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Que não fique apenas no discurso!

Não acompanhei a Operação Delivery in loco. Mas, ontem, 28, tive a oportunidade de estar na Aleac para acompanhar a Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga o tráfico de pessoas no Brasil e no exterior. A Comissão composta por 10 deputados federais provocou uma movimentação atípica no salão azul da Assembleia. Estava marcada para às 9h e começou às 10h30. Normal, acontece.

Mas o que me traz aqui é como são conduzidas essas audiências públicas. Aliás, não tão públicas, pois os personagens sempre são pessoas que ocupam cargos públicos e de primeiro escalão. A sociedade civil é uma minoria nessas audiências. O discurso sempre muito institucional, presos a agradecimentos e elogios. Parece mais uma reunião de prestações de contas. “Eu fiz isso, eu fiz aquilo…”. Fica sempre aquele vazio, uma lacuna. Parece que nada se resolve.

Tinha parlamentar que, cá pra nós, dizia “isso não vai dar em nada”. O foco da vinda da Comissão que era apurar casos de tráfico de pessoas e tratar também das questões ligadas a brasileiros na Bolívia, presos em Villa Busch, já que tinha representantes da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, e foi bem divulgado na imprensa essas agendas, ficou resumida a Operação Delivery, que na minha opinião, foi mais uma exposição às pessoas acusadas. Não quero aqui defender criminosos, não é minha intenção, mas até que saia a sentença, são apenas acusados e já estão à disposição da Justiça. Também não podemos criticar o trabalho da imprensa, é o nosso trabalho mostrar os fatos.  E olha que um trabalho árduo e de muita responsabilidade, pois trabalhamos com vidas.

O relato dos depoentes acusados de estarem envolvidos na Delivery, principalmente, de Adriano Linhares foi bem comovente, transparência uma verdade em seus argumentos. Parecia que mesmo pertencendo a um grupo criminoso, segundo os autos do processo, não estaria ali se a vida lhe tivesse reservado outro caminho. É simples criticar quando estamos na mal. O que quero dizer é que essas pessoas envolvidas não serão mais as mesmas, mesmo sendo declaradas inocentes. Também aqui quero destacar a postura firme do deputado estadual Walter Prado (PEN), sendo ele o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Aleac, em cobrar das autoridades locais um espaço reservado para o acusado Adriano Linhares e proteção de vida para os demais. Adriano relatou que foi abusado sexualmente dentro do presídio.

É preciso que esses fatos sejam tratados com total transparência. Faz-se necessário que os verdadeiros culpados sejam julgados, mas que haja um tratamento justo e digno para que o indivíduo pague pelos seus crimes, senão nos tornaremos uma Villa Busch. Que não fique apenas no discurso.

JOSÉ PINHEIRO é  jornalista.
jsp30acre@gmail.com

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