“A estupidez é infinitamente mais fascinante do que a inteligência. A inteligência tem seus limites, a estupidez não”. A frase é do cineasta francês Claude Chabrol e ilustra bem o recrudescimento do fundamentalismo religioso e do preconceito contras as minorias hoje em dia. As angústias humanas sempre levaram muitos a enxergar quão importante é Deus na vida delas.
Isso é maravilhoso, porque o sobrenatural conforta muito mais as pessoas diante da desesperança do mundo. São incontáveis as curas por meio da fé, sejam em templos religiosos, sejam em quaisquer outros locais. Mas acredito que há perigo no fanatismo.
É inegável o que autoridades religio-sas fazem para um mundo melhor, como por exemplo, as obras de caridade e de recuperação a dependentes químicos. São esforços para diminuir alguns flagelos humanos, mas ainda assim, a individualidade não pode ser relegada a um segundo plano em detrimento de uma denominação católica, muçulmana, hindu, judaica, xintoísta, budista, daimista, e quantas mais você ouviu falar.
O novo papa Francisco, por exemplo, sinaliza para a tendência de uma igreja mais popular, inserida no contexto da periferia das cidades. Porém, ressalte-se que nem o papa, nem os bispos, nem os padres, nem os apóstolos, nem os pastores ou diáconos, ou quem quer mais que seja, podem interferir no que é de mais sagrado ao ser humano: a liberdade de pensamento.
O que ultimamente faz o deputado-pastor Marco Feliciano (PSC/SP), titular da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, ao declarar no Twitter o seu ódio contra homossexuais, a meu ver, é o mesmo tipo de comportamento de um vizinho ao ver-me comprando meia dúzia de cervejas num boteco do bairro. Ao cumprimentá-lo, ele simplesmente me ignorou, como se as latinhas na sacola fossem libertar um diabo a cada golada depois.
Felizmente, se não há tolerância de um lado, da outra parte – a minha parte -, ela sobra: um casal de pastores passou cerca de dois meses tentando me convencer a se converter ao Evangelho. Numa certa noite, os dois chegaram a minha casa e descobriram que o meu carro tinha sido arrombado em frente de uma pizzaria, e do veículo levaram algumas coisas. A primeira reação do pastor foi dizer: “rapaz, o diabo tá tirando as coisas de ti hein!”.
Respondi: “pastor, certamente, isso foi mesmo obra de um diabo, mas talvez um pobre diabo viciado em drogas que ronda por aí, vítima da miséria”.
Afinal, qual é o limite da tolice? Não sabemos ao certo enquanto houver alguém disposto a defender as suas ideias como se fossem as últimas. Para eliminar egocentrismos, no entanto, lembremos Dalai Lama quando respondeu sobre qual seria a melhor religião. “A melhor é aquela que mais te aproxima de Deus”.
Resley Saab é jornalista.
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