Avaliar a arborização de um parque, rua ou praça é importante para verificar se o papel desempenhado pelas árvores cultivadas no local é benéfico para os usuários do espaço público. Ocorre que muitas vezes uma arborização malfeita faz com que as árvores desempenhem um papel meramente estético ou, em alguns casos, causem prejuízos paras os usuários ou moradores do entorno. Os resultados dessas situações todos sabem: a derrubada ilegal de árvores em espaços públicos, especialmente naqueles lugares onde as calçadas são muito estreitas. Em Rio Branco isso não é incomum é decorre do fato da cidade ter crescido sem planejamento urbano adequado que privilegiasse simultaneamente árvores e pedestres.
O Parque da Maternidade, inaugurado em 2002, é um parque urbano linear que se estende por cerca de 4,5 km de extensão na região central da cidade de Rio Branco. Originalmente pensados para uso recreativo, os parques lineares podem ser utilizados para ir ao trabalho, à escola e às compras, contribuem para a valorização dos imóveis do seu entorno, além de contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população. A implantação do Parque da Maternidade em Rio Branco decorreu da carência de áreas verdes na cidade e de certa forma o espaço que ele disponibilizou para o plantio de árvores serviu para compensar a falta das mesmas em outras áreas públicas da Capital.
Passados mais de 10 anos da sua inauguração, o Parque da Maternidade se constitui na área verde mais frequentada da cidade e, por toda a sua extensão, foram plantadas centenas de árvores que já atingiram o estágio adulto. Dada a sua importância, é relevante avaliar a qualidade da arborização realizada no parque e verificar se o mesmo se constitui em um referencial para futuras arborizações ou se ainda apresenta falhas que precisam ser corrigidas.
Toda a área correspondente ao parque foi avaliada, portanto, todas as árvores cultivadas no seu interior foram analisadas. Apenas indivíduos arbóreos com mais de 5 m de altura total foram avaliados. As palmeiras também foram incluídas na avaliação. Não foram ava-liados arbustos, bambus e ervas.
Foram encontradas 1.950 árvores por todo o parque. Destas, 69,4% estão posicionadas em lugares que em algum momento do dia geram sombra para pessoas que caminham nas calçadas ou ciclistas na ciclovia. As áreas de lazer do parque estavam sombreadas por 12,1% das árvores cultivadas. Algumas árvores (11,1% do total) foram plantadas com a intenção de sombrear edificações instaladas no interior do parque que abrigam repartições públicas. Um número muito reduzido de árvores (1,3%) proporcionava sombra para lanchonete e restaurantes instalados no parque.
Árvores plantadas em lugares conflitantes com a fiação aérea se constituíam em 3,8% do total avaliado. Apesar de essa situação ser um problema típico de arborização de ruas, no parque ela só existe porque não houve iniciativa do poder público de mudar a posição da fiação ou não foram realizados plan-tios de espécies arbustivas. Árvores impedindo a iluminação de postes existentes no interior do parque representam 6% do total. Na maioria dos casos os problemas decorreram da não observância, por ocasião do plantio, de distância adequada para os postes. A solução, em alguns casos, vai requerer o corte das árvores ou transferência dos postes.
Apenas 2,8% das árvores estão causando problemas como rachaduras ou elevações em calçadas, asfalto ou outras estruturas. Na maioria dos casos, houve equívoco na escolha do tipo de árvore e na forma de plantio.
A ocorrência de hemiparasitas, ou seja, plantas que habitam outras plantas e sugam sua seiva bruta levando estas a uma eventual morte, foi verificada em 5,6% das árvores avaliadas, que estavam com a copa visivelmente infestada pela Erva-de-Passarinho. Apesar desse problema, no geral as árvores apresentam boas condições fitossanitárias. Uma quantidade inex-pressiva (0,2%) apresentava a copa danificada. Da mesma forma, apenas 0,9% dos troncos das árvores apresentavam algum tipo de dano. Outra quantidade insignificante (0,3%) encontrava-se demasiadamente inclinada, indicando que deverá ser substituída no futuro.
A depredação ou vandalismo de árvores não é muito elevada e atinge apenas 7,8% das árvores do parque. Este é um parâmetro importante no que diz respeito à educação ambiental dos cidadãos. Foi encontrado um grande número de árvores com frases entalhadas em seus troncos ou com marcas causadas por objetos cortantes. A maior parte em locais que às tornam vulneráveis a esses ataques, como, por exemplo, o entorno de calçadas ou áreas de lazer.
Com base nos resultados obtidos verificou-se que o principal serviço ambiental fornecido pelas árvores do parque é o fornecimento de sombras para os usuários de calçadas e ciclovias, quintais de imóveis adjacentes ao parque e áreas de lazer como os play-grounds. O estado fitossanitário das árvores se mostrou bom, com poucas árvores com a copa ou fuste danificado, no entanto deve-se ficar atento à presença de hemiparasitas, que foi o parâmetro fitossanitário mais expressivo. Percebe-se também que em certos casos não houve atenção na escolha de espécies de árvores plantadas, já que foi encontrado um número significativo de árvores com raízes estavam destruindo calçadas ou causando rachaduras em outras estruturas. Nesta situação também encontram-se várias árvores que apresentam ou apresentarão no futuro conflito com a fiação aérea existente no parque. Outra situação que deve ser observada no futuro é a manutenção de espaçamento adequado entre postes de iluminação e as árvores para evitar que as copas dos indivíduos adultos prejudiquem a iluminação do parque.
Foi perceptível também a falta de educação ambiental por parte de um número relativamente grande de usuários do parque visto que numerosas árvores sofreram atos de vandalismo, especialmente nas proximidades de calçadas e áreas de lazer. Programas de conscientização desenvolvidos nestes lugares seguramente contribuirão para a diminuição do problema.
De uma maneira geral a arborização do Parque da Maternidade encontra-se em bom estado. Isso é resultado de investimentos em replantios, podas e outras práticas de manutenção levadas a cabo pela equipe responsável pelo mesmo. O custo dessa manutenção é muito elevado em razão da extensão e estrutura do parque. É importante ressaltar que a administração do mesmo é feita pelo Governo do Estado e não pela Prefeitura da cidade. Uma situação pouco usual que tem produzido bons resultados em razão da coincidência dos administradores estaduais e municipais pertencerem a uma mesma corrente política.
*Evandro Ferreira é engenheiro agrônomo e pesquisador do INPA/Parque Zoobotânico da UFAC.
**Davi Sopchaki é engenheiro florestal e pós-graduando em Ciências Florestais no INPA/AM.