, divulgou estudo sobre o setor na semana que passou. Há tempos não se tinha registro de algo que estivesse em sintonia com o comércio real. A amostra é representativa: ouviu 218 empresários, no período de 7 a 11 de janeiro.
Agora, sim II
O texto distribuído às redações não é claro. Confuso, até. Mas, embutido pelo meio de várias percentagens, desnudam-se algumas, quase gritando. A primeira, citando o texto: “Apenas 9% consideram 2012 um ano de condições excelentes para os seus negócios e 12% como ruim”.
Agora, sim III
No comparativo entre 2012 e 2011 (ainda citando o texto): “para 66% dos empresários, o ano de 2012 foi ruim para os negócios”. Agora, sim, a Fecomercio se aproxima do que acontece por traz dos milhares de balcões acreanos.
Obviedade
A pesquisa apenas registra uma obviedade para quem conversa com empresários e microempresários todos os dias: não há dinheiro circulando e o comércio é o melhor termômetro disso.
Atenção, Roberval!
Esperar para ver: ou o estudo vai ser “sem amor pelo Acre”, ou a metodologia será contestada. Os trabalhos no Instituto de Pesquisas Empresariais do Acre são coordenados pelo economista da federação, Roberval Ramirez. Atenção, Roberval!
“Reclamão”
Sim! É verdade! Empresário é bicho reclamão. Faz parte da natureza dele. Mas, a pesquisa retrata uma situação pontual. Não se pode brigar com números. Eles servem justamente para que o empresariado trace estratégias de trabalho com cenário real.
Otimismo
O otimismo a qualquer preço não ajuda ninguém. Todos querem um comércio forte, mas nem sempre isso ocorre em todos os momentos. Desejar que se divulgue apenas “notícias boas” só não engana a duas espécies de gente: o leitor de jornal e o povo (que não são necessariamente a mesma pessoa. Aliás, quase sempre não são).
Quem é quem
O leitor de jornal porque é bichinho tinhoso de perspicaz: geralmente, consegue ler entre uma linha e outra. E o povo porque sente na prática o que o otimismo a qualquer custo tenta omitir.
Luz
A pesquisa também traz um alento: “82% dos empresários do varejo apostam no crescimento das vendas neste primeiro semestre de 2013”. Estão otimistas porque acreditam na retomada do crescimento do país, associada à redução na tarifa de energia elétrica. Na torcida.
Enxugamento
Ao menos na retórica, o Governo do Acre parece, de fato, disposto a reduzir gastos públicos. Vai rever gratificações a funcionários efetivos e fazê-los voltar à antiga função com a remuneração equivalente.
Acerto
O acerto do gesto não pode deixar de ser reconhecido. Para que o cidadão tenha noção da economia que isso representa para os cofres públicos, no entanto, o ideal seria apresentar como está a situação hoje e como ficará com a execução da medida.
ZPE
O suplemento Acre Economia já havia alertado sobre “a briga” que seria aprovar no parlamento as mudanças na lei das Zonas de Processamento de Exportação. O recurso formalizado por Amazonas, São Paulo e Rio de Janeiro com o objetivo de travar a votação da alteração no texto da legislação das ZPE’s comprovou.
ZPE II
Os lobbys paulista, amazonense e fluminense não são pouca coisa. A situação expõe uma lástima: a de que o Congresso, de fato, é um balcão de interesses dispersos. Não se pensa o país! A mudança na legislação não beneficia só o Acre.
Outra coisa
E outra coisa: demonstrou que a matéria não estava na agenda de prioridade do Planalto. O Acre não pode ser penalizado por dar coerência e continuidade às ações de governo. A ZPE acreana é um dos raros exemplos disso e não pode ser penalizada pela eficiência.
Palpite
O palpite é enxerido: há dois fatos no universo da economia global que podem indicar uma retomada da normalidade. A fusão da American Airlines com a US Airways (embora já programada) e a compra da famosa marca de alimentos Heinz pelas brasileiras Burger King e Ambev são negociações tão vultosas que só em um ambiente com perspectiva de crescimento e normalidade podem ser executados. Na torcida para que tudo dê certo.