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Águas em margens de março

Olhar tão bela cheia encalho-me na face de um rio  que em rebojo corre aguando jardins bosques, matas e quintais. Há manto em margens, foi preciso esperar março trazer braços em abraços num tempo que marca.

O tudo que voa emoção pode até calar minha voz, asfixiando manifestos, e sentimentos findos, fincados por  raízes profundas  em margens sólidas da existência de um veio de Deus.

Talvez nem a leitura da homilia aprofunde o silêncio do santuário de um rio desatando laços épicos que unem ecologicamente afluentes de uma bacia hidrográfica.

Submeto-me chamá-lo de rio porque sou um regador de um lago raso e profundo confiando que os rios do meu pranto confortem meandros de emoção.

Agarrando-me na escora do sentimento que une a humanidade, encontro um rio abatido e solitário gritando ao infinito que incompreensão compreenda nossas distâncias e que nenhuma tormenta paire sobre nossas cabeças sem finalidade.

Um rio em curso busca unir dia, sonhos e sentimentos.

Subo margens num passo  de um compasso,  para não atalhar o rumo  da água amada. Remos embalam canoas, e os acasos, lembram nitidamente  casos de histórias calejadas grafada na mente do homem no tempo.

Rio Acre, a natureza de sua água, embora toldada, mas, tão amada,  corre suave sobre o curso da paz, igual um arco-íris a lhe iluminar.

Agasalhando calhas que se divide em margens, viaja harmoniosamente,  gotejando segredos de um passado que ainda vive  a lhe machucar.

De toda forma, quando o desespero me consome, ouço em alto e bom som, lá no íntimo, desespero por preservar as margens que em destino, o destino possa semear sorrisos no vale do sofrimento.

Deixe escorrer em seu cristalino caudal, gotas em pingos perenes, a fim de sustentar robustos pilares que possam libertar seres da sede de restabelecer  sonhos e aplausos.
Que a humanidade possa celebrar o nascimento  das águas, nas águas  de um santuário de aplausos, em palco de pureza se faça alimento universal que escoa livremente pelo olhar da consciência.

O vale embora cheio, encontra-se reflexivo,  quieto, despertando para enaltecer boas práticas e atitudes na busca da preservação das águas nascentes de um rio, que espera da pedagogia humana caminhos iluminados que feche ou remate, definitivamente a torneira da poluição.

* Claudemir Mesquita é professor e escritor, membro da Academia Acreana de Letras e presidente da Associação Amigos do Rio Acre.

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