Um dos principais projetos de infraestrutura do governo, as hidrelétricas do rio Madeira podem ter de deixar turbinas desligadas por falta de linhas para transmitir energia.
As usinas de Santo Antônio e Jirau enviarão energia às regiões Sudeste e Sul por duas linhas de transmissão de 2.400 km cada uma, orçadas em R$ 8 bilhões e com a construção atrasada.
A primeira linha deveria estar pronta desde fevereiro do ano passado. A previsão oficial é que entre em funcionamento em abril próximo, mas, nos bastidores, o governo admite novo adiamento.
Com novas turbinas entrando em operação mensalmente, técnicos do setor calculam que, até abril, se o chamado linhão não for inaugurado, não haverá como escoar a energia produzida.
Atualmente, dez máquinas estão ligadas na usina de Santo Antônio, gerando energia suficiente para abastecer 3 milhões de residências.
Essa energia vem sendo transmitida, pela rede local, para Acre e Rondônia e uma pequena parte vai para o Sudeste por meio de uma linha de transmissão que já existia, de menor capacidade.
A “gambiarra” encontrada para suprir a falta do linhão, tem capacidade para conduzir a carga de 14 turbinas.
Até abril, ao menos outras cinco máquinas –três em Santo Antônio e duas em Jirau– vão entrar em operação, ultrapassando a capacidade do atual sistema.
A previsão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) é que a primeira linha entre em operação no prazo-limite, 30 de abril. Segundo a Folha apurou, porém, integrantes do próprio governo não contam com isso.
No mais recente relatório de fiscalização da agência, várias etapas do cronograma estão atrasadas, como a construção de fundações e a ligação de cabos e condutores.
Além disso, após a conclusão das obras, o Ibama tem 45 dias para conceder a licença de operação, necessária para o início das transmissões. O relatório da Aneel considera que a licença será expedida em um dia.
“A usina cumpriu o calendário dela e agora não pode transmitir energia por falta de planejamento do governo, que faz com que as linhas estejam todas atrasadas”, diz Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura.
Apesar de o relatório da Aneel indicar dificuldades nas obras, a agência afirma que o principal motivo dos atrasos está na morosidade do licenciamento ambiental. Até agora, nenhuma empresa foi multada, mas a Aneel notificou as construtoras responsáveis e analisa se tiveram culpa na demora.
O governo admite que, se as empresas de transmissão não forem responsabilizadas, terão de ser ressarcidas pelo tempo que ficaram sem atuar, a exemplo das usinas, se ficarem paradas por esse motivo. Isso significa que a conta poderá ser repassada para os consumidores brasileiros.
Para Cláudio Salles, do Instituto Acende Brasil, problemas como esse mostram que o corte na conta de luz anunciado pelo governo pode não ser tão simples. (Do site Rondoniadinamica.com)