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Um jornal para pensadores novos

Algumas pessoas morrem carregando nas costas, acima e abaixo, o peso de um sonho que nunca realizou por falta de apoio ou mesmo por não ter coragem de encarar o desafio a que se propunha. Eu, por exemplo, tenho um sonho antigo. Estou atrás de quem queira apoiar uma ideia. Busco fazer e farei um jornal para gente de primeira idade, com uma linguagem descon-traída e compreensível a todos.

Tenho visto por aí muita gente que gesticula igual macaco, fala como se houvesse bebido água de chocalho e planeja como um bêbado, mas não vai além desse primeiro passo. É claro que uma ideia só consegue ser boa a partir do momento em que sai da cabeça para o papel e daí para a execução. A nossa vida em grande parte compõe-se de sonhos. Aos fortes é apenas preciso ligá-los à ação.

Lembro o Nelson Mandela, líder negro da África do Sul. Ele diz mais ou menos que, se eu falo a um homem numa linguagem que ele compreende, a minha mensagem entra na cabeça dele. Mas se eu falo na sua própria linguagem, a minha mensagem entra-lhe diretamente no coração. Então, vamos falar a linguagem dos mais novos.

Esses rapazes e moças, alunos e alunas do ensino médio, espe-cialmente os do Colégio Estadual Barão do Rio Branco, precisam, desde ontem, arranjar um meio de dizer o que pensam e o que querem. E nós, os mais velhos, que compreendemos as suas inquietações e que sabemos como construir esse canal de expressão e comunicação, devemos dar asas aos sonhos destes cidadãos mais novos que têm muito a dizer…

E quem não quer ouvir? Eu sei!

Produzir um jornal em qualquer ambiente, principalmente na escola, é um extraordinário meio de promover o incentivo nas artes da leitura e da produção de textos, simples, inicialmente, é claro, mas que amadurecerão e tornar-se-ão bem superiores porque muitos são aqueles que observarão, em pouco tempo, que a melhor das armas para o enfrentamento do destino é o uso da palavra escrita, e bem escrita, no melhor dos casos.

Agora, vamos filosofar um pouquinho.

Uma época, na minha escola, em Xapuri, eu era um ser pensante bem jovem e escrevia versos mal acabados e textos sonolentos que pouca gente lia. Depois, melhorei um bocado. Dizem-me um bom escritor. Hoje, os meus novos pensadores são os alunos do ensino médio que escreverão sobre o que acham do seu tempo e da sua falta de oportunidades inclusive para falar a respeito de si próprio. Há uma chance, sim, de as pessoas mais humildes esquecerem as podres verdades dos grandes jornais e revistas. Adolescentes e gente de primeira idade devem começar a superar a mídia de massas e o controle social exercido por ela. A verdade deles é uma verdade falseada, enganosa  –  diria  –  sacana!

É preciso fazer ver a todos que a grande mídia dos jornalões está fazendo com que as fontes alternativas  –  como os jornais estudantis  –  se calem. E isso é ruim porque não se podem esconder dos mais humildes as verdades que hoje lhes chegam filtradas pelos que querem tudo para si e para os seus, inclusive, os empregos, os cargos e as facilidades geradas pela corrupção das mentalidades. Todos devem saber sobre tudo, indistintamente.

É preciso entender que a so-ciedade brasileira depende de um pequeno grupo de empresas (Veja, Globo, Folha de S.Paulo…) que mentem ao dizerem estar contando a história do nosso presente de cidadãos enganados. Mas esta é a hora de ver que eles podem ser controlados. Há a possibilidade de sermos todos nós comunicadores, de falarmos para o mundo  –  sem que ninguém se meta – dos nossos relatos, opiniões, inquietações e utopias. E isto é imensamente transformador, pois nos levará a mudar as nossas relações sociais onde tão poucos levam tanta vantagem quando mascaram notícias e nos enganam de forma ridícula.

Vejamos o que pensa o Professor Andrio Alves Gatinho, fera em pedagogia da Ufac:

“O conhecimento que estes alunos poderão adquirir no processo de reflexão produzido por um meio de comunicação livre vai mais longe do que as regras, fatos, procedimentos e teorias estabelecidas pelas disciplinas científicas. Bem que uma iniciativa como esta poderia ser incorporada ao currículo escolar, como tantos defendem as transformações e melhorias nas condições sociais dos educandos”.

Temos a necessidade de colocar no ar essa ideia de cultura livre, para que múltiplos talentos e artistas produzam e se tornem visíveis. São conhecidos muitos alunos do nosso ensino médio  –  especialmente os do Barão, a quem conheço mais de perto  –  que podem redigir uma crônica, compor uma poesia ou escrever uma peça teatral. Pensemos, então: o que tem impedido a manifestação de tanta habilidade?

Para os especialistas dos métodos, teríamos a anunciar que o projeto político-pedagógico  –  aqui denominado linha editorial  –  do Jornal do Barão passa por uma vertente teórica que dá prioridade à seleção da produção dos alunos. Trata-se de um veículo de comunicação institucional que levará informações, principalmente, para as famílias, procurando valorizar o trabalho da escola através da ação dos professores e demais partícipes. Eis, enfim, uma visão de educação integral que se sustenta no respeito aos talentos que buscamos e haveremos de encontrar. Aqui, neste Estado, muitos já falaram, mas poucos foram os que realmente fizeram.

A proposta é boa, certamente. E nada justifica melhor a conveniência deste projeto que a possibilidade de abrirmos novos horizontes através da produção de textos e da boa leitura.
A mesa voadora, livro de crônicas satíricas do Luís Fernando Veríssimo, o grande humorista, é melhor que livro nenhum. Vejamos um lance genial do velhote:

Para os adolescentes normais brasileiros, melhor do que tudo, melhor até do que fazer xixi na piscina, quando menino, é passe de calcanhar que dá certo. (…) Mais tarde, quando adultos, a gente se sente na obrigação de achar que bom mesmo é mulher, mas no fundo ainda acha que bom mesmo é acordar com febre e não precisar ir à aula.

Muitos já ouviram falar ou leram os textos transados das Garotas que dizem ni. Por isto, é bom ser jovem e escrever como elas escrevem. Veja bem:

Por que os pares de sapatos, mesmo quando guardados cuidadosamente juntos, separam-se sozinhos dentro dos armários como que por magia? Será que eles ganham vida quando ninguém está olhando?

As leituras agradavelmente sugestivas existem, sim, abrem horizontes novos para o pensamento e poucos são os que já se deram conta disto, especialmente os que vivem de dar aulas.
Sim! É hora de fazermos a grande revolução que tem base nas nossas verdades de gente tornada pequena pelos que não nos querem botando a boca no trombone.
Vinde! Vamos juntos tornar rea-lidade este sonho. Há vagas para todos porque todas as opiniões deverão ser levadas em consideração, principalmente a sua.

* Escritor. Diretor de RH / Ufac. Acesse o www.claudioxapuri.blog.uol.com.br – E sugira!

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