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Extremismo: religioso e político

As explosões ocorridas, na última segunda-feira, na Boylston Street, perto da linha de chegada da Maratona de Boston, além dum “evidente ato de terror” deixa claro que o extremismo religioso continua com sua visão totalitária da vida. O totalitarismo, seja de origem religiosa ou política, segundo sociólogos e cientistas políticos, é a crença de um conjunto limitado de ideias que pretende permear toda a sociedade, com o objetivo de destruir as ideias que se opõem a ele. Esse absolutismo religioso consiste na “subordinação” do Estado à religião, de modo que seu lema é nesse campo: “Aos religiosos não se dê nenhuma lei.” Paralelamente, os tempos contemporâneos se deparam com outra forma de extremismo, para alguns, bem mais sinistra. É o extremismo político, que embora não sendo uma novidade do ponto de vista doutrinal, trabalha pela abolição dos limites humanos, traz em seu bojo uma verdadeira exaltação ou divinização de pontos de vista políticos e de indivíduos que os encarnam.

Extremismo político e religioso é a prática de ver o mundo em preto e branco, de rejeitar de modo ativo todos os sistemas concorrentes sociais e de crenças. Essa é a marca singular desse sistema pernicioso. Quem não lembra, os ataques covardes desferidos pela Al Queda, em 2001 contra os EUA, notadamente o ataque de 11 de setembro. E depois os dias tenebrosos que se seguiram aos terríveis acontecimentos em Nova York.

Na verdade, os ataques da AL Queda, não foram os únicos a atingir pessoas inocentes nos últimos anos. Estatísticas apontam que ataques iguais ao 11 de setembro e o desta semana na Maratona de Boston, tem muito em comum com a violência oriunda do extremismo religioso. Sabe-se que no Oriente Médio, grupos muçulmanos e judeus praticam a violência em nome da religião. Nos Estados Unidos, existem grupos aparentemente obscuros, sem local específico, caso do chamado grupos da Identidade Cristã, uma coalizão de grupos dissidentes cristãos, que defendem, mas alegam não coordenar, campanhas nacionais de violência contra alvos como: negros, homossexuais e judeus. A internet é o principal meio de recrutamento e treinamento dos “lobos solitários” que adotam os princípios abraçados por proeminentes figuras da identidade Cristã. Ressalte-se que Eric Robert Rudolph, um jovem norte-americano que colocou, em dias idos, uma bomba no Estádio Olímpico em Atlanta, e que agiu motivado pelo ódio aos defensores do aborto e dos direitos dos homossexuais, pode ter sido um membro desse movimento.

Situações menos drásticas, mas eivadas de extremismo, são detectadas em grupos ditos “evangélicos” que agem não raramente, fazendo uso de violência verbal, para alcançar ao longo das linhas religiosas, objetivos políticos. Um caso típico dessa linha é o discurso extremista do deputado federal Marco Feli-ciano. Em verdade, fica aqui uma observação pertinente: Os sinceros e fiéis evangélicos, deste país, não são coniventes com o que este deputado verborreia diariamente, fala excessiva sem dizer nada com nada. Os atos de ódio e violência verbal são da inteira responsabilidade deste intolerante, e não dos que professam sua expressão de fé no Senhor Jesus Cristo. 

Na realidade, a intransigência religiosa, assim como o extremismo político, está a piorar os variados problemas sociais e políticos que alegam combater. Contradizem os ensinos de seus fundadores, exemplo de Maomé que pregava, entre outras virtudes, “não oprimir o estrangeiro que peregrina na vossa terra e amá-los como a vós mesmos”. O extremismo religioso, da presente hora, seja em nome do Islã ou do cristianismo, vai além do zelo excessivo pela crença, mostra-se irracional, caracteriza-se pela ausência de autocrítica, é arrogante e estribado numa mentalidade imatura. A história das religiões está repleta de casos de intransigência, que são uma desgraça para a humanidade. Desde a inquisição, passando pelas guerras religiosas da Europa do século XVII e dos tempos modernos, com os maus exemplos dados pelo Irã e seus xiiitas e pela Irlanda, com seus intolerantes protestantes e católicos romanos, fica demonstrado que esse extremismo religioso nunca descansa. Por que não descansa? Porque, à luz do entendimento de vários pesquisadores, não existem respostas fácil ao desafio do fanatismo religioso e da violência religiosa. Sobretudo, porque as suas motivações são de fins políticos.

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