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Operação Diáspora desmantela PCC no Acre

RevistaTrinta e nove mandados de busca, apreensão e de prisão foram executados ontem para desarticular a atuação do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Acre. Em três meses de investigação e 2.160 horas de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, o serviço de inteligência da Polícia Civil identificou todo esquema de trabalho do grupo criminoso.
No Acre, o líder do PCC, Tiago da Silva Gomes (conhecido como Mestre dos Magos ou Paciência) mantinha contato com outros dois presos em penitenciárias localizadas no interior de São Paulo e no Mato Grosso. As ordens eram emitidas a partir dos presídios.

Dos 39 presos, apenas cinco estavam livres. Os demais ou já cumpriam pena ou foram presos recentemente. O Ministério da Justiça já autorizou a transferência dos seis presos mais perigosos. Eles saem hoje de Rio Branco.

“Para os integrantes do PCC, ser preso, às vezes, é até um prêmio porque significa uma progressão dentro da própria organização criminosa”, explica o secretário de Estado de Polícia Civil, Emylson Farias.

Um dos reflexos da atuação do grupo no Acre é um aumento de apreensão de maconha nos últimos anos. Só em 2012, foram apreendidas 1,5 toneladas de maconha contabilizadas pela Delegacia de Repressão a Entorpecente no Acre. Esse material era adquirido pelo grupo ao preço de R$ 600 o quilo no Centro-Oeste e Sudeste e era vendido no Acre a R$ 1,2 mil o quilo.
O bloqueador de celulares utilizado nos complexos penitenciários não funcionou em nenhum momento. “Isso aqui, ó”, disse o delegado Alcino Júnior erguendo um aparelho celular, “é uma metralhadora nas mãos do PCC dentro de uma penitenciária”.

“Aqui, eu faço um mea culpa”, reconheceu o presidente do Iapen, Dirceu Augusto da Silva, durante entrevista coletiva. “O Iapen falhou”.

Metralhadora
“Na primeira semana de novembro do ano passado, tínhamos 18 membros mapeados”, lembra o delegado Alcino Ferreira Júnior, um dos coordenadores da operação. “Na terceira semana de janeiro, nós já estávamos com 39, justamente os que foram presos agora”.

O grupo tinha ramificações pelo interior do Estado. Foram presas pessoas do PCC em Brasiléia e Cruzeiro do Sul. “O olhar tem que ser contínuo e a batalha tem que ser diária”, ressaltou o secretário Emylson Farias, sugerindo que outras investigações devem ser formuladas para evitar a atuação do PCC no Acre.

“O investimento em segurança pública é muito aquém do que é necessário”, desabafa Alcino Júnior que passou por dificuldades para manter equipe trabalhando em tempo integral para executar a Operação Diáspora.

O secretário de Estado de Segurança Pública, Reni Graebner, adiantou que a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) deve investir R$ 38 milhões em infraestrutura de delegacias neste ano. O investimento é necessário porque há problemas com redução de gastos que só não comprometem a eficiência do trabalho em função de a equipe ainda se manter motivada.

RDD – Dos 39 detidos ontem, 31 vão ser presos pelo Regime Disciplinar Diferenciado. Isso significa que todos ficarão em celas únicas, separados dos demais. Tudo para evitar possibilidade de articulação.

Galeria Meta e Via Verde Shopping eram alvos do PCC – A Galeria Meta e o Via Verde Shopping seriam assaltados pelos integrantes do PCC em Rio Branco. O monitoramento feito pela Polícia Civil evitou a execução do crime no fim do ano passado.

A Polícia Militar foi acionada para reforçar o policiamento ostensivo na região central durante o período de vendas natalinas. A direção administrativa do Via Verde Shopping foi alertada pela polícia para que reforçasse o policiamento. Nenhuma ocorrência foi registrada.

A lanchonete Bob’s, localizada no Parque da Maternidade, foi assaltada por membros do PCC no dia 31 de dezembro do ano passado. A direção da empresa já havia sido alertada pela polícia para que “mudasse a rotina”. Mas, os ladrões conseguiram ser presos pela ação policial.

Três postos de combustíveis também seriam assaltados e teriam os cofres arrancados. A gerente de um dos postos teve o telefone celular monitorado pelo PCC e seria sequestrada para que o roubo pudesse ser executado.

São nesses assaltos que o grupo criminoso se capitaliza e consegue recursos para compra de armas, facilitada pela proximidade da fronteira com o Peru e Bolívia.

Assassinatos
Ao todo, foram 15 assaltos (de grande e médio porte) que o trabalho da Polícia Civil conseguiu neutralizar. Além disso, a investigação conseguiu evitar que três pessoas fossem assassinadas. Entre elas, uma policial civil. “O PCC iria matá-la especificamente pelo fato de ser policial civil”, pontuou o delegado Alcino Ferreira Júnior. O comando para execução das mortes partiu de dentro do presídio.

Apreensões de drogas quebram lógica de facção
A dinâmica do trabalho do PCC consiste em trazer maconha do Mato Grosso do Sul (sobretudo da região de Corumbá) e trocar por cocaína. Geralmente, a droga produzida nos Andes passa pelo controle do tráfico em Rio Branco e é revendida na região Sudeste.

Segundo o delegado Pedro Paulo Buzolin da Delegacia de Repressão a Entorpecentes, a maconha que vem do Sudeste “tem como destino os países do Peru e Bolívia. Parte da droga seria destinada a Lima e parte a La Paz devido à pavimentação da Estrada do Pacífico”.

Desde 2010, a Delegacia de Repressão a Entorpecente realiza monitoramentos constantes e identificou apreensões de drogas com relação direta à atuação do PCC no Acre. As pessoas presas foram transferidas para outros presídios federais, mas novamente a organização voltou a se instalar. “Isso mostra que o trabalho exige acompanhamento diário dessa organização”, alertou o delegado Buzolin.

PCC: batismo e “irmandade”
Durante o período de investigação, o PCC fez ao menos um ritual de batismo em Rio Branco. Em bairros da periferia, pessoas são escolhidas e selecionadas. Nos assaltos, prova-se a fidelidade. Os integrantes da organização tratam-se uns aos outros como membros de uma “irmandade”.

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